
O deputado Luciano Zucco (PL-RS), líder da oposição na Câmara. (Foto: Kayo Magalhães / Câmara dos Deputados)
A temperatura política em Brasília segue alta após os julgamentos do Supremo Tribunal Federal sobre os atos de 8 de janeiro. O líder da Oposição na Câmara dos Deputados, deputado Luciano Zucco (PL-RS), analisa esse contexto em entrevista à coluna Entrelinhas. Para ele, o Supremo extrapolou suas funções, transformou um processo que deveria ser jurídico em um ato de perseguição política e deixou claro que o equilíbrio entre os poderes está em risco.Zucco afirma ter assistido a todos os votos dos ministros e diz que apenas Luiz Fux apresentou um posicionamento técnico, “baseado em jurisprudência e provas”. Os demais, segundo o deputado, agiram como “militantes políticos, rindo e comentando futebol”durante o julgamento. “O que vimos não foi justiça, foi espetáculo”, dispara.
Defensor de uma anistia ampla para os condenados, Zucco classifica a situação atual como um atentado à democracia e cobra uma reação do Congresso. Para ele, o Parlamento precisa mostrar força, recuperar o respeito ao devido processo legal e garantir que pensamento não seja tratado como crime no Brasil. “Se fosse Lula no banco dos réus, a esquerda estaria em chamas. Mas quando é a direita, tudo se normaliza”, provoca.
Entrelinhas: Qual foi sua impressão sobre os votos dos ministros no julgamento da suposta tentativa de golpe?
Zucco: Eu assisti a todos os votos. Vi quatro ministros claramente envolvidos politicamente, debochando, falando de futebol, como se não estivessem tratando de um caso sério. O voto do ministro Luiz Fux foi diferente: técnico, baseado em jurisprudências e peças jurídicas, mostrando o que já sabemos: não existe golpe com 150 pessoas, não existe ninguém a ser punido por “intenção” de golpe.
Estamos falando de 70 mil gigabytes de material. É impossível ler tudo e se defender plenamente no tempo dado. O ministro Fux ressaltou a importância do contraditório e da ampla defesa. Sem isso, estamos punindo pensamento, e isso é inaceitável num Estado de Direito.
Entrelinhas: Como esse julgamento afeta a credibilidade do Supremo Tribunal Federal?
Zucco: Democracia não é só votar. Democracia é também respeitar o devido processo legal. Não se pode ter ministro que é vítima, acusador, investigador e juiz ao mesmo tempo. Isso tira legitimidade do próprio Supremo.
Entrelinhas: Esses eventos aumentam a pressão pela anistia para os condenados do 8 de janeiro?
Zucco: Sim. Para nós, a anistia sempre foi urgente, questão de justiça e sobriedade para o Brasil. Quem depredou patrimônio já foi punido, muitos já pagaram. Mas não podemos manter presos professores, aposentados, pessoas que apenas estavam lá. Isso é vingança política.
Entrelinhas: O senhor critica a atuação do STF em outros temas também?
Zucco: Sim. Tivemos um projeto meu aprovado com mais de 90% do Congresso, e um único ministro derrubou a decisão. Isso mostra o desequilíbrio entre os poderes. Precisamos de um Congresso mais firme, que faça valer a vontade popular.
Entrelinhas: Qual será a reação da Oposição a esse desequilíbrio entre os poderes?
Zucco: Não vamos desistir. Vamos seguir cobrando, propondo CPIs, defendendo as pessoas que foram presas injustamente. O movimento que começou não vai parar. Não é sobre um CPF, não é sobre Bolsonaro apenas. É sobre milhões de brasileiros que querem liberdade.
A anistia será nossa prioridade no Congresso. Precisamos dar um recado claro de que pensamento não se pune e que o Brasil precisa voltar a ter segurança jurídica.
Entrelinhas: A base do governo frequentemente diz que o discurso da Oposição radicaliza o país. Qual sua opinião sobre isso?
Zucco: Não se trata de radicalizar, mas de resistir. Não podemos aceitar abusos de poder. Se fosse o Lula sendo julgado e os ministros fossem indicados pelo Bolsonaro, a esquerda estaria nas ruas. Queremos apenas equilíbrio e respeito às regras.
Fonte: Gazeta do Povo
Fonte: Diário Do Brasil