Estima-se que, por ano, um brasileiro dirija cerca de 13 mil km com seu carro. Só pela vontade, talvez um comprador de carro elétrico queira rodar mais do que isso com o seu modelo novo. Pelo menos até se dar conta dos perrengues que pode arrumar.

Como visto, o carregamento doméstico é praticamente obrigatório para que o dono de elétrico tenha paz. Durante a noite o carro é recarregado, de dia gastam-se algumas dezenas de quilômetros no deslocamento diário. Mas e se, durante a tarde, surge uma viagem inesperada? Pior: o destino é a casa da sogra, que, apesar de querida e amável, não tem um wallbox instalado para te atender.

Hora de usar um carregador rápido (ou ultrarrápido), que funciona em corrente contínua (DC) e é bem mais complexo. Dado o custo de centenas de milhares de reais, é inviável instalá-lo em casa, de modo que os carregadores DC ficam principalmente em postos de gasolina, eletropostos específicos e concessionárias. Eles também são o modelo predominante ao longo das estradas.

Em São Paulo, há cerca de 50 desses pontos. O Eletroposto Anália Franco se destaca por oferecer seis carregadores com até 200 kW – que, em 10 minutos, acrescenta cerca de 150 km de autonomia a um modelo que suporte tal potência. A maioria dos carregadores DC, entretanto, não passa dos 50 kW.

Para usá-los, é necessário baixar o aplicativo específico da rede de carregadores, cadastrar um cartão de crédito (ou adicionar saldo via Pix), escanear o QR Code da tomada e seguir as instruções. O preço do quilowatt-hora gira entre R$ 2,00 e R$ 3,00 e, caso você deixe o veículo conectado com a bateria cheia, paga-se multa a preço equivalente por cada minuto de ociosidade.

Para percorrer 300 km, nosso BYD Dolphin de Longa Duração gastaria entre R$ 79 e R$ 118 recorrendo só aos carregadores DC. Em comparação, nosso Citroën C3 do Longa, abastecido com gasolina a R$ 5,78 por litro (valor médio da ANP em 16 de abril), gastaria R$ 104,45 no mesmo trecho.

Assim, fica claro que a economia prometida pelos carros elétricos não está nos postos rápidos: neles, além da energia, é cobrada a comodidade do tempo e o lucro do investidor. Sem contar as várias tomadas que estão inoperantes ou filas que se formam em regiões com menos alternativas. Aplicativos como o PlugShare até ajudam nessa hora, mas nunca evitam 100% tais ciladas.

Tarefa de casa

Uma forma óbvia de economizar é carregando o carro em casa sempre que dá: um wallbox de qualidade tem seus R$ 8.000 diluídos facilmente considerando os R$ 0,73 cobrados, em média, por 1 kWh na conta de luz residencial. Por funcionar em corrente alternada (AC), o wallbox é mais barato e gastam-se algumas horas na tarefa.

E lembre-se que os EVs são mais eficientes na cidade: em 300 km na cidade, nosso BYD gastaria meros R$ 26,07 de energia se carregado em casa, ao passo que seriam R$ 122,98 de gasolina para abastecer nosso C3. Também é possível salvar uns trocados recarregando gratuitamente durante as compras em shoppings e supermercados, mas as tomadas AC só acrescentam alguns quilômetros de alcance nesse tempo.

Se a marca do seu carro é focada em elétricos (BYD, Volvo, Porsche, Audi etc.), há boas chances de que a concessionária local tenha carregadores DC gratuitos, que representam a opção mais cômoda, mas acabam gerando filas. Uma presença frequente também pode incomodar os lojistas, que te cobrarão bom senso.

Se nada disso resolver, o jeito é usar um adaptador e conectar seu carro diretamente à tomada de parede. Custará o mesmo tanto que a energia do wallbox, mas levará tempo suficiente para justificar um dia extra na casa dos sogros.

Recarga bidirecional

Como no mercado de ações, o preço da energia pode ser estabelecido em tempo real, sob a lei de oferta e demanda. O sistema Vehicle-To-Grid (V2G) busca aproveitar isso vendendo o excedente de bateria do carro durante picos de demanda e repondo a carga a um valor menor, durante a madrugada, por exemplo. Já existem carros com V2G no Brasil há alguns anos, mas ainda não há suporte da nossa rede a esse comércio, em que é possível ganhar para recarregar o carro.

Regra de três

Se o carregamento rápido é mais caro, vale usá-lo o mínimo possível. Nesse caso, uma opção é recorrer ao GPS e às médias de consumo do carro, calculando a porcentagem de bateria necessária e adicionando uma margem de segurança, conforme a existência de planos B até a chegada ao destino

Fonte: Quatro Rodas

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Recarga rápida para elétricos pode ser tão cara quanto gasolina