O ministro da Defesa, José Múcio, fez um discurso incisivo nesta terça-feira (9) na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, expondo as dificuldades estruturais das Forças Armadas e cobrando apoio parlamentar para garantir maior previsibilidade orçamentária. Segundo Múcio, a defesa brasileira convive com restrições tão severas que chegam a ameaçar a soberania nacional. “Não somos nada em relação ao tamanho do país”, lamentou. O ministro fez um alerta grave aos senadores: “O Brasil não tem o mínimo de infraestrutura bélica para manter um conflito com nenhum país que seja. Falta combustível, falta peça, falta munição. Temos 30 dias de munição, mas se o inimigo voltar outra vez, nós não temos nada o que fazer”. Múcio pediu ajuda ao Parlamento e ressaltou que a defesa nunca foi prioridade dos governos, vivendo de medidas episódicas, sem planejamento de longo prazo. “Na minha visão, o Brasil precisa de união. Eu vim aqui atrás de ajuda, mas vim fazer um gravíssimo alerta. Precisamos criar alguma coisa que não dependa do humor da política. Isso é perigosíssimo para a democracia”, afirmou. O ministro defendeu a criação de uma fonte de financiamento estável, nos moldes do Chile com o cobre, para que as Forças Armadas possam se modernizar. Ele também destacou que defesa e diplomacia são “irmãs inseparáveis” e criticou o baixo investimento nacional: o Brasil destina apenas 1,04% do PIB para defesa, índice inferior ao de todos os vizinhos sul-americanos. “Temos bastante equipamento, mas não temos dinheiro para combustível nem para peças. Adiamos contratos e pagamos juros que equivalem a submarinos e aviões inteiros”, explicou. Reações de parlamentares A postura do ministro recebeu elogios e críticas de parlamentares. O senador Jorge Seif (PLSC) destacou a sinceridade de Múcio e seu posicionamento sobre os episódios do 8 de janeiro, que classificou como vandalismo e efeito manada, não golpe de Estado. Seif também pediu mais investimentos para a Marinha, alertando para a pesca predatória em águas brasileiras. Já o deputado general Girão (PLRN) criticou a fragilidade da fronteira norte e a situação da operação acolhida em Roraima: “Não adianta mandar 5 mil homens para lá e depois eles saírem. O que garante soberania é a permanência das forças”. Ele também questionou o governo sobre as condenações de militares no Supremo Tribunal Federal. Defesa como política de Estado Múcio reforçou que as Forças Armadas não podem ser politizadas e que seu papel é constitucional, independente de governos: “O militar não pode agradar partidos ou lideranças políticas atrás de apoio. O objetivo das Forças Armadas é zelar pelo patrimônio da sociedade brasileira, seja lá quem estiver governando”. Para o ministro, o Congresso deve assegurar um porcentual mínimo de investimentos em defesa, protegido das disputas partidárias. “Não é ajudar o governo ou a oposição, é ajudar o país. Quando defendemos o Brasil, defendemos o Brasil do governo e da oposição”, concluiu Múcio.

Fonte: Diário Do Brasil

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‘Falta combustível, falta peça, falta munição’ diz ministro da defesa