As religiões, nem sempre se conjugaram com os direitos humanos. Em muitos momentos a religião foi promotora da violência ao invés da vida. Todavia, houve momentos histórico-religiosos de profunda defesa da liberdade, da justiça, da igualdade… E, esses momentos precisam ser trazido à memória. Isso não significa afirmar a centralidade de instituições religiosas, mas entende-las no papel de servas da sociedade. Qualquer interesse que vá além de serviço despretensioso, pode significar a volta aos famigerados “balcões de negociação Igreja & Estado” que nos envergonham. O historiador Alvin Schmidt destaca que a influência cristã foi preponderante no século IV para a aprovação de leis contra o infanticídio, aborto, abandono de crianças, mortes de gladiadores em lutas e marcar o rosto de criminosos com ferro em brasa. Também influenciaram leis de reforma das prisões, leis contra pedofilia e contra sacrifícios humanos. No século XVI os primeiros protestantes alemães e suiços lançaram o ensino fundamental público e acessível. O protestantismo também influenciou a Declaração de Independência dos EUA, a Constituição, o pensamento abolicionista, a solidificação da democracia nos EUA e a luta contra o racismo endêmico através do heroico trabalho do Pr. Martin Luther King Jr, sem falar na queda do Regime Apartheid com o metodista Nelson Mandela e o Arcebispo Anglicano Desmond Tutu. Os católicos, ao longo dos últimos séculos investiram em todas as partes do mundo em Santas Casas de Misericórdia, obras de caridade, universidades e colégios. Influência não é proeminência, poder e nem visibilidade midiática. Quando Jesus diz: “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está no céu.” (Mateus 5.16), coloca a glória de Deus como o ponto culminante da inserção política da igreja. A influência nunca deveria ser um jogo de trocas “toma lá dá cá” com tantos cabides de emprego ao dispor para a Igreja B, propriedades para a Igreja A ou favores para a denominação X. Fomos chamados para servir, não para sermos servidos. A atuação do povo cristão tem sido vergonhosa, em se tratando de cidadania, influência positiva na macro (e micro) expressão de governo. Wayne Grudem no livro “Política Segundo a Bíblia”, escreve que a influência expressiva não é sinônimo de influência irada, beligerante, intolerante, julgadora, desatinada, mas, cativante, inteligente, persuasiva… Há muita coisa a ser ajustada, por exemplo, nossa sociedade não conseguiu resolver o problema de sua laicidade. O Estado é laico quando convém. Basta lembrar como a última eleição presidencial no Brasil virou um conflito entre diferentes vieses religiosos. Basta lembrar que a igreja da maioria recebeu, gratuitamente, de governos estaduais e municipais, cerca de 92% de seus terrenos em todo o território nacional. Mas estes motivos não nos impedem de seguirmos influenciando nossos círculos menores com serviço despretensioso, mão estendida e coração acolhedor. Há muita coisa a ser feita e você pode filiar-se ao Centro de Valorização da Vida, voluntariar-se doando algumas horas semanais para um lar de idosos, entrar em contato com uma unidade da APAE,.. Influencie a seu nível! Floresça onde está plantado! Tire sua fé da gaveta da teoria e expresse-a em obras. Num nível mais amplo, atente para as justiças e injustiças da cidade, do Estado e da nação. Informe-se sem confundir informação com fake news. Procure caminhos, além do voto, para ser atuante em causas pautas maiores. Se você é um líder religioso, poderá pensar, de que forma orientar seus liderados a engajarem-se em causas nobres. Por exemplo, a igreja em que eu participo está profundamente envolvida com as leis de proteção à infância e adolescência, à luta contra o abuso infantil e à luta pela escola sem partido. Outras comunidades podem promover consciência contra a violência doméstica, ações a favor da igualdade racial, programas de alfabetização… Não espere grande adesão naquilo que abraçar como causa. Quando Jesus disse que nós, os seus discípulos somos o sal da terra, há um insight interessante aqui. O sal é o tempero discreto e não o alimento. Para um prato de comida, estima-se que precise de 20 g de sal. Nunca será 300 g de sal para 300 g de alimento. Para uma boa influência, não é necessário ser maioria. Finalmente, devemos lembrar que a relação entre política e religião está longe de ser uma questão resolvida, tanto no Ocidente quanto no Oriente. Nossas conquistas nesse campo são mais frágeis do que imaginamos, a menos que compreendamos que o papel da religião nesta relação não é “operar” o Estado, mas “influenciá-lo positivamente.” Que Deus nos dê sabedoria nesta missão!

Marcos Kopeska é Pastor da 3ª Presbiteriana Independente, graduado em teologia e pós graduado em Terapia Familiar Sistêmica, escritor e capelão da PM

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Religião e Política: operando ou influenciando?