Por incrível que pareça, os cães, também conhecidos como os melhores amigos do homem, dormem de forma semelhante aos seus tutores, sem desligar a capacidade de percepção do ambiente. É o que aponta um estudo liderado por pesquisadores da Universidade Eötvös Loránd, na Hungria, que avaliou o impacto dos sons caninos e das vozes humanas no cérebro destes animais, quando estão dormindo profundamente.
“Pela primeira vez, mostramos que os cães também processam informações sobre valência emocional [níveis de positividade, neutralidade ou negatividade do que ouvem] e diferentes espécies [como outros cães e humanos] durante o sono, reagindo ativamente aos estímulos do ambiente, mesmo nas fases de sono profundo“, afirmam os autores do estudo publicado na revista Scientific Reports.
Anteriormente, outras pesquisas já identificaram esta mesma capacidade em humanos, mas também em primatas não humanos (PNH) e em camundongos.
Por que é importante escutar vozes e sons durante o sono?
“Os mamíferos passam uma parte considerável da sua vida dormindo”, lembram os autores. Dessa forma, “ser capaz de processar estímulos ambientais não apenas enquanto estamos acordados, mas também durante o sono é vital para a sobrevivência”, acrescentam.Cachorros distinguem sons humanos e animais mesmo quando estão em sono profundo (Imagem: Juan Gomez/Unsplash)
Só que, até então, não se sabia qual era o nível de percepção do ambiente pelos cães enquanto dormiam. Por outro lado, é facilmente observável que os cachorros (quando acordados) reagem de diferentes maneiras, dependendo dos sons que captam. Para citar apenas um exemplo, estes animais quase sempre sabem o que o tom de voz de seu tutor significa. Parte desse mecanismo, também funciona durante o sono.
Vale mencionar que, em nós, os humanos, quando estamos dormindo, escutar os nossos nomes gera uma resposta específica do que a produzida por outros sons ou mesmo falas. Isso ocorre devido ao fato do cérebro não desligar por completo do ambiente.
Experimento mede a percepção dos cães enquanto dormem
Para medir o impacto dos estímulos ambientais no cérebro dos cães, os pesquisadores recrutaram 13 cachorros — e os seus respectivos tutores — para um experimento em laboratório. Foram instalados equipamentos de eletroencefalografia (EEG) na cabeça dos animais, o que permite a medição da atividade cerebral em diferentes momentos do sono. A seguir, confira como foi desenvolvido este processo:
De fato, os cães não estavam tão confortáveis no momento da fixação dos eletrodos, mas os autores entendem que isso não limita, significativamente, os resultados obtidos.
Em diferentes estágios do sono, os cães escutaram uma variedade de sons. Entre os de origem canina, foram reproduzidos rosnados, grunhidos e gemidos. Vindo dos humanos, as vocalizações eram sempre positivas (como risos) ou neutras (tosse, bocejo e suspiros).
Através dos dados do EEG, foi possível realizar uma análise do tipo Potenciais relacionados a eventos (PRE) — esta permite identificar o nível de atividade cerebral, geralmente usada na investigação dos mecanismos neurais relacionados a uma percepção auditiva.
“Os resultados mostraram que as vozes humanas provocaram uma resposta PRE mais positiva do que os sons dos cães numa janela de tempo que varia entre 250 e 650 milissegundos após o início do estímulo”, afirmam os autores. Além disso, as análises indicam que os cães conseguiam identificar se um ruído vinha de outros cães ou de humanos, e as emoções envolvidas.CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE
Dessa forma, “descobrimos que os cérebros dos cães processam informações sobre espécie, bem como informações de valência [classificadas como positivas ou neutras] durante o sono profundo [a última fase não-REM]”, completam os autores. Dito isso, o comportamento do sono canino e humano é muito mais próximo do que anteriormente imaginado.
Fonte: Scientific Reports