Navios da marinha russa chegaram ao porto de Havana na quarta-feira (12), numa escala que tanto os EUA quanto Cuba afirmaram não representar uma ameaça. Contudo, foi amplamente vista como uma demonstração de força russa em meio às crescentes tensões devido à guerra na Ucrânia.
Pequenos grupos de pescadores e curiosos alinharam-se na avenida à beira-mar de Malecón, sob uma chuva fraca, para receber os navios que passavam pelo castelo Morro, de 400 anos, na entrada do porto. Os primeiros a chegar foram o navio de combustível “Akademik Pashin” e o rebocador “Nikolay Chiker”, enquanto uma fragata da marinha russa e um submarino com propulsão nuclear esperavam no mar, devendo entrar no porto no meio da manhã.
A fragata e o submarino, parte de um grupo de quatro navios russos que chegaram ao largo de Cuba nesta quarta-feira (12), realizaram exercícios de mísseis no Oceano Atlântico a caminho da ilha, informou o Ministério da Defesa da Rússia no dia anterior. Cuba afirmou na semana passada que a visita era uma prática padrão de navios de guerra de países amigos de Havana. O Ministério das Relações Exteriores do governo comunista garantiu que os navios não carregavam armas nucleares, algo também repetido por autoridades norte-americanas.
“Temos monitorado de perto a trajetória dos navios”, disse uma autoridade dos EUA à Reuters sob condição de anonimato na noite de terça-feira (11). “Em nenhum momento os navios ou submarinos representaram uma ameaça direta aos Estados Unidos”. Havana está a apenas 160 km de Key West, na Flórida, onde fica a Estação Aérea Naval dos EUA. O momento da visita, enquanto a administração Biden pondera até onde ir para ajudar a defender a Ucrânia contra a Rússia, sugere mais do que “prática padrão”, disse William Leogrande, professor da Universidade Americana.
“A visita dos navios de guerra russos é a forma de Putin lembrar a Biden que Moscou pode desafiar Washington na sua própria esfera de influência”, afirmou Leogrande. A escala também coincide com a pior crise social e econômica de Cuba em décadas, com escassez de alimentos, medicamentos e combustível, e crescente descontentamento nas ruas. “Isto… tem ecos da Guerra Fria, mas, ao contrário da primeira Guerra Fria, os cubanos são atraídos para Moscou não por afinidade ideológica, mas por necessidade econômica”, disse Leogrande.
A história tem um grande peso em Cuba, especialmente no que diz respeito à Rússia e sua antecessora, a União Soviética. A crise dos mísseis cubanos eclodiu em 1962, quando a União Soviética respondeu ao envio de mísseis dos EUA na Turquia, enviando mísseis balísticos para Cuba, desencadeando um impasse que levou o mundo à beira de uma guerra nuclear. Os dois países estão mais uma vez estreitando os laços.
O presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, visitou o presidente russo, Vladimir Putin, pela quarta vez em maio, quando participou de um desfile militar e afirmou que Moscou sempre poderia contar com o apoio de Havana. Em março, a Rússia entregou 90.000 toneladas de petróleo a Cuba para ajudar a aliviar a escassez e prometeu ajudar Havana em projetos que vão desde a produção de açúcar até infraestruturas, energias renováveis e turismo.
Os navios da marinha russa deverão permanecer em Havana até 17 de junho.