Artigo por Marcos Kopeska

Chamou-me a atenção a atitude e – a seguir – a fala do zagueiro turco que se recusou a vestir a camisa contra guerra na Ucrânia, no jogo em 27/02, entre as equipes de Erzurumspor e Ankaragucu, pela segunda divisão do futebol turco. A camiseta tinha a inscrição “No War”, “sem guerra” – em português – e estava sendo usada por todos os demais jogadores. Após o jogo ele falou a respeito: “Não me senti confortável usando a camiseta porque não foi feita para outros países no Oriente Médio, que estão em guerra. Se tivesse acontecido o mesmo, minha consciência estaria confortável. Também estou triste que haja guerra em qualquer lugar do mundo. Compartilho a dor de pessoas inocentes.” O jornal esportivo turco Fanatik, Demir explicou que o gesto não foi uma sinalização de apoio à Rússia, mas uma forma de destacar a seletividade na comoção relacionada a guerras e mortes pelo mundo. Pois bem, antes que voltemos à camiseta, quatro fatos me chamaram a atenção nas últimas semanas. O primeiro nos remete à destruição e choro em Petrópolis. Mais um luto coletivo por 231 vidas. O segundo fato é que o planeta bateu nas 5,95 milhões de mortes pela Covid 19. O terceiro, a Russia invadiu a Ucrânia e, enquanto escrevo em 02/03, são milhares de mortes registradas, incluindo idosos e crianças. Quarto, na segunda feira, dia 21/02/22, a Corte Constitucional da Colômbia descriminalizou a interrupção da gravidez até a 24ª semana de gestação. As fotos que noticiam a matéria mostram as mulheres comemorando uma vitória jurídica em público, com punhos serrados, as mãos levantadas e faixas com palavras de ordem. Os quatro episódios envolvem a relação entre o choro por mortes e o impacto na sociedade via mídia. Acontece que, pelo impacto da notícia, pelo valor das imagens e pela estética, as mortes em catástrofes chamam a atenção de pronto, enquanto que as mortes silenciosas de nenéns em gestação, agora amparadas pela lei, não leva a qualquer comoção. A maioria das mães que optam pela interrupção da gestação, argumenta “o útero é meu e eu o administro como eu quiser”. A vida da gestante não tem maior valor do que vida do feto. Na verdade não há colisão entre direitos, pois se tratam de pessoas distintas. O feto é uma vida própria e não um amontoado de células e nem tão pouco é uma extensão do corpo da mãe, com a diferença de que não tem voz e defesa. Quando uma nação legaliza o aborto, em nome da sacralização dos direitos humanos, está manchando seu chão com o sangue inocente e, na verdade cerceando o direito à vida. Alguém argumentou dizendo que a descriminalização do aborto não elevaria o número de abortos praticados, pelo contrário, daria maior amparo à saúde das gestantes que fizeram esta opção. Creio que seria um argumento análogo a “Vamos descriminalizar os assaltos a mão armada, afinal, só entrará no mundo do crime quem já estava inclinado ao crime.” ou “Criminalizado ou não os assaltos continuarão a ocorrer.” O Papa João Paulo II denunciou, o que chamou de “agenda da morte”, que estranhamente defende e incentiva o aborto, a eutanásia, o suicídio assistido… Nações que legislam a favor destas agendas, e outras, tem acesso com maior facilidade a favores do Banco Mundial, apoio da ONU e União Europeia, portanto, há incentivos. No Brasil são cerca de 170 mil abortos clandestinos identificados a cada ano, mas este número tende a ser muito maior, talvez cinco vezes mais. No relatório elaborado a partir de dados mundiais, a Worldeters indica que houve 43,3 milhões de abortos em todo o mundo, em 2019 e os números foram próximos entre 2020 e 2021. De acordo com os dados, quando comparado o número de abortos com outras causas de morte, incluindo câncer, HIV/AIDS, acidentes de trânsito e suicídio, os abortos superam em muito qualquer outra causa de morte. Um texto bíblico que muito me chama a atenção sobre a vida intrauterina é o Salmo 139.13-16, com o autor agradecendo pelo trabalho divino enquanto ele estava sendo gestado: “Pois tu formaste o meu interior, tu me teceste no seio de minha mãe. Graças te dou, visto que por modo assombrosamente maravilhoso me formaste; as tuas obras são admiráveis, e a minha alma o sabe muito bem; os meus ossos não te foram encobertos, quando no oculto fui formado e entretecido como nas profundezas da terra. Os teus olhos me viram a substância ainda informe, e no teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado, quando nem um deles havia ainda.” Da mesma forma as palavras de Deus quando da vocação de Jeremias, o profeta: “A palavra do Senhor veio a mim, dizendo: ‘Antes de formá-lo no ventre eu o escolhi; antes de você nascer, eu o separei e o designei profeta às nações” (Jr 1.5). Gosto muito das palavras de Mário Quintana quando se referia ao tema: “O aborto não é, como dizem, simplesmente um assassinato. É um roubo… Nem pode haver roubo maior. Porque, ao malogrado nascituro, rouba-se-lhe este mundo, o céu, as estrelas, o universo, tudo. O aborto é o roubo infinito.” Que Deus nos dê coragem para, além de camisetas, firmarmos nossas convicções pela vida em todos os âmbitos, com presença ou ausência da grande mídia.

Marcos Kopeska
Pastor da 3ª I. Presbiteriana Independente de Marilia, graduado em Teologia, pós graduado em Terapia Familiar Sistêmica, cursando pós em Saúde Mental e atenção Psicossocial.

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Mortes visíveis e invisíveis