Conhecer a causa do seu sofrimento é o início mais seguro na caminhada para a superação. Nem sempre é possível o próprio depressivo identificar a causa da sua prostração, mas hoje há recursos dos especialistas para isso. Diagnosticar com precisão o tipo de depressão e a sua respectiva origem é como negociar com incontáveis possibilidades, algumas objetivas outras subjetivas, mesmo porque não estamos trabalhando no campo das ciências exatas. Como diriam nossos avós: “É como procurar uma agulha no palheiro”, tarefa difícil mas compensadora. Por isso a necessidade de conversarmos muito com o depressivo. Devemos considerar duas causas primárias, com base na origem da doença. A primeira, depressão de natureza biológica, inerente da alteração da química do corpo. Em nosso cérebro existem mensageiros químicos chamados neurotransmissores que ajudam a controlar as emoções. Os dois mensageiros principais são a serotonina e a norepinefrina, cujos níveis aumentam ou diminuem, alterando nossas emoções. Quando os neurotransmissores encontram-se em equilíbrio, sentimos a emoção certa para cada ocasião. Então, quando alguém nasce com a deficiência na produção destes neurotransmissores, ou, após certa idade o corpo não mais os produz, logo esta pessoa há de padecer da depressão como desdobramento da baixa produção do organismo. Volto a lembrar que isso não tem a ver apenas com o fator fé, mas trata-se de fator fisiológico. A segunda, que aqui denominados depressão reativa, é causada pelas circunstâncias agressivas da vida, na maioria pontuais, as quais chamamos de “gatilhos”. Muitos podem ser os eventos que acabam por culminar na depressão: acidente, trauma, doença, perda, mudança brusca, oposição intensa, falência, ruptura afetiva… Esther Carrenho define: “O problema já passou ou ocorreu há muito tempo e a tristeza continua presente, forte, como se fosse uma tatuagem impregnada na alma.” Vale a pena lembrar que para eventos do psique não existe linha do tempo. Na verdade é a somatização dos episódios indigestos impostos pelas suas histórias de vida. Conhecer a causa da depressão ajuda o depressivo, seus amigos e sua família a entender as nuances, o quadro maior e as possibilidades de tratamento. Ouvi a respeito de uma senhora que entrou em depressão assim que seu cãozinho de estimação morreu. Os amigos julgaram de pronto a fragilidade quase infantil da mulher. Procurei ouvir um pouco mais sobre sua vida e descobri que num período de dois anos ela acumulou eventos traumáticos como divórcio, doença do pai, perda da mãe e falência do empreendimento. A morte do cachorrinho, portanto, não foi a causa isolada da depressão, mas a causa que completou a equação. O que não está claro é quando a depressão conduz os eventos da vida e quando esses eventos induzem à depressão. Síndrome e sintoma se confundem e provocam um ao outro, mas independente disso, em meio às torrentes de pressão, aproprie-se das confiantes palavras do salmista: Do meio da angústia invoquei o Senhor; o Senhor me ouviu, e me pôs em lugar largo. O Senhor é por mim, não recearei; que me pode fazer o homem? (Salmos 118.5,6)
Marcos Kopeska Paraizo
Pastor, graduado em Teologia e pós graduado em Terapia Familiar, pós graduado em Saúde Mental, escritor e palestrante. Autor dos livros “Superando a Dor no Luto” e “Enfrentando e Superando a Depressão” (na Livraria Manah Books, esquina da R. 24 de dezembro e R. 9 de julho – centro Marília).