Passar em concurso para magistratura não é fácil. Pelo menos isso é o que relata o juiz federal Kleiton Ferreira. Nascido em Arapiraca, no Alagoas, o magistrado é candidato a virar ‘famoso’ nas redes. Ele mantém uma conta em rede social em que dá conselhos, fala da sua formação até passar para juiz e ainda divulga audiências que conduz na Justiça Federal. Só no Instagram, ele tem quase 200 mil seguidores. 

Ferreira viralizou nas redes e seu Instagram tem quase 200 mil seguidores graças a vídeos de audiências online — gravadas e compartilhadas pelo próprio juiz — em que ele bate papo com as pessoas e as trata com camaradagem e de forma descontraída, sem a formalidade comum ao Judiciário.

Em vídeo com quase 40 mil curtidas, ele atende uma mulher que busca pensão pelo marido falecido. Ela aparece na audiência usando óculos de sol e o juiz logo pergunta, “a senhora está com problema ‘de vista’?”. Quando ela responde afirmativamente, ele emenda: “mas é estiloso esse óculos da senhora”.

Ele pergunta se foi ela que escolheu os óculos, a compara com uma “artista de cinema” e só depois entra no caso. Ela havia sido casada por cerca de 15 anos, quando divorciou-se em 2014. O marido ficou um ano longe, mas voltou, começou a beber, quebrou o fêmur e o braço, ficou doente e acabou internado no hospital até falecer.

“Ele deve ter aprontado com a senhora e foi embora, depois voltou doente ‘pra’ senhora cuidar dele, não foi?”, questionou o juiz e compartilhou até casos da própria família, antes de acatar o acordo proposto e dar a pensão para a mulher.

Em outro caso publicado em suas redes, ele declara procedente o pedido de aposentadoria de uma mulher que diz não saber ler ou escrever, mas não sem antes questionar a assinatura nos documentos. “Eu vi aqui uma assinatura que a senhora fez, tão bonitinha a letra”, comenta. Quando a mulher conta que foi o advogado que a ajudou a assinar, ele ri e acrescenta: “O que vale foi a intenção da senhora. A senhora quis assinar mesmo, né?”

Quando diz que ela está aposentada, a partir de um acordo entre a autora e o INSS, a mulher começa a chorar. “Pelo amor de Deus, dona Edna, fique calma, porque toda vez que alguém chora eu começo a chorar também”, diz Ferreira. O vídeo, postado por ele em suas redes sociais, tem mais de 54 mil curtidas.

Professor, entregador de móveis, advogado, carteiro: as profissões de Kleiton Ferreira

Antes de ser juiz federal e se tornar conhecido pelas suas audiências descontraídas, Kleiton Ferreira diz que perseguiu outras vocações. Afirmou que logo no fim do ensino médio, fez cursinho de redação para tentar o vestibular de medicina, mas, como ele próprio conta, não se dedicou, “só tirava zero” e não passou no vestibular. Então voltou para Arapiraca, sua cidade natal, e começou a cursar Biologia. Já no primeiro período, virou professor.

Depois do nascimento da primeira filha, mudou de rumo, porque, de acordo com ele, as aulas pagavam pouco. Foi trabalhar com o pai, que tinha uma empresa de móveis. Segundo seu relato em um vídeo nas redes, começou varrendo o chão e cresceu até se tornar entregador de móveis. Mais adiante, passou em um concurso nos Correios, para ser carteiro.

Enquanto entregava cartas, mudou também de faculdade. Deixou Biologia para ingressar no Direito, o que mudou também sua profissão. Depois do nascimento do segundo filho, passou em um concurso para estagiário da Justiça Federal e saiu dos Correios — o salário era menor, mas ele tinha mais tempo para estudar.

Mas o trabalho por lá não foi o que ele esperava. “Eu era muito ruim em quase tudo o que fazia”, conta no vídeo. Ele errava tanto no estágio que foi avisado de que seria desligado. Depois disso, “virou uma chave”, começou a estudar mais e trabalhar o máximo que podia, até ser convidado para estagiar em um escritório de advocacia particular.

A partir disso passou na OAB e trabalhou como advogado tributarista por 10 anos.

Foi então que buscou os concursos para magistrado, passou por dificuldades financeiras, complicações de relacionamentos, problemas psicológicos, até finalmente passar no concurso para o Tribunal Regional Federal da 2ª região, no Rio de Janeiro, no final de 2018. “Fui o último colocado, assim como no estágio, assim como no Correio, também no concurso da justiça federal. O último, mas passei”, diz.

Mas a posse também atrasou, primeiro por problemas no próprio TRF, depois pelo desafio da pandemia. Foi empossado apenas em novembro de 2020. Só então pôde assumir o cargo. Mais tarde, conseguiu transferência para o TRF da 5ª região para ficar lotado na vara de Patos, na Paraíba.

Terra 

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Juiz federal viraliza nas redes sociais por tratar muito bem as pessoas e com excelente humor. Sem se sentir Deus, diz: “amo o que faço”. Veja vídeos!
Foto: Reprodução/Redes sociais