O resultado das eleições americanas é menos preocupante para a escalada de tensões entre China e Estados Unidos do que a campanha eleitoral em si. Essa é a análise do professor de história e política externa e escritor chinês Lanxin Xiang, que avalia que determinadas tomadas de decisão da equipe do presidente Donald Trump podem dar início inclusive a um confronto armado entre os países.
Professor no Instituto de Estudos Internacionais e de Desenvolvimento (IHEID), em Genebra, e diretor do Centre of One Belt, One Road Studies, Xiang participou nesta quinta-feira, 1º, de um seminário virtual promovido pela Fundação FHC com o tema “Estados Unidos e China: rumo a uma nova Guerra Fria?”. Também participaram do debate o ex-embaixador do Brasil em Pequim, Luiz Augusto de Castro Neves, e o historiador Sérgio Fausto.
De acordo com Xiang, a maior preocupação dele no momento é a passagem de uma “guerra fria” para uma “guerra quente”, que poderia ser motivada por diversos fatores. Ações temerárias da equipe Trump para pressionar a China afim de acenar para o público interno no processo eleitoral, como promover exercícios militares no Mar do Sul da China ou enviar o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, a Taiwan, poderiam dar início até mesmo a um conflito.
“Não estou pessimista com o resultado da eleição, estou preocupado com as provocações que podem vir no próximo mês”, afirmou Xiang. E completou: “Acho muito pouco provável que a China não faça nada no caso de uma viagem de Pompeo a Taiwan”.
A preocupação existe entre autoridades militares chinesas, explicou Xiang, apesar de ressaltar que a represália provavelmente seria limitada e não envolveria “matar o secretário de Estado americano”. No entanto, mesmo uma reação contida, na visão do professor, poderia resultar em um aumento de hostilidades, com a evolução para um conflito armado aberto.
Para o ex-embaixador brasileiro em Pequim Luiz Augusto Castro Neves, algumas questões asiáticas poderiam elevar as tensões entre os países. Interferências americanas na península da Coreia, em Taiwan ou em Hong Kong e no mar do sul da China são possíveis pontos de ruptura. “Se a Ásia conseguir resolver suas questões de política regional por si só, reduz qualquer possibilidade de conflito”, disse Neves, que ainda pontuou que ambos os países teriam mais a perder do que ganhar com esse tipo de desfecho, especialmente em razão da integração econômica de seus mercados.
