Adilson Jordão, 33 anos, residente de Jacobina, uma cidade no norte da Bahia, encontrou um novo meio de vida como entregador de produtos da empresa chinesa Shopee. Isso ocorreu após sua demissão da Torres Eólicas do Nordeste (TEN), uma joint venture entre a brasileira Andrade Gutierrez e a americana GE, conforme informações da Folha de S. Paulo.

Em junho de 2023, a TEN dispensou 500 funcionários, incluindo Adilson, devido à falta de demanda. Anteriormente, ele trabalhava como operador de máquinas na empresa por dois anos, ganhando R$ 4.400 por mês com horas extras. Agora, como entregador, seu salário caiu para R$ 1.500, sem benefícios trabalhistas.

A situação de Adilson e seus 500 ex-colegas de trabalho não é um caso isolado. As indústrias eólicas estão enfrentando seu pior momento em décadas no Brasil. A Aeris Energy, uma produtora brasileira de pás eólicas, recentemente demitiu mais de 1.500 funcionários que trabalhavam em Pecém, no Ceará, também devido à falta de demanda.

A indústria eólica em geral atribui a crise atual ao excesso de energia no mercado interno, que está inibindo a construção de novos parques eólicos. A sobreoferta é impulsionada pela instalação descontrolada de geração distribuída por placas solares, realizada pelos próprios consumidores e empresas, sem planejamento ou monitoramento dos órgãos públicos.

Os problemas começaram a surgir em 2022, quando o preço de referência da energia elétrica, conhecido como PLD, caiu drasticamente. “Quando vendíamos no mercado regulado, o preço era resultado do leilão com contrato de 20 anos. Isso gerava demanda na fábrica. Já o mercado livre, ao perceber que o PLD está muito baixo, também nota excesso de energia no curto prazo e, em vez de fazer contrato de dez anos, compra energia no curto prazo”, explica Elbia Gannoum, presidente da ABEEólica (Associação Brasileira de Energia Eólica).Anuncios

O governo já está ciente do problema e está sinalizando preocupação em preservar o ambiente de negócios para esse segmento da indústria. “O setor é estratégico para o Brasil, e temos consciência de que está passando por uma crise de demanda. Temos excesso de energia, e não há encomenda de novos projetos”, afirmou Rodrigo Rollemberg, secretário de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria do Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços).

Enquanto uma solução imediata não é encontrada, as empresas brasileiras estão voltando-se para o mercado internacional. A Aeris, por exemplo, acredita que as exportações representarão cerca de 40% da receita da empresa até 2025, com negócios nos EUA, Chile, México e Argentina.

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Setor de energia eólica no Brasil em pânico e para investimentos
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