Um metro e meio um do outro, é a distância social mínima para impedir o contágio por covid-19.
Na legislação urbana, um metro e meio é a distância mínima da divisa lateral do terreno, necessária para garantir o sol entrando nos quartos da casa e deixar o ar circular.
Começo a desconfiar do um metro e meio, achando que essa medida tem que ver alguma coisa com a nossa vida, mais ainda, me faz lembrar o passado, dum poema escrito pelo Luiz Hilário Garcia (*): “UM METRO E MEIO” que fala da vida e da morte. Conta o drama de retirantes, a mãe e o pai carregando nas costas o filho morto.
Transcrevo alguns trechos:
“...Seguiram os dois, sozinhos,
Um metro e meio um do outro.
Ele levava nos ombros,
A sorte do filho morto.
Ela levava no peito,
Um grito que não saiu.
Andaram mais que deviam,
Um metro e meio um do outro.
Foram além deles mesmos,
Um metro e meio um do outro.
À beira do abismo olharam,
Um bem no fundo do outro,
Parecia que o abismo,
Olhava no fundo deles.
E os dois, no fundo do abismo,
Enterraram o filho manco.
...Tentaram a volta de novo,
Um metro e meio um do outro.
De repente eles pararam,
Um metro e meio um do outro.
Olharam firmes no céu,
Um metro e meio um do outro.
...Abraçaram-se calados e atiraram-se
No abismo, onde enterraram
A sorte do filho manco.
E as nuvens ouviram risos,
Quando os três passaram rindo,
Um metro e meio um do outro.”
Bonito demais.
(*) No início dos anos sessenta, o jovem Luiz Hilário Garcia marcava presença nos eventos estudantis, culturais, esportivos, em tudo. Prá quem não o conheceu, O cara era um líder natural, bom no que que fazia, admirado por todas e todos. Escritor, ator, poeta, compositor, um artista completo. Nos esportes era bom também, principalmente jogando basquete e futebol de salão quando chegou a jogar pelo “Corinthinha”, à época, um dos melhores times do estado de São Paulo.
Luiz Hilário Garcia, médico, notável mariliense, um artista completo no palco da vida, viveu até os 33 anos e nos deixou boas lembranças.
Laerte Rojo Rosseto é arquiteto e urbanista.