À medida que a economia chinesa desacelera, o Partido Comunista Chinês (PCCh) recorre cada vez mais ao controle social para garantir estabilidade.

O pilar desse aparato é o sistema de crédito social, que combina bases de dados regionais e algoritmos de monitoramento para definir quem é “confiável” ou não.

O resultado é um modelo de autoritarismo digital sem precedentes, descrito como uma “prisão virtual”, em que cada aspecto da vida é rastreado, pontuado e passível de punição.

Evolução histórica e dados globais

O sistema já impõe restrições concretas: em apenas um ano, cidadãos com baixa pontuação sofreram 17,5 milhões de proibições de voos e 5,5 milhões de bloqueios em viagens de trem.

As penalidades incluem ainda exclusão de escolas e empregos, restrição de acesso a crédito e impossibilidade de abrir empresas. Além das sanções, há práticas de humilhação pública, com nomes e rostos exibidos em telões como forma de ostracismo social.

Nem elites escapam: figuras como Jack Ma e Ren Zhiqiang foram punidas por críticas ao regime.

Causas estruturais e políticas

O sistema de crédito social integra um projeto de vigilância onipresente. Sensores, câmeras, QR codes em residências e até tarefas de trabalho forçado comunitário alimentam bancos de dados policiais.

As autoridades analisam não só compras, deslocamentos e hábitos de consumo, mas também expressões faciais, modo de andar, conversas e leituras online, classificando potenciais riscos ao Estado.

Em última instância, trata-se de um mecanismo para neutralizar críticas e reforçar o poder do PCCh.

Impactos sociais e econômicos

O impacto é devastador para a vida cotidiana. Cidadãos podem ser impedidos de viajar, estudar, trabalhar ou até de manter relações sociais, tornando-se párias em suas comunidades.

A vigilância constante e a ameaça de punições criam uma cultura de autocensura e medo. Em níveis locais, exigências de trabalho não remunerado para manter a pontuação positiva lembram práticas de servidão.

O sistema, portanto, não apenas restringe direitos, mas reconfigura o tecido social com base em lealdade política forçada.

Respostas governamentais

O avanço desse modelo foi viabilizado por tecnologia desenvolvida nos Estados Unidos. Empresas como IBM, Dell, VMware, Oracle e Microsoft forneceram softwares, servidores e sistemas de nuvem para órgãos de segurança chineses, inclusive em áreas de repressão como Xinjiang.

Nvidia e Intel venderam chips e ferramentas de reconhecimento facial e análise de vídeo que sustentam a infraestrutura de vigilância. Até softwares de mapeamento americanos foram usados para criar “cercas digitais” que restringem movimentações.

Apesar de relatórios críticos, muitas companhias buscaram lucrar com o mercado chinês, contribuindo indiretamente para a construção do regime digital mais repressivo do mundo.
Conclusão

O sistema de crédito social chinês exemplifica a fusão entre tecnologia avançada e autoritarismo político, transformando o país em um laboratório de controle total. A ironia é que grande parte dessa arquitetura foi possibilitada por empresas americanas, que, em busca de lucros, forneceram os instrumentos usados para vigiar, punir e até escravizar cidadãos.

A questão que permanece é de lealdade: os gigantes do Vale do Silício atuam em defesa da democracia ou em benefício do regime que erigiu a maior sociedade-prisão digital do planeta? 

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O controle na China é mais cruel que você imagina, e com uso de tecnologia americana. Já pensou o Xandão com tudo isso? Entenda