Existem pelo menos quatro formas de contar o tempo que a Terra leva para dar uma volta no Sol; além disso, cada ano tem uma duração diferente
É tradição. A meia-noite do dia 31 de dezembro comemoramos a virada do ano. É o início de um novo ciclo, com novas promessas e metas. Mas o que acontece exatamente em termos científicos quando chega o ano novo? A resposta é nada.
O dia 31 de dezembro é o último do calendário gregoriano, que rege o Ocidente desde que o calendário juliano deixou de ser usado, em 1582. A virada celebra uma volta completa da Terra em torno do Sol. Mas essa data não é baseada na ciência. Na verdade, é uma convenção, ou seja, algo inventado.
Segundo o astrônomo e acadêmico Eduard Larrañaga, do Observatório Astronômico Nacional da Universidade Nacional da Colômbia, já que a base para medir um ano é o tempo que a Terra leva para dar a volta no Sol, contar quando esse ciclo começa e termina pode ocorrer, na prática, a qualquer momento.
Do ponto de vista astronômico, nada de especial acontece no dia 31 de dezembro para dizer que é aqui que termina o ano, tampouco nada de especial acontece no dia 1º de janeiro para dizer que é quando começa. Na realidade, em toda a órbita da Terra não há nada de especial ou fora do comum que aconteça para marcar a mudança de um ano.
Eduard Larrañaga, astrônomo do Observatório Astronômico Nacional da Universidade Nacional da Colômbia
Além disso, há muitas formas de medir a duração de um ano. Larrañaga explica que, do ponto de vista da astronomia, a base para a definição do que é um ano, não existe uma unidade de medida única, mas pelo menos quatro para contar o tempo que a Terra leva para dar uma volta em torno do Sol. As informações são do G1.
Formas de contar o tempo para a Terra dar uma volta no Sol
- Ano ou calendário juliano: é uma convenção e é usada na astronomia como uma unidade de medida em que se considera que a Terra dá a volta no Sol em 365,25 dias.
- Ano sideral: é o tempo que a Terra leva para dar uma volta no Sol em relação a um sistema de referência fixo. Neste caso, um grupo de estrelas é usado como referência, e esse ano tem uma duração de 365,25636 dias.
- Ano trópico: leva em consideração a longitude eclíptica do Sol, ou seja, o ângulo do Sol no céu em relação à Terra ao longo do ano, principalmente nos equinócios. E dura um pouco menos que o ano sideral, 365,242189 dias.
- Ano anomalístico: a Terra, assim como os outros planetas, se move em elipse. Essa elipse faz com que, em algumas ocasiões, o Sol esteja mais perto e mais distante da Terra. Mas há um ponto em que ambos estão o mais perto possível, chamado periélio. E o ano anomalístico é o tempo decorrido entre duas passagens consecutivas da Terra por seu periélio. Dura 365,2596 dias.
Cada ano tem uma duração diferente
Há também mais um fator que precisa ser levado em conta. Os anos não têm a mesma duração todas as vezes. De acordo com o especialista, embora os astrônomos tenham tentado calcular com precisão ao longo dos séculos o tempo que a Terra leva para dar uma volta em torno do Sol, há um problema básico que os impede de obter um número definitivo.
É preciso levar em conta que a duração dos anos nunca é a mesma porque tudo muda no Sistema Solar. Veja o caso do ano anomalístico: enquanto a Terra gira em torno do Sol, o periélio muda como resultado da ação gravitacional de outros planetas, como Júpiter.
Eduard Larrañaga, astrônomo do Observatório Astronômico Nacional da Universidade Nacional da Colômbia
O físico teórico lembra que algo semelhante ocorre com o chamado ano trópico, que mede o intervalo de tempo entre duas passagens consecutivas do Sol pelo Ponto Áries ou o equinócio de primavera.
O ano trópico também muda, uma vez que depende do eixo da Terra, que é torcido. É como um pião que vai balançando. Então a data e a hora do equinócio também são diferentes. E se compararmos quanto tempo durou o ano sideral em 2020 com quanto tempo durou em 1300, certamente notaremos uma diferença. Seria sempre em torno de 365 dias, mas não seria exatamente a mesma duração, porque o movimento da Terra nem sempre é o mesmo.
Eduard Larrañaga, astrônomo do Observatório Astronômico Nacional da Universidade Nacional da Colômbia
Isso significa que cada virada de ano aconteceria em uma data diferente. Mas, para simplificar, que tal continuarmos adotando a nossa tradição de usar a meia noite de 31 de dezembro como marca para o início de um novo ano?
Por Alessandro Di Lorenzo, editado por Lucas Soares