
Desde que o conceito de placas tectônicas virou parte da literatura científica nos anos 60, especialistas conhecem um fato curioso: que o movimento destas placas sobre a superfície da terra poderá causar uma separação no continente africano, um “rasgo” chamado Vale da Fenda que, daqui a alguns milhões de anos, irá partir do mar vermelho e ir até o Oceano Índico, descolando o chifre no leste do continente do resto da massa terrestre da África. O fenômeno é mais intenso no norte da Etiópia, lar de uma fenda tectônica que se expande meio centímetro ao ano.
Novas pesquisas, no entanto, sugerem um conjunto de falhas geológicas que podem não só cortar o continente até o sul de Moçambique, mas até mesmo transformar a África em um arquipélago de ilhas. A imagem acima sugere uma divisão possível, mas estas novas pistas podem significar mais fraturas na região sudoeste do continente.
A formação destas depressões se dá de maneira diferente ao que acontece no encontro de grandes placas tectônicas, que podem se distanciar ou deslocarem uma sobre as outras a depender do movimento do magma no interior da Terra. Na África, o que vem acontecendo é o enfraquecimento de partes da crosta devido ao manto inferior, impulsionado em direção à superfície do planeta por movimento geológicos – pense em como a camada externa no alto de um bolo se rompe depois dele ter ido ao forno.
Esses vãos são naturalmente preenchidos pelas águas do oceano, criando uma nova dinâmica terrestre. O processo é similar ao que formou os continentes que conhecemos hoje após a separação da Pangeia cerca de 200 milhões de anos atrás.

Junto de outros especialistas, Folarin Kolawole, geologista estrutural do Lamont-Doherty Earth Observatory da Universidade de Columbia, encontrou pistas que podem provar a existência de rupturas que passam por Botsuana e vão até a África do Sul e, pelo leste, entram pela Namíbia até o Oceano Atlântico. “Tudo está se fragmentando devido a essas enormes forças”, diz em entrevista à revista Science publicada nesta quinta-feira (7).
Segundo a publicação, a parte mais frágil desse quebra cabeça na Etiópia deve se desgarrar antes, daqui cerca de um milhão de anos. Sinais de enfraquecimento ocorrem com mais intensidade no conjunto leste destas depressões do que no oeste, significando que partes da Somália, Quênia e Moçambique serão as primeiras a virarem ilhas. A ilha de Madagascar, ao leste da África, também deve se partir em dois no futuro.
Nada disso, portanto, é pra ontem. “Isso não vai acontecer imediatamente, é algo para daqui a milhões de anos”, disse em 2023 ao Jornal New York Times Edwin Dindi, doutor em geologia e professor do departamento de geologia da Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade de Nairóbi. O especialista aponta que levou cerca de 30 milhões de anos para o primeiro sinal de ruptura surgir no continente e agora é um fenômeno observado em mais de 3 mil quilômetros na África. Gq.globo
Fonte: Diário Brasil Noticias