Uma pesquisa com pacientes que tiveram parada cardíaca mostra que, após uma hora da aparente morte, há uma explosão de sinais neurais que imita a atividade cerebral consciente — indo além dessa detecção, cientistas entrevistaram os pacientes que voltaram para contar a história, descobrindo que eles têm memórias vívidas das “mortes” e dos “retornos”.

O acompanhamento foi feito com 567 pacientes de 25 hospitais diferentes nos Estados Unidos que tiveram assistolia, quando o coração para de bombear sangue e fica inativo, gerando a famosa linha contínua no gráfico de eletrocardiogramas. Enquanto a equipe médica realizava reanimação cardiopulmonar (RCP), os pesquisadores tomavam nota das leituras eletroencefalográficas dos “recém-falecidos”, obtendo dados legíveis de 53 pessoas à beira da morte.

Atividade cerebral no pós-morte
Inesperadamente para os cientistas, quase 40% dos pacientes cujos eletroencefalografias foram coletados apresentaram atividade cerebral nas ondas delta, theta, alfa e beta, que indicam atividade consciente possível. Na maioria dos casos, essas ondas cerebrais começaram a aparecer mais de meia hora após o coração do paciente cessar os batimentos — de 35 a 60 minutos, até.

Eletroencefalografias tomam a atividade cerebral em forma de gráfico e permitem saber quais ondas cerebrais estão sendo emitidas pelo indivíduo (Imagem: Sturm/CC-BY-4.0)
Foto: Canaltech
Após a reanimação da equipe médica, 53 pacientes saíram do hospital com vida, mas apenas 28 ficaram bem o suficiente para poder realizar uma entrevista sobre sua experiência de morte ou quase-morte. Em concordância com os resultados dos eletroencefalografias, cerca de 40% dos que falaram com os cientistas disseram se lembrar de detalhes da experiência, sugerindo que eles estavam, de fato, conscientes no momento em que estiveram tecnicamente mortos.

Alguns se lembram de eventos médicos com detalhes, como um paciente que sabe o momento em que voltou, relembrando da equipe colocando dois eletrodos em seu peito e do choque que realizaram. Outros 21,4% tiveram o que os pesquisadores chamam de “experiência transcendental de lembrança de morte”.

O que pensam os pacientes com experiência de quase morte?
A experiência transcendental de lembrança de morte seria o reflexo de um senso de consciência com lucidez paradoxal, uma revisão proposital e moral de pensamentos, intenções e ações para com outras pessoas, percepções da morte de uma realidade diferente, inefável (impossível de explicar).

Após a experiência de quase morte, muitos pacientes relataram se lembrar do que aconteceu, e também contam sobre experiências oníricas de reavaliação da vida (Imagem: DC_Studio/Envato)
Foto: Canaltech
Médicos, no geral, consideravam que o cérebro sofre de danos permanentes cerca de dez minutos após o cessar dos batimentos cardíacos, quando não há mais suprimento de oxigênio ao órgão. O estudo, no entanto, mostrou que o cérebro ainda consegue mostrar sinais de recuperação elétrica muito tempo depois de RPC contínua.

É a primeira pesquisa grande a mostrar que tais lembranças e mudanças nas ondas cerebrais podem ser sinais de elementos universais e compartilhados das famosas experiências de quase-morte, segundo os autores.

A função evolucionária do fenômeno não é clara, segundo os cientistas, mas os pesquisadores supõem que possa ser uma “desinibição” do cérebro no momento da morte. Isso poderia dar acesso a “novas dimensões da realidade” ao permitir uma súbita lembrança de todas as memórias guardadas no órgão, resultando na famosa reavaliação da vida do paciente. O estudo, segundo os cientistas, dá um vislumbre da pouco conhecida, mas muito real, dimensão de consciência humana descoberta com a morte.

Fonte: Resuscitation, Elsevier

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Pacientes cujo coração parou de bater mostram sinais de consciência e memórias