
O crescimento do número de evangélicos perdeu ritmo no Brasil. Com isso, o país segue com maioria de católicos, mas esse grupo teve queda de quase dez pontos percentuais em 12 anos. As informações são do Censo Demográfico 2022 e foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira. Os dados mostram ainda que neste período cresceram adeptos da umbanda e do candomblé; pessoas sem religião; e outros segmentos religiosos (judaísmo, islamismo, budismo, etc).
Em 2022, os evangélicos registraram sua menor taxa de evolução desde 2000. O avanço neste ano foi de 5,3 pontos percentuais. Nas duas edições anteriores do Censo essa taxa foi maior do que 6. Ainda assim, este é o segmento religioso que mais vem ganhando adeptos no país e praticamente triplicou em 30 anos. Em 1991, 9% da população brasileira afirmou fazer parte de alguma vertente evangélica. Agora, são 26,9%.
De acordo com Maria Goreth Santos, analista responsável pelo tema no IBGE, os evangélicos têm atraído novos fiéis estando mais presentes em diferentes esferas públicas e também flexibilizando alguns paradigmas.
— Antes havia a defesa de valores morais e éticos muito acirrados, com a ideia de que a pessoa não podia se identificar com os valores mundanos. E isso tem mudado bastante. Agora há um foco maior na teologia da prosperidade, a crença de que não há problema em alcançar a prosperidade. Isso flexibiliza esse comportamento mais moralista e atrai mais pessoas — avalia.
No Brasil, há 244 municípios com predomínio de evangélicos — ou seja, em que este é o maior grupo religioso na cidade. Destas, 58 já têm maioria (mais da metade da população) que se identifica com alguma vertente religiosa desse tipo. Além do avanço de novas denominações em centros urbanos, o Brasil ainda têm muitas cidades com predomínio evangélico herdado da colonização alemã.
Católicos perdem força
Já os católicos mantiveram a trajetória de queda que vem se acentuando desde 1980, quando 89% da população afirmou que professava essa fé. Em 2022, a proporção caiu para 56,7%, o que corresponde a 8,4 pontos percentuais a menos que 12 anos atrás.
Apesar disso, o país ainda tem predomínio de católicos em 5,3 mil dos 5,5 mil municípios brasileiros. Em 4,8 mil dessas cidades também há maioria de fiéis dessa religião — ou seja, mais da metade das pessoas se declarou católica.
Além disso, 20 municípios possuem ainda mais de 95% da população fiel ao Papa — um patamar que o Brasil deixou de ter no Censo de 1940. Nessa lista, estão 14 cidades do Rio Grande do Sul, como Montauri (RS), Centenário (RS), União da Serra (RS), Vespasiano Corrêa (RS). Em geral, elas são marcadas pela colonização italiana ou polonesa.
Sem religião
A categoria de pessoas sem religião no Brasil chegou a 9,3% da população, um aumento de 1,3 ponto percentual em relação ao último Censo, atrás apenas de católicos e evangélicos. São ateus, agnósticos e pessoas que não professam qualquer crença.
Composta majoritariamente por homens (56,2%), essa parcela da população é predominante na faixa etária de 20 a 24 anos, que representa 14,3% dos não religiosos. No Chuí (RS), 37,8% da população se definiu sem religião. A cidade é a única do país onde esse grupo prevalece entre todos os outros. Ela faz fronteira com o Uruguai, país com o maior percentual de pessoas sem filiação religiosa na América Latina.
Umbanda e candomblé
O Censo 2022 também registrou que o número de adeptos de religiões afro-brasileiras, como umbanda e candomblé, triplicou em dez anos. A proporção desse grupo subiu de 0,3%, em 2010, para 1% da população naquele ano.
De acordo com o Censo, o Rio Grande do Sul é o estado com maior população adepta a essas religiões, com 3,2% de pessoas se declaram de umbanda, do candomblé ou de outras tradições afro-brasileiras. Esse número é bem maior do que em estados com predominância de pessoas pretas ou pardas, como a Bahia e o Rio de Janeiro, que possuem 1% e 2,5%, respectivamente.
Além de mais pessoas, houve também uma interiorização dessas religiões. Em 2010, 3,9 mil cidades do país não registravam nenhum adepto da umbanda do candomblé. Já em 2022, esse número caiu para 1,8 mil, menos da metade do patamar de 12 anos antes.
Especialistas do IBGE apontam que o crescimento no número de adeptos pode estar relacionado ao movimento contra a intolerância religiosa, o que tornaria as pessoas mais abertas a se declararem adeptas a essa forma de religiosidade. A valorização da cultura candomblecista por artistas e influenciadores também pode ter impactado o resultado, segundo eles.
— A exposição dessas pessoas, se colocando como umbandistas e candomblecistas, tem a ver com o poder que essas religiões vêm ganhando. É preciso uma análise qualitativa, mas pode haver uma migração de pessoas que antes se declaravam espíritas, por medo ou vergonha de se afirmarem adeptas de religiões de matrizes africadas, e que agora se identificaram dessa forma no Censo — afirmou Maria Goreth Santos, analista do IBGE responsável pelo tema.
Já Bruno Mandelli Perez, também analista do IBGE, ressalta que é possível que muitos praticantes da umbanda e do candomblé tenham sido, no passado, classificados como espíritas ou até católicos.
— A maioria das religiões afro-brasileiras era identificada como espírita ou até católica. A queda no número de espíritas e o crescimento do candomblé sugerem uma identificação mais clara por parte dessas pessoas. Ainda assim, o crescimento das religiões afro-brasileiras é superior à queda do espiritismo e não explica sozinho o aumento. Pesquisadores ainda vão analisar esses dados em profundidade — explicou.
Entenda a pesquisa
O IBGE traçou o perfil religioso da população a partir de uma amostra de residente no país com perguntas como “Qual a sua religião ou culto?”, destinadas a pessoas com 10 anos ou mais, e “Qual a sua crença, ritual indígena ou religião?”, aplicadas apenas em terras e setores censitários indígenas. Depois disso, os dados são agrupados por grandes grupos: Católico Apostólico Romano; evangélicas; umbanda e candomblé; espírita; não tenho religião; e outros. Foram ouvidos 10% das residências do país, algo em torno de 7,8 milhões de lares.
Em 2010, os técnicos conseguiram desagregar os dados para identificar nuances nesse cenário, como as vertentes de cada igreja evangélica ou a diferença entre ateus e agnósticos. De acordo com Luiz Felipe Barros, analista do IBGE, afirmou que o instituto está com dificuldades técnicas para fazer esse trabalho novamente.
— Todos os tratamentos que fizemos até agora nos dão a segurança de divulgar esses dados agregado. Mas os detalhes ainda estão em etapa de tratamento. A gente, sim, está enfrentando alguma dificuldade para desagregar esses dados. Então, ainda não temos uma posição fechada sobre quais grupos a gente conseguir desagregar no futuro — afirmou Barros.
Fonte: O Globo
Fonte: Diário Do Brasil