Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) fizeram piada ontem sobre a possibilidade de serem impedidos de entrar nos EUA depois da vitória de Donald Trump na corrida pela Presidência da República.
A brincadeira era adivinhar qual deles seria o primeiro a ter o visto revogado pelo novo presidente norte-americano, que é aliado de Jair Bolsonaro.
A conversa ocorreu quando os magistrados se preparavam para entrar na sessão do plenário. Na sala estavam o presidente da Corte, Luís Roberto Barroso, e os ministros Flávio Dino, Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Alexandre de Moraes e Kassio Nunes.
Em setembro, um grupo integrado por um senador e por quatro deputados norte-americanos, todos do partido Republicano, encaminhou carta ao Secretário de Estado americano, Antony Blinken, solicitando a revogação de vistos de todos os magistrados do STF.
Eles chamavam o ministro Alexandre de Moraes de “ditador totalitário” e argumentavam que os outros membros do Supremo eram “cúmplices destas práticas antidemocráticas”.
O documento manifestava inconformismo com a decisão de Moraes de suspender perfis do X e a própria plataforma de Elon Musk, punida depois de descumprir determinações judiciais.
A carta foi solenemente ignorada pelo governo comandado pelo democrata Joe Biden.
A expectativa no STF é a de que a eleição de Trump aumente a pressão sobre a Corte. A meta seria dobrar os magistrados para que eles concordem com a reversão da inelegibilidade de Bolsonaro, e também com uma anistia que o permita concorrer às eleições presidenciais de 2026.
Os magistrados brasileiros, no entanto, demonstravam tranquilidade sobre o novo contexto político, de acordo com integrantes da Corte que ouviram as brincadeiras.
As pressões vindas dos EUA já eram inúmeras, mas nunca evoluíram para atos concretos contra o STF.
Além de pedir cancelamento do visto dos magistrados brasileiros, parlamentares norte-americanos divulgaram um relatório sobre “o ataque à liberdade de expressão no exterior e o silêncio da administração Biden: o caso do Brasil”.
O documento foi elaborado pelo comitê de assuntos judiciários da Câmara dos EUA.
Os deputados norte-americanos que tomaram a frente da investigação foram municiados por parlamentares brasileiros alinhados com o bolsonarismo. Houve o pedido de sanções econômicas contra o Brasil.
Elon Musk também investiu contra o STF, atacando Alexandre de Moraes em seu pefil no X (ex-Twitter) e desobedecendo ordens judiciais. Com os Democratas no poder, as pressões não evoluíram.
Musk recuou, acatou todas as determinações do magistrado e o X voltou ao ar.
Integrantes do grupo de Bolsonaro acreditam que o quadro no STF pode mudar quando os magistrados começarem a sentir “o vento contra” da vitória de Trump.
Fonte: Folha de S. Paulo