
Foto: Pablo Jacob/Agência O Globo
A informação consta de um relatório parcial da PF anexado aos autos do inquérito sigiloso que que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF), sob a relatoria do ministro Cristiano Zanin, e mira uma rede de lobistas, advogados, empresários e ex-servidores de gabinetes dos ministros Og Fernandes, Isabel Gallotti e Nancy Andrighi. Os ministros não são investigados.
Segundo a apuração, um primeiro núcleo seria o dos agentes públicos vinculados a gabinetes de ministros do STJ, como Daimler Alberto de Campos e Rodrigo Falcão, ex-chefes de gabinete de Gallotti e Og, que seriam responsáveis pelo vazamento de informações sensíveis e antecipação de minutas.
Um segundo núcleo era o dos advogados e lobistas, como Andreson de Oliveira Gonçalves, pivô das investigações, que eram incumbidos de captar clientes interessados em decisões favoráveis. E por fim, o grupo dos empresários e agentes econômicos, sobretudo ligados ao agronegócio, beneficiários diretos das manipulações de decisões judiciais, que concentravam em processos sobre falência de empresas do setor.
“À medida que as análises avançaram, o material probatório trouxe a revelação de um cenário muito mais amplo e complexo do que o inicialmente esperado, apontando robustos indícios da existência de uma rede criminosa sistêmica, composta por múltiplos operadores, camadas de atuação e fluxos financeiros sofisticados, refutando, assim, a ideia de fenômeno criminal isolado ou de uma relação pontual dos envolvidos”, aponta a PF.
Para tentar esconder as pistas do esquema criminoso, a PF constatou que os investigados salvavam contatos do esquema com “designações genéricas”, como “pedreiro”, “piscineiro”, “veterinária “ou “advogado”, para tentar dar uma “aparência trivial a conversas estratégicas do grupo” e mascarar a identidade dos interlocutores.
“Assim, diálogos que, à primeira vista, pareciam triviais, assumiam significados relevantes no contexto da investigação. Expressões como ‘a obra está pronta’ correspondiam a uma minuta finalizada; ‘faltam os retoques do patrão’ indicavam a necessidade de assinatura pelo magistrado; ‘orçamento’ era utilizado para se referir a valores ajustados”, aponta o relatório.
A investigação sobre os servidores do STJ começou quando a Polícia Federal apreendeu uma série de mensagens no celular do advogado Roberto Zampieri, morto com 10 tiros dentro do próprio carro, em frente ao próprio escritório, em dezembro de 2023.
Ao longo da apuração, os investigadores identificaram registros de negociações de venda de sentenças judiciais, envolvendo a citação a gabinetes do STJ.
De acordo com a PF, o esquema envolvia a atuação de advogados que recorriam a intermediários com bom trânsito nos gabinetes que “movimentavam valores milionários apenas pela promessa de influenciar o resultado dos julgamentos”. De outro lado, servidores e assessores internos do STJ “exerciam papel estratégico, introduzindo alterações em minutas e promovendo ajustes em despachos e decisões, criando condições objetivas para a manipulação de resultados”.
No aparelho celular de Andreson, por exemplo, foi encontrada uma lista de processos sob a relatoria de Gallotti, com anotações sobre o andamento dos casos, acompanhadas da expressão “voto pronto e enviado para vc”, o que, para a PF, indica uma espécie de “controle paralelo das atividades jurisdicionais”.
“Os dados extraídos da nuvem de Andreson, além de confirmarem sua condição de articulador das manipulações judiciais, revelaram novos elementos de relevância probatória. Entre eles, destacam-se os contatos mantidos com servidores, chefes de gabinete e Magistrados, as tratativas financeiras e a concessão de empréstimos de aeronaves para uso particular de autoridades, bem como indícios de influência em indicações de magistrados para cargos públicos”, diz a PF, frisando que o relatório não encerra a investigação, mas estabelece uma base para o avanço das diligências.
Procurada pelo blog, Gallotti disse que “desconhece o conteúdo da investigação, porque tramita em sigilo” e frisou “que seu gabinete está à disposição, para auxiliar, no que seja necessário, a fim de que sejam cabalmente apurados os fatos ocorridos e responsabilizados todos os envolvidos”.
.Já o gabinete de Nancy Andrighi afirmou que os processos de responsabilização “se encontram em andamento, a fim de que os fatos sejam devidamente esclarecidos e os responsáveis punidos de forma exemplar”.
A defesa de Anderson, por sua vez, informou que irá aguardar o relatório final da PF para se pronunciar.
O ministro Og Fernandes não havia respondido ao blog até a publicação desta reportagem.
Fonte: O Globo
Fonte: Diário Do Brasil