Há quase vinte anos fora do Palácio do Planalto, o PSDB chega a mais um ano pré-eleitoral envolto em disputas internas. Desta vez, o governador paulista João Doria e o ex-presidenciável Aécio Neves são os protagonistas da divergência, que também envolve as eleições na Câmara, o governador gaúcho Eduardo Leite e o pleito presidencial de 2022.
Eleições na Câmara
O governador João Doria defendeu que o PSDB se engajasse na campanha de Baleia Rossi (MDB-SP) para presidente da Câmara dos Deputados, aliado a Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Nos últimos dias antes da eleição na Câmara, parte da bancada do PSDB, assim como o DEM de Maia, se aproximou da candidatura de Arthur Lira (PP-AL), eleito com apoio do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). João Doria avalia que o partido está paralisado em Brasília.
Para ele, o PSDB deveria fazer uma oposição mais rígida ao governo Jair Bolsonaro (sem partido). O governador também enxerga que a maior força do partido vem do cargo que ele ocupa, comandando São Paulo, o maior colégio eleitoral do país.
João Doria
Buscando viabilizar uma candidatura a presidente da República em 2022, Doria articula para assumir o comando do PSDB em maio, mês em que acaba o mandato da atual gestão da legenda.
O governador João Doria negou que tenha proposto assumir o comando do partido, hoje dirigido pelo ex-deputado e ex-ministro Bruno Araújo.
No entanto, o governador admitiu que a ideia foi levantada por dois aliados próximos a ele: o presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, Cauê Macris, e o ex-ministro Antonio Imbassahy.
“Eu nunca falei isso. Quem falou isso foram o deputado Cauê Macris e o Imbassahy”, afirmou João Doria. Araújo estava presente no encontro em que o assunto foi discutido.
Aécio Neves
Não é a primeira vez que aliados do governador paulista falam em expulsar Aécio Neves do PSDB, assunto que voltou à pauta em uma reunião organizada por João Doria no Palácio dos Bandeirantes na segunda-feira (8).
O ex-governador de Minas Gerais e ex-presidenciável foi alvo de pedidos de expulsão apresentados em 2019 pelo diretório do PSDB na cidade e no estado de São Paulo. A Executiva Nacional da legenda analisou o caso em agosto daquele ano e rejeitou os pedidos, mantendo o hoje deputado federal no partido.
Aécio e outros nomes próximos a ele são vistos como pontos de resistência a Doria na bancada do PSDB na Câmara. Em nota publicada após a sua expulsão ser aventada, Aécio Neves criticou Doria, afirmando que o governo busca “se apropriar” do partido.
“O destempero do governador se deve, na verdade, à sua fracassada tentativa de se apropriar do partido”, disse o deputado federal. O posicionamento do ex-presidenciável foi corroborado pelo líder tucano na Câmara. Em nota, Rodrigo de Castro (PSDB-MG) afirmou que o afastamento de Aécio “não é sequer cogitado” entre os deputados da legenda.
Eduardo Leite
Além de São Paulo, o PSDB governa mais dois estados brasileiros: o Mato Grosso do Sul, com Reinaldo Azambuja; e o Rio Grande do Sul, com Eduardo Leite. O governador gaúcho já foi citado em outras oportunidades como possível alternativa para a liderança do partido e é para ele que os resistentes a Doria estão olhando neste momento.
Deputados críticos ao governador paulista dentro do PSDB planejam viajar a Porto Alegre. Na capital gaúcha, a intenção é propor a Eduardo Leite que comece a se movimentar para ser o candidato tucano a presidente em 2022. Tanto é que uma comitiva de deputados do PSDB desembarcou ontem em Porto Alegre para um lançamento informal do nome do governador gaúcho, Eduardo Leite, à Presidência em 2022. O movimento é liderado pelo deputado Lucas Redecker (RS) e tem o apoio de parlamentares que se rebelaram contra o governador João Doria (SP).
“O governador Doria, que é homem de inegáveis qualidades, mais uma vez não foi bem politicamente. Ele tem que conquistar a simpatia do partido, e não buscar tomar para si a presidência como meio de evitar prévias ou preferências de membros do partido por outros nomes, como do governador Eduardo Leite”, disse ao colunista o deputado Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG).
Leite não negou nem confirmou a possibilidade de entrar em ambas as disputas. Ele disse ser muito cedo para discutir as sucessões, mas disse que Doria não pode “se impor” como o sucessor de Bruno Araújo. “Doria merece todo meu respeito, mas assumir a presidência de um partido que tem a história do PSDB não é simplesmente dizer ‘quero assumir essa ou aquela posição’. Tem que construir a sua liderança, você não impõe”, disse.
E ainda por cima, depois que de deputados federais e presidentes estaduais, os senadores do PSDB também declaram apoio unânime à prorrogação do mandato do atual presidente nacional do partido, Bruno Araújo, no comando da sigla, impedindo o que chamam de “golpe” do Doria.
Eleições de 2022
Boa parte das discussões políticas tratam de perspectivas de poder, olhando para as eleições seguintes. E a disputa interna do PSDB não é diferente. A eleição da Câmara, o rumo da pauta política neste ano no Congresso e os ajustes partidários internos fazem parte das movimentações políticas com vistas ao pleito de 2022.
Os últimos dois candidatos tucanos à Presidência, Aécio Neves (2014) e Geraldo Alckmin (2018), concorreram sentados na cadeira de presidentes nacionais do PSDB.
Por sinal, a ascensão de Alckmin ao cargo no final de 2017 foi a oficialização dele como o principal porta-voz do partido, após meses de disputas internas com João Doria, então prefeito de São Paulo, que cogitava se colocar como candidato em 2018.
As movimentações de Doria também incluem, além da saída de Aécio Neves, possíveis novas filiações ao PSDB. No radar do partido, o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia e o vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, ambos hoje filiados ao DEM.