Não vivemos mais o tempo em que carreiras inteiras eram desenvolvidas numa só empresa. Na chamada gig economy, profissionais prestam serviços a uma infinidade de negócios, interagem com várias áreas de atuação e constroem seus currículos de forma vasta e multifacetada. Isso representa um desafio para quem está na gestão das empresas. Afinal, como reter talentos na época da disrupção?
A gig economy se trata de uma forma de trabalho baseada em pessoas que têm empregos temporários ou fazem atividades de trabalho freelancer, pagas separadamente, em vez de trabalhar para um empregador fixo. É uma das muitas mudanças que a tecnologia implicou no mundo do trabalho. No caso dos profissionais em tecnologia, o que se vê é uma grande dificuldade em retê-los. As inúmeras oportunidades no mercado de trabalho para a área tornam dificultosa a tarefa de manter de forma coesa um time de trabalhadores do tipo para as empresas brasileiras.
“É uma questão que viemos enfrentando há algum tempo. Para montar um time de desenvolvedores para fortalecer o e-commerce, por exemplo, há dificuldades em contratar pessoas porque, afinal, há muitas outras empresas interessadas neles, algumas das quais que chegam a pagar em dólar, e em muitos momentos é mais vantajoso para eles se envolverem com vários negócios ao mesmo tempo”, afirma o diretor de tecnologia da Haytek Lentes, Raphael Ferreira.
Na plataforma Workana, por exemplo, que conecta prestadores(as) de serviços autônomos(as) a contratantes, o número de pessoas oferecendo trabalho avulso aumentou sua base em 15% durante a pandemia, que viu crescer a demanda por serviços de freelancers. São 3,2 milhões de profissionais especializados em diversas áreas só neste site.
O diretor ressalta que, por outro lado, há formas de reter tais profissionais, mas é necessário que haja diálogo e comprometimento por parte dos gestores e das gestoras. Abraçar a flexibilidade, valorizar novos modelos de trabalho e estabelecer uma cultura organizacional interessante são algumas as formas as quais podemos lançar mão para manter talentos na era da gig economy.
Produtividade > horas de trabalho
Abraçar a flexibilidade que acompanha os novos tempos é essencial para o estabelecimento de uma relação saudável com estes trabalhadores e trabalhadoras. Uma das vantagens da gig economy sobre o modelo regular de trabalho é a maior autonomia nas funções, o que possibilita que a produtividade seja mais importante do que o número de horas trabalhadas.
Com um controle maior do próprio tempo nas mãos dos funcionários e funcionárias, as pessoas possuem mais tempo para si mesmas, aumentando significativamente seu bem estar e felicidade. No diálogo com elas, é importante deixar claro que não estamos falando de um regime que prioriza horas estritas de atuação, mas sim entregas e feedback constante.
Valorização do home office e do modelo híbrido de trabalho
Embora muitas empresas tenham aderido ao home office durante a pandemia (ao menos 11% dos trabalhadores(as) brasileiros(as) trabalharam de casa no período de isolamento, segundo a Pnad Covid-19, de 2020), muitos gestores e gestoras têm pressionado para a volta aos escritórios. Há questões envolvendo o mercado imobiliário, os aluguéis de espaços comerciais e mesmo o apego ao trabalho tradicional envolvidas.
No entanto, este desejo desconsidera uma urgência que foi evidenciada na pandemia: trabalhar de casa implica em mais autonomia, liberdade e conforto para vários trabalhadores e trabalhadoras, que não querem mais perder tempo no transporte público, acordar muito mais cedo do que precisam ou mesmo preparar marmitas com antecedência. De acordo com um levantamento publicado em setembro pela Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP), 78% dos brasileiros e brasileiras que trabalham de casa apreciam este modelo e gostariam de continuar assim.
Por outro lado, o home office tem problemas, como a dificuldade em criar conexões profundas, promover reuniões espontâneas e estabelecer uma cultura organizacional, mas acredito que há formas de contornar estas dificuldades. O modelo híbrido de trabalho é uma delas, em que as pessoas ocupam os escritórios em dias estratégicos. É fundamental voltar a tratar dos assuntos com os(as) colegas cara a cara, mas sem abrir mão das praticidades que foram conquistadas durante a crise sanitária.
Cultura organizacional forte
Parece contraditório falar em cultura organizacional forte em plena era da gig economy, que prevê maior fluidez entre os trabalhos, mas acredito que este ingrediente nunca foi tão importante para reter talentos. As pessoas trabalham pelo salário, é claro, mas também por se sentirem parte de algo maior e pela necessidade natural de tecer conexões com outras pessoas. Uma cultura organizacional forte implica em, além de ter claros os valores e missões da empresa, criar uma rede de acolhimento que consiga abranger todo o corpo de funcionários e funcionárias de um empreendimento.
No mundo da tecnologia, por exemplo, acredito que se fazem necessários grupos e rodas de conversa rotineiras que envolvam pessoas negras e/ou mulheres, que costumam ser minorias nesta enseada. Elaborar projetos que engajem com urgências destes(as) profissionais, abordando suas dificuldades e demandas, que se tratam de questões históricas, é uma forma de dizer que as empresas estão ao lado destas pessoas e interessadas em vê-las crescer, atuando diretamente no seu desenvolvimento.
Acredito que estes são alguns argumentos que podem balizar estratégias para conquistar profissionais inseridos dentro das dinâmicas do trabalho avulso e sob demanda. Reter talentos na era da gig economy é certamente uma tarefa difícil, mas é também um desafio inevitável para gestores e gestoras que querem nutrir um diálogo positivo e promissor com esta nova categoria de profissionais.
Sobre a HTK Lentes Oftálmicas
Fundada em 2013, a Haytek atua no mercado de vendas B2B de lentes oftálmicas. O foco da empresa é a plataforma e-commerce, que atende todo o Brasil. Atualmente, a Haytek fornece para clientes em 1.200 municípios do país e recebe 2.000 pedidos por dia. A companhia foi listada nas duas listas anuais FT Americas como uma das empresas que mais cresceu nas Américas, em 2020 e 2021.