Na era que chamamos de Modernidade Líquida, entre correrias, stress, apertos econômicos e pouco tempo para cultivar relacionamentos saudáveis, corremos inúmeros riscos com a nossa alma. Refiro-me à vulnerabilidade cada vez maior de desenvolvermos emoções tóxicas, pelo fato de vivermos no turbilhão cada vez mais intenso dos grandes centros. Um destes riscos a que nos expomos é o de amargar a alma. O termo “amargura”, em hebraico, pode ser traduzido como “suco gástrico voltando à garganta”. Já comeu salgadinho na beira da estrada e ficou com o gosto retornando à garganta a cada uma hora? Então você já conhece o mecanismo da amargura. É o gosto da briga voltando à mente a cada semana. É a raiva estendida, cristalizada e não tratada. É a lembrança da discussão vindo à memória a cada noite antes de dormir. Acontece que pessoas amargas sofrem quando alimentam e agasalham suas razões e seus argumentos, crendo que estão corretos. Não é a questão de estar certo ou não, é questão de sofrimento mesmo. “Cuidado com o Coração Amargo!”. Esse foi o aviso do Dr. Redford Williams da Universidade de Duke – Centro de Pesquisa Comportamental Clínica. Ele diz uma personalidade hostil pode matar – com muita freqüência pelas doenças de coração mas também por lesões e acidentes. Numa pesquisa da Universidade de Duke – EUA, chegou-se à conclusão de que, aqueles que viveram mágoas não tratadas ao longo da vida, chegarão próximo aos 50 anos com a evidente propensão a um infarto. A amargura da alma acelera o ritmo cardíaco, aumenta a pressão arterial, perturba as artérias coronárias, altera o padrão de sono, atinge o sistema imunológico e dificulta a boa digestão. Alguns indicadores de um coração hostil são a impaciência com as demoras, falta de confiança nos companheiros de trabalho, irritabilidade com os hábitos de familiares ou amigos, e uma necessidade persistente de ter a última palavra nas discussões ou de se vingar quando é contrariado. Aliás, dizem que a amargura é um veneno que uma pessoa toma na esperança de que a outra morra. Na verdade a amargura é a ante sala do inferno emocional. Mas há como baixarmos a guarda dos nossos protestos interiores, por vezes silenciosos, diante de Deus e isso traz a cura. Pessoas que vislumbram o caminho do perdão ao próximo, a estrada do perdão para consigo mesmo e a via para o perdão divino, reencontram a leveza da vida. Em 1961, a esposa do grande pensador cristão C.S.Lewis morreu de câncer. Deus que fora tão íntimo e sustentador, agora parecia tê-lo abandonado. Lewis estava frustrado e zangado. Chamou Deus de “sádico cósmico” e duvidou de tudo em que dEle já havia crido. Então, certa manhã, Lewis acordou e constatou que toda a tristeza e dúvida haviam passado. A amargura desaparecera. No meio de sua dor e confusão, ele aprendeu uma lição: “Você não pode ver direito se seus olhos estão marejados de lágrimas”. Talvez seus olhos estejam marejados ou seu coração azedo demais para reconhecer a beleza dos relacionamentos, a alegria das amizades e a bênção de viver em comunidade. Alguns conselhos: 1) Avalie seus ressentimentos com a vida, suas memórias amargas ou seus relacionamentos trincados. Vale a pena continuar com as pendências? Há alguma coisa que possa ser alterada? 2) O perdão será o único e infalível remédio para a amargura. Pense nisso e tenha uma semana com saúde emocional!
Marcos Kopeska é Pastor da 3ª I. Presbiteriana Independente, pós graduado em Terapia Familiar, capelão da PM-10º GB, escritor.