
Por Júnior Melo, 18 de maio de 2025
Jerônimo Arlindo da Silva Junior, conhecido como Júnior do Peixe, ex-diretor da Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais do Brasil (Conafer), está no centro de um escândalo envolvendo fraudes bilionárias no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Além de sua atuação na entidade investigada por descontos indevidos em aposentadorias, Júnior do Peixe ocupou o cargo de secretário-executivo da Pesca no governo da Paraíba, sob a gestão do então governador Ricardo Coutinho (PT), em 2018, e manteve laços com o poder petista desde o governo Dilma Rousseff.
Escândalo no INSS: Fraudes Bilionárias
A Conafer é uma das principais entidades investigadas na Operação Sem Desconto, deflagrada pela Polícia Federal (PF) e pela Controladoria-Geral da União (CGU) em abril de 2025. A operação apura um esquema de descontos associativos ilegais em aposentadorias e pensões, que teria movimentado R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024. A Conafer, segunda maior entidade em volume de descontos, arrecadou R$ 484 milhões no período, com um crescimento exponencial: de R$ 400 mil em 2019 para R$ 202 milhões em 2023.
As investigações apontam que a Conafer fraudava documentos para realizar cobranças indevidas de mensalidades associativas, muitas vezes sem o consentimento dos aposentados. Em 2020, a Polícia Civil do Distrito Federal já investigava a entidade por práticas semelhantes. Um ofício assinado por Júnior do Peixe, datado de 4 de dezembro de 2020, revela que ele era responsável por gerenciar as fichas associativas enviadas ao INSS e por receber citações judiciais relacionadas a fraudes nos descontos.
Ligação com o PT e Cargos Políticos
Antes de se envolver no escândalo, Júnior do Peixe construiu uma trajetória próxima ao Partido dos Trabalhadores (PT). Durante o governo Dilma, ele ocupou um cargo no Ministério da Pesca, consolidando sua influência no setor. Em 2018, foi nomeado secretário-executivo da Pesca na gestão de Ricardo Coutinho na Paraíba, cargo que manteve mesmo após a transição para o governo de João Azevedo (PSB).
Além disso, Júnior do Peixe teve uma passagem pelo gabinete do atual presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), como secretário parlamentar entre outubro de 2020 e fevereiro de 2021, período em que também atuava como diretor de Assuntos Institucionais da Conafer. Em 2024, ele tentou se candidatar a vice-prefeito de Marizópolis (PB) pelo Republicanos, partido liderado por Motta, mas não obteve êxito.
Conafer e o Crescimento Suspeito
A Conafer, presidida por Carlos Roberto Ferreira Lopes, é acusada de expandir rapidamente sua base de associados, passando de 231 mil em 2021 para 641 mil em 2023, muitos dos quais sem autorização para os descontos. A entidade, que se apresenta como defensora de agricultores familiares, indígenas e quilombolas, também atua em terras indígenas, oferecendo serviços como mutirões para aposentadorias. No entanto, líderes indígenas relatam que o acesso da Conafer a essas comunidades é impulsionado por recursos financeiros, incluindo pagamentos a lideranças locais.
O presidente da Conafer, Carlos Lopes, assinou um termo de confidencialidade consigo mesmo para ocultar seu salário, levantando mais suspeitas sobre a gestão da entidade. Em 2020, Lopes e sua esposa tornaram-se administradores de uma empresa agropecuária em Minas Gerais, negociando imóveis, incluindo uma fazenda de R$ 3,17 milhões, o que a Polícia Civil do DF considerou de “licitude duvidosa” para alguém que se apresenta como agricultor familiar.
Repercussão Política e Investigação
O escândalo do INSS gerou forte impacto político, resultando na demissão do ministro da Previdência, Carlos Lupi (PDT), e do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, em maio de 2025. Parlamentares da oposição, como Luciano Zucco (PL-RS), acusam o PT de envolvimento, enquanto o governo Lula argumenta que o esquema teve início na gestão Bolsonaro e foi desmantelado na atual administração.
A Advocacia-Geral da União (AGU) pediu o bloqueio de R$ 2,56 bilhões em bens de 12 entidades investigadas, mas Conafer e Contag foram excluídas dessa ação, o que gerou questionamentos. A CGU suspendeu todos os descontos associativos em aposentadorias e prometeu um plano para ressarcir os prejudicados, mas ainda não há prazo definido.
O Futuro das Investigações
A ligação de Júnior do Peixe com figuras políticas e sua atuação na Conafer colocam pressão sobre o governo Lula e o presidente da Câmara, Hugo Motta, que resiste à instalação de uma CPI para apurar o caso. A PF continua investigando a participação de servidores públicos e entidades no esquema, que envolve crimes como corrupção, falsificação de documentos e lavagem de dinheiro.
A Conafer não se pronunciou oficialmente sobre as acusações contra Júnior do Peixe, e tentativas de contato com a entidade não obtiveram resposta até o fechamento desta matéria. O caso segue em aberto, com aposentados e pensionistas aguardando a devolução dos valores descontados indevidamente.
Fonte: Diário Do Brasil