
Por décadas, o Vale do Silício foi o destino final de toda conversa sobre inovação, tecnologia e startups de alto impacto. Mas, segundo Jeff Horing, cofundador e diretor-gerente da Insight Partners — uma das maiores firmas de venture capital do mundo — esse reinado pode estar sendo desafiado por um pequeno país do Oriente Médio que tem feito barulho com soluções ousadas, pragmatismo empresarial e resultados impressionantes: Israel.
Em entrevista recente ao Globes, Horing foi direto: “Israel é uma versão melhorada do Vale do Silício.” E isso não é só uma frase de efeito — é uma constatação baseada em números, comportamento de empreendedores e um ecossistema que tem amadurecido com força nos últimos anos.
Por que Israel?
Quando se fala em inovação, geralmente se pensa em laboratórios de pesquisa, milhões em investimento, hubs modernos e profissionais com formação de ponta. Israel tem tudo isso. Mas o diferencial, segundo Horing, está na mentalidade.
No Vale do Silício, embora o talento seja indiscutível, há uma crescente “burocratização da inovação”. Startups gastam meses em rounds de pitch, reuniões com investidores e estratégias de crescimento que nem sempre colocam o produto no centro.
Já em Israel, o ritmo é outro.
“Os empreendedores israelenses são diretos, orientados para a execução. Eles querem resolver problemas reais com soluções reais. Rápido.” – afirma Horing.
Essa cultura mais objetiva atrai não apenas capital estrangeiro, mas também grandes talentos. Aliás, segundo o próprio executivo, é na engenharia e na capacidade de resolver problemas complexos com agilidade que Israel se destaca como potência mundial.
Uma Máquina de Talentos (e de Resultados)
Talvez o maior trunfo de Israel seja a forma como forma e atrai talentos. Muitos dos profissionais que hoje lideram startups de ponta no país vêm de unidades de elite das Forças de Defesa de Israel (como a famosa Unidade 8200), onde aprendem, desde cedo, a trabalhar sob pressão, lidar com sistemas complexos e tomar decisões críticas rapidamente.
Essa experiência se traduz diretamente no ambiente de negócios: jovens fundadores já chegam ao mercado com a cabeça de “resolver primeiro, escalar depois”. Isso gera menos conversa e mais entrega — um ativo precioso para qualquer investidor.
Horing comenta que, para a Insight Partners, investir em Israel é estratégico. O país oferece densidade de talentos, eficiência na execução e, mais recentemente, um ecossistema muito mais maduro, com startups escalando globalmente.
Tríplice Aliança: Governo, Academia e Iniciativa Privada
Outro ponto fundamental para o sucesso israelense, segundo Jeff Horing, é a colaboração entre setores. Diferente de muitos países onde governo e setor privado operam em esferas quase antagônicas, em Israel existe sinergia.
O governo investe em programas de incentivo à pesquisa e inovação, facilita a abertura de empresas e cria ambientes regulatórios favoráveis. As universidades trabalham lado a lado com empresas, compartilhando pesquisas e formando profissionais que já saem prontos para os desafios do mercado. E a iniciativa privada tem liberdade e estímulo para arriscar — sem medo de errar.
Essa tríplice aliança gera um ciclo virtuoso: mais inovação leva a mais investimento, que leva a mais crescimento, que atrai ainda mais inovação. Simples? Nem tanto. E é por isso mesmo que chama tanta atenção.
Nem Tudo São Flores
É claro que o próprio Horing reconhece: Israel tem desafios. A dependência de setores específicos, como cibersegurança e SaaS, precisa ser diluída com mais diversidade em áreas como saúde, sustentabilidade e energia. Além disso, há o desafio da internacionalização — muitas startups ainda têm dificuldade de escalar globalmente de forma consistente.
Mas, ao invés de ver isso como fraqueza, Horing enxerga como oportunidade. E ele não está sozinho. Diversas empresas americanas e europeias estão apostando em Israel não apenas como um polo de P&D (pesquisa e desenvolvimento), mas como porta de entrada para soluções globais.
E o Que Isso Significa Para Empresários Brasileiros?
Se você é empresário no Brasil, talvez a principal lição deste panorama seja clara: Israel não é apenas um case de sucesso — é um espelho do que é possível fazer com foco, cultura empreendedora e conexão entre os setores certos.
A aproximação entre Brasil e Israel tem se intensificado nos últimos anos, com acordos bilaterais, missões empresariais, eventos de inovação e uma crescente rede de colaboração, especialmente nas áreas de tecnologia, saúde e agronegócio.
Empresários brasileiros que quiserem inovar não precisam reinventar a roda — podem aprender com o que Israel já está fazendo. Seja investindo em startups israelenses, firmando parcerias de P&D, levando sua empresa para participar de missões empresariais ou mesmo conectando-se a hubs como Tel Aviv, que hoje rivaliza com São Francisco em densidade de inovação por metro quadrado.
Oportunidade ou Tendência?
Para Jeff Horing, a resposta é clara: investir em Israel não é só uma tendência — é uma vantagem competitiva. E quanto antes os empresários globais entenderem isso, maiores serão suas chances de aproveitar esse ecossistema antes que fique saturado.
“O que torna Israel especial não é só a tecnologia. É a atitude. A vontade de fazer acontecer. A ausência de vaidade nas decisões de negócios. A obsessão em resolver.”
Se você é um empresário buscando crescer, inovar e se conectar a ambientes de alta performance, talvez esteja na hora de tirar os olhos exclusivamente do Vale do Silício e começar a prestar atenção no que está acontecendo do outro lado do mundo.
Israel está deixando de ser “a startup nation” para se tornar “a escala nation”.
E isso muda tudo.
Autor: Ric Scheinkman
Fonte: Diário Do Brasil