Por Sy Boles,
Redator da equipe
de Harvard

Este texto faz parte de uma série de perguntas aleatórias respondidas por especialistas de Harvard, a Série Wondering. Confira!

Jeffrey L. Page é diretor de ópera e teatro, atuando tanto em obras clássicas quanto contemporâneas, e professor do programa de Teatro, Dança e Mídia de Harvard. Ele foi codiretor da remontagem do musical “1776” e ganhou um MTV Video Music Award por seu trabalho com Beyoncé.

Todos nós queremos ser vistos. Ralph Ellison escreveu um livro, “O Homem Invisível”, que era essencialmente sobre pessoas negras. Ao longo da minha vida, muitas vezes, se eu já não sou invisível, preciso me tornar invisível para não interromper um processo ou causar problemas. Preciso me tornar invisível para me adequar às políticas de respeitabilidade. 

Mas a dança é justamente sobre ser visto. Como a narrativa que eu projeto no espaço, com o meu corpo, pode ser lida como um livro? Acredito que a dança pode fazer isso. Dance como se todos estivéssemos assistindo. O que você quer que vejamos?

É como se eu estivesse acessando um reservatório de informações que estava trancado a sete chaves. Imagine que você está escrevendo uma redação. Você está trabalhando nessa frase por talvez oito horas. Você está tentando juntar as palavras. No momento em que você encontra essa frase, é como se dissesse: ‘Sim, é isso. Essa é a frase. Esse é o parágrafo. Essa é a história.’ 

É essa a sensação de passar de um corpo inativo para um corpo que dança. É catártico. É como se eu estivesse acessando um reservatório de informações que estava trancado a sete chaves.

APENAS DANCE!

No Mali, na África Ocidental, existe uma prática conhecida como djine foly. Tenho certeza de que as pessoas já ouviram falar de djinn, os guias místicos ou espirituais islâmicos; também os conhecemos como gênios. 

Esses djinn também existem na cultura maliana. Djine foly significa o espaço de dança do djinn. Os dançarinos entram em um estado de transe. Quando atingem esse estado, sentem-se felizes. Uma explosão de emoções os invade.

Na comunidade negra, chamamos isso de “capturar o Espírito Santo”. É algo espiritual. A maneira como dançamos sem pudor, com abandono e intenção, é um fenômeno espiritual.

Os alunos que frequentam minhas aulas gostam porque eu grito, eu berro e os ajudo a se livrar de toda a tensão que está acumulada em seus ombros e cabeças. Às vezes, você só precisa gritar para se livrar do peso e relaxar! Ninguém se importa se você está com boa aparência! Apenas dance!

Às vezes, nossa mente lógica é tão rígida e inflexível que, meu bem, basta um grito para que ela se liberte, para que eu possa entrar em transe e alcançar meu djinn.

Relatado a Sy Boles, 

   redatora da equipe 

   de Harvard 

Fonte: Tha Harvard Gazette

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Como dançar como se alguém estivesse assistindo. Coreógrafa dá dicas. “Às vezes, você só precisa gritar para se livrar do peso e relaxar! Ninguém se importa se você está com boa aparência! Apenas dance!”