Reprodução O Antagonista

Moradores de um condomínio residencial localizado no bairro José de Alencar, em Fortaleza, capital do Ceará, foram ameaçados por facções criminosas através de pichações feitas no muro.

Os criminosos estipularam um prazo de 24 horas para que os habitantes do condomínio se mudem do local, conforme consta em imagens divulgadas pela mídia cearense, nesta quarta-feira, 1º de outubro:

“Se desacreditar, vamos pega você na saída”, ameaçaram os criminosos, que também picharam nos muros as placas dos carros dos alvos da intimidação. “Todas informações de vocês cabueta é bala na cara” e “Vai morrer”, também foram pichados.

Os demais moradores do condomínio poderiam permanecer, afirmaram os criminosos, desde que seguisse as ordens impostas. Até a publicação desta matéria, nenhum suspeito do crime havia sido preso.

Esse é um cenário que está se tornando cada vez mais comum no Ceará. A guerra entre facções criminosas no estado, governado há mais de dez anos pelo Partido dos Trabalhadores (PT), é intensa, tendo sido registrado um aumento significativo de mortes violentas ligadas essas disputas.
O Ceará é um ponto estratégico para o tráfico de drogas devido à sua localização costeira, o que atrai grupos como o Comando Vermelho (CV), o Terceiro Comando Puro (TCP), o Primeiro Comando da Capital (PCC) e facções locais como os Guardiões do Estado (GDE) e a Massa Carcerária (ou simplesmente Massa).

De acordo com o governador Elmano de Freitas (PT), cerca de 90% dos homicídios no estado são atribuídos a confrontos entre sete facções principais, com um pico de violência em 2025.

Nos primeiros três meses do ano, foram registradas 729 mortes violentas, muitas delas diretamente relacionadas a esses conflitos.

Um homem foi encontrado decapitado e com o tórax e parte do abdômen abertos na manhã da terça-feira, 30, em um parquinho localizado no bairro Alto Alegre, em Maracanaú (Região Metropolitana de Fortaleza), com a possibilidade de o coração da vítima ter sido arrancado pelos criminosos.

O homem assassinado estava com as mãos amarradas. Facas que teriam sido usadas no crime foram localizadas nas proximidades do cadáver.

Ataque a alunos de Sobral foi mandado por PCC

Há uma semana, no dia 25 de setembro, houve um ataque à escola de ensino médio Professor Luis Felipe, em Sobral. O ataque teria sido feito a mando da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).

O suspeito preso pelo crime, Bruno Amorim Rodrigues, 29, era membro do grupo criminoso, tendo trocado de facção recentemente. Um dos alunos mortos vendia drogas na escola e era morador de bairro de facção rival.

As informações constam no inquérito policial que apura as circunstâncias do caso. Bruno “Banga”, como é conhecido, fugiu rumo ao bairro Sumaré, área dominada pelo PCC, logo após a ação criminosa,

A investigação aponta ainda que ter ocorrido uma “reunião de conselho” da facção para avaliar a gravidade do crime, já que a ação atingiu adolescentes da própria área.

Em depoimento, a irmã do suspeito afirmou que a família precisou mudar para o bairro há quatro meses, quando Bruno “rasgou a camisa” do Comando Vermelho e passou a se vincular ao PCC. A morte dele teria sido decretada pelo CV, segundo ela.

Testemunhas ouvidas no inquérito reforçaram a hipótese de que o crime foi motivado por brigas entre as facções criminosas.

Pessoas ouvidas pela Polícia afirmam que VG, como era chamado, vendia maconha na escola e estava “se envolvendo” com pessoas do bairro onde morava que faziam parte do Comando Vermelho.

A União do TCP com facções locais contra o CV

Em meados de setembro de 2025 (por volta do dia 15), circulou um comunicado oficial e vídeos do TCP-CE anunciando uma aliança com as facções locais GDE e Massa para “aniquilar” o CV, descrito como “raça imunda”.

O texto enfatizava uma “doutrina diferente”, com cada grupo controlando sua área sem interferências, e visava trazer “dias melhores” ao eliminar o rival.

Vídeos mostravam integrantes exibindo fuzis e proferindo ameaças como “vamos matar todo mundo”, especialmente contra áreas controladas pelo CV.

Essa união foi marcada por queimas de fogos coordenadas em várias regiões do estado nas noites de 15 e 16 de setembro, celebrando a tomada de territórios ou a aliança.

A GDE, enfraquecida por perdas recentes, decidiu “fincar a bandeira” do TCP, efetivamente se fundindo ao grupo carioca para intensificar a luta contra o CV, que vinha avançando em Fortaleza. Mapas de divisão territorial circulavam em grupos de mensagens, e pichações em muros confirmavam a integração.

No entanto, a aliança não tem sido totalmente bem-sucedida: posts recentes em redes sociais indicam que o TCP perdeu territórios para o CV, como a Comunidade das Malvinas no bairro Quintino Cunha, em Fortaleza, no final de setembro.

Há relatos de “guerras de queima de fogos” perdidas pelo TCP na Grande Fortaleza, e até zombarias online sobre o grupo “perdendo para indígenas” em algumas áreas.

O discurso nas redes segue agressivo: vídeos do TCP ameaçam moradores que “ajudarem rivais”, prometendo “tomar o Ceará” e impondo terror em comunidades, com comércios fechando cedo e pais evitando mandar filhos à escola.

Do lado do CV, há infiltrações e ganhos territoriais, com posts descrevendo cidades “fantasmas” devido a expulsões de moradores em meio à guerra. Há menções a investimentos do TCP vindos do Rio de Janeiro para “terceirar o estado inteiro”.

Posição do Governo

O governo do Ceará, liderado por Elmano de Freitas (PT), afirma estar “atento” a todas as organizações criminosas, com monitoramento de comunicações e ações integradas para conter a violência.

No primeiro semestre de 2025, prisões por integração a organizações criminosas aumentaram 451%, e capturas por homicídios cresceram 282%, totalizando 1.421 suspeitos detidos por crimes violentos.

Recentemente, uma operação mirou 20 integrantes do CV no Ceará, que recebiam ordens de líderes no Rio de Janeiro.

Apesar disso, há bastantes críticas: analistas e posts online acusam o governo de “covardia ou cumplicidade” por não classificar as facções como terroristas, tratando-as como mero “problema de segurança pública”, o que custaria vidas.
O governador destaca que o Ceará é “atrativo” para criminosos devido à geografia, mas promete conter a onda de violência que se intensificou em 2024-2025.

Fonte: O ANTAGONISTA 

Fonte: Diário Do Brasil

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Facções criminosas ameaçam “tomar o Ceará”