Um estudo publicado na revista científica Alzheimer & Dementia: The Journal of the Alzheimer’s Association no último dia 23 traz à tona uma nova invenção: um dispositivo que é colocado na cabeça do usuário e pode detectar sinais da doença neurodegenerativa durante o sono.
Na prática, os pesquisadores envolvidos identificaram uma maneira de avaliar a atividade cerebral durante o sono que ocorre nos estágios iniciais da doença de Alzheimer, anos antes do desenvolvimento dos sintomas.
O biomarcador digital detecta padrões de ondas cerebrais relacionados à reativação da memória durante o sono, que fazem parte de um sistema que processa memórias durante o sono profundo. Através da técnica, os cientistas identificam uma relação entre as leituras e os níveis de alterações moleculares específicas indicativas da doença.
Segundos os pesquisadores, é como um rastreador de condicionamento físico para a saúde do cérebro. Para os experimentos, o grupo teve acesso a dados de 205 idosos e se concentrou em problemas mensuráveis com a reativação da memória em associação com níveis de proteínas como a amilóide e a tau, que se acumulam na doença de Alzheimer.
![Dispositivo detecta sinais de Alzheimer (Imagem: Pulver et al, 2023/The Journal of the Alzheimer's Association)](https://t.ctcdn.com.br/6GRqNp0bbyY5Sj8ASIJvKGf8eVE=/660x0/smart/i793067.png)
“Esses níveis anormais de proteínas estão relacionados com reativações da memória do sono, que poderíamos identificar nos padrões de ondas cerebrais das pessoas antes de apresentarem quaisquer sintomas. A identificação destes biomarcadores precoces para a doença de Alzheimer em adultos assintomáticos pode ajudar os pacientes a desenvolver estratégias preventivas”, afirma o grupo, em comunicado divulgado pela universidade.
Os pesquisadores defendem que é um grande passo para o uso de wearables como biomarcadores digitais para detecção de doenças. “É uma prova de que as ondas cerebrais durante o sono podem ser transformadas em um biomarcador digital, e os nossos próximos passos envolvem o aperfeiçoamento do processo”, concluem.
Sinais do Alzheimer
Em 2021, cientistas descobriram que o cérebro revela sinais do Alzheimer muito antes do diagnóstico. O estudo adotou um sistema de pontuações para o risco genético de uma pessoa de desenvolver a doença, e os pesquisadores descobriram que o risco genético estava associado a diferenças na estrutura do cérebro e no desempenho em testes de capacidade mental.
Já em julho deste ano, um artigo destacou que sintomas de Alzheimer precoce podem surgir a partir dos 30. Conforme dizem os pesquisadores, nos casos tradicionais da doença, o primeiro sintoma a ser experimentado pelo paciente é a perda de memória.
No entanto, as pessoas com Alzheimer de início jovem tendem a ter outros sintomas, como dificuldade de atenção, menor capacidade de gesticulação com as mãos, perda de consciência espacial e altos níveis de ansiedade.
Relação entre sono e Alzheimer
Um estudo de 2022 alertou que dormir várias vezes longo do dia pode aumentar risco de Alzheimer. O artigo sugere que quando esse hábito de tirar cochilos ao longo do dia aumenta a cada ano, pode ser um indício de progressão da doença. A descoberta ressalta a necessidade de se prestar mais atenção aos padrões de sono dos idosos, para monitorar a saúde.
Em paralelo, dormir mal pode contribuir para o surgimento do Alzheimer. Pacientes com a doença podem experimentar distúrbios do sono anos antes, e os especialistas sugerem bons hábito de sono como um método de prevenção.
Fonte: Alzheimer & Dementia: The Journal of the Alzheimer’s Association, University of Colorado, The National News, JAMA Neurology
Por Nathan Vieira | Editado por Luciana Zaramela