Em meio a investigações em andamento sobre a trama golpista, o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, disse não haver elementos suficientes para indiciar todos os citados na delação premiada do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid.
Na primeira delação de Cid, revelada pelo colunista da Folha Elio Gaspari no último fim de semana, o ex-ajudante de ordens citou 9 pessoas dos 40 indiciados pela trama golpista.
Entre os citados pelo delator como integrantes da ala mais radical, estão a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Os dois não foram indiciados no relatório final, apresentado em novembro.
Homem fala em estúdio, usando terno e gravata
“No caso concreto, está lá no relatório [final da trama golpista] que não houve a busca de outros elementos que pudessem confirmar que essas pessoas [Michelle, Eduardo e outros não indiciados] tenham participado”, disse Andrei no programa Roda Viva, da TV Cultura, nesta segunda-feira (27).
O diretor da corporação afirmou que colaboração é apenas “um instrumento de obtenção de provas” e que não basta o delator “anunciar determinadas situações e nós já tomarmos aquilo como verdade absoluta”.
Disse que a equipe foi a campo a partir dos relatos, colheu mais depoimentos, fez extração de dados e chegou às conclusões apresentadas.
Ele afirmou ainda que o relatório apresentado é completo e consistente e, questionado sobre a duração do inquérito, afirmou que as investigações têm “tempo de maturação”.
Na primeira entrevista de um diretor-geral da PF ao programa, Andrei foi questionado se cumpriria pessoalmente uma eventual determinação da prisão de Bolsonaro, mas tergiversou e disse que as equipes cumprirão qualquer ordem judicial.
O diretor da PF também fez menção à apresentação de PowerPoint apresentado pelo então procurador Deltan Dallagnol no âmbito da Operação Lava Jato em 2016. Segundo ele, houve falhas na atuação dos policiais federais da ação policial que mirava desvios na Petrobras e outros órgãos públicos.
Na sequência de slides, Deltan chamou de “14 conjuntos de evidências” que apontavam para o nome do hoje presidente Lula (PT) no centro.
“A Polícia Federal de hoje não faz entrevista coletiva pré-condenando, prejulgando ninguém, não faz Powerpoint com responsáveis por operações já pré-condenando as pessoas. Faz investigação isenta, séria e responsável”, disse Andrei.
O diretor da PF voltou a defender a regulação das redes sociais ao comentar a crise sobre o Pix. Ele também informou que ainda não foi instaurado um inquérito e aguarda mais informações da AGU (Advocacia-Geral da União).
As declarações sobre investigações sigilosas em andamento se tornaram recorrentes no governo Lula, principalmente pelo chefe da PF. No entanto, as manifestações públicas costumam ser de inquéritos que miram opositores do governo Lula, investigados pela corporação.
A gestão de Andrei é marcada também pela proximidade com o presidente. Como mostrou a Folha, o diretor da PF viaja com frequência na comitiva presidencial para o exterior, o que despertou o temor de alguns integrantes da corporação da contaminação política.
Em novembro, a PF concluiu parcialmente uma importante investigação sobre suposta trama golpista do governo de Jair Bolsonaro (PL). Na ocasião, os investigadores indiciaram o ex-presidente e outras 39 pessoas.
A delação do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, citou a suposta participação de Michelle Bolsonaro e de Eduardo Bolsonaro —não indiciados pela trama golpista— no que o militar chama de ala mais radical pelo golpe.
Durante o comando de Andrei, a corporação também intensificou os embates com outros órgãos públicos, como o GSI (Gabinete de Segurança Institucional), Exército e a Polícia Rodoviária Federal.
Além deles, a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) entrou na mira da PF por uso de um software espião suspeito de ser ter sido utilizado para espionar adversários políticos e blindar os filhos de Bolsonaro.
O caso ficou conhecido como Abin paralela, apesar de o grupo suspeito de espionagem ilegal ser composto, em sua maioria, por policiais federais cedidos à agência, sob o comando do então diretor Alexandre Ramagem, hoje deputado federal pelo PL-RJ.
Fonte: Folha de S. Paulo
Fonte Diário Do Brasil