Imagino que ainda estamos longe, muito longe, de mapearmos as causas mais primárias, raízes mais profundas e desdobramentos da depressão, bem como de outros distúrbios mentais. Mas concordo plenamente que precisamos falar, escrever e esclarecer sobre tais temas, sem tabus. Eu e o Dr. Guilherme Falcão estamos, por estes dias, lançando o livro “Enfrentando e Superando a Depressão” (Edit. Esperança) pensando em como oferecer alento a quem passa por esta sensação de densa escuridão, vazio absoluto e inércia da alma. No momento em que 4,4% da população mundial sofre com o chamado “mal do século”, nós brasileiros, contamos com o preocupante percentual de 5,8% de pessoas para as quais todos os dias são cinzentos e as penumbras se alternam com densas meias-noites. Apesar dos sintomas alarmantes e das sensações confusas, somente um terço delas procura ajuda. Dentre os sintomas mais básicos estão a tristeza sem relação com a vida pessoal, sentimento culposo, perda de energia, instabilidade do sono e do apetite, incapacidade de tomar decisões, entre outros. Então, como administrar o desânimo total, as ideias pessimistas, a ansiedade incessante, o desejo diário pela morte, a angústia inexplicável e perturbação latente? Muitos amigos, cheios de boa vontade, tentam ser os prestativos, no entanto, com conselhos “mágicos” e simplistas:
O desinformado diz: “Você tem que reagir! Afinal, você é um cristão referência.”
O superespiritual apela: “É só orar mais! Depressão é desdobramento da falta de fé.”
O amigão sugere: “Vamos conversar, abra seu coração!”
O otimista tenta: “Levante-se e sorria! Olhe a vida de frente!”
O “crentão” dá o “pitaco”, estilo “amigo de Jó”: “Onde está sua fé? Que pecado você cometeu?”
É fato que, depressão não é faniquito, não é “falta de Deus na vida” e não é falta de ter o que fazer. A depressão não é tão somente um mal emocional. Trata-se de uma doença física, um adoecimento do cérebro e do corpo e que precisa ser tratada com clareza e seriedade, pois pode levar a pessoa à morte. Aliás, 15% dos depressivos tiram a própria vida.
Falar sobre alguns temas, como a depressão, pode ser um tabu. Dizer que algo é um tabu pode significar que é sagrado, perigoso, imundo ou impuro. Cada sociedade possui os seus próprios padrões morais. Tabus existentes em uma cultura podem não existir em outras. Os tabus são criados por convenções sociais, religiosas e culturais. Há que se quebrar o estigma e dialogar abertamente acerca de. Mas, por onde começar? A sociedade médica precisa publicar dicas de prevenção e cuidado; a igreja deve ter propostas de orientação e acolhida; o cidadão precisa se informar melhor antes de estabelecer julgamentos; e pessoas que começam a sentir os primeiros sintomas, devem procurar ajuda médica rapidamente. Palestras, livros, reportagens e rodas de conversa ajudam muitíssimo a quebrar o gelo e abrir portas para a busca por ajuda. Então, podemos falar abertamente sobre o problema que mais incapacita pessoas para o trabalho no mundo inteiro?
Que Deus nos dê sabedoria para abrirmos portas e sermos uma sociedade terapêutica, cuidando de nossos feridos.
Marcos Kopeska Paraizo | Pastor da 3ª IPI de Marília.
Graduado em Teologia, pós graduado em Terapia Familiar Sistêmica, cursando pós graduação em Saúde Mental, Psicopatologia e Atenção Psicossocial. Escritor e articulista.