
Por Júnior Melo, 27 de maio de 2025
A Confederação Brasileira de Futebol (CBF), entidade que comanda o futebol brasileiro, é conhecida não apenas por gerir o esporte mais popular do país, mas também por oferecer remunerações e benefícios que tornam o cargo de vice-presidente um dos mais cobiçados do meio esportivo. Com oito vice-presidentes em sua estrutura, a CBF tem atraído olhares pelos altos salários, que podem chegar a quase R$ 400 mil mensais, e pelas vantagens que acompanham o posto, conforme revelou uma investigação da revista Piauí publicada em abril de 2025.
Salários e Reajustes Milionários
Segundo a reportagem da Piauí, os vice-presidentes da CBF, muitos dos quais acumulam o cargo de presidentes de federações estaduais, recebem salários que dispararam nos últimos anos. Antes de 2021, a remuneração mensal girava em torno de R$ 50 mil. Com a gestão de Ednaldo Rodrigues, houve um reajuste de cerca de 330%, elevando os vencimentos para aproximadamente R$ 215 mil por mês, com a possibilidade de um 16º salário como gratificação. Em alguns casos, somando-se bônus e benefícios, os valores mensais podem se aproximar dos R$ 400 mil, especialmente para aqueles com papéis estratégicos ou que acumulam funções em comissões da entidade. A CBF, no entanto, negou que os salários cheguem exatamente a essa cifra, classificando-a como “irreal”, mas confirmou que as remunerações variam conforme as responsabilidades.
Benefícios e “Mordomias”
Além dos salários elevados, os vice-presidentes desfrutam de benefícios que tornam o cargo ainda mais atrativo. A revista Piauí revelou que a CBF cobre despesas de viagens, hospedagens em hotéis de luxo e até custos pessoais de familiares de dirigentes. Um exemplo notório envolveu um vice-presidente que teve uma viagem familiar a São Paulo custeada pela entidade no valor de R$ 114 mil, incluindo passagens aéreas e estadias em hotéis cinco estrelas para ele, sua esposa, irmã e filha, sob a justificativa de um procedimento médico. Durante a Copa do Mundo de 2022, no Catar, a CBF também arcou com despesas de um grupo de 49 pessoas sem vínculo direto com a entidade, incluindo voos em primeira classe, hotéis de alto padrão e cartões corporativos com limite diário de cerca de R$ 2,5 mil. Esses gastos, segundo a Piauí, serviram para fortalecer laços com federações estaduais e garantir apoio político à reeleição do presidente da CBF.
Um Sistema Fechado e Lucrativo
A estrutura de poder da CBF, formada por 27 federações estaduais e clubes das Séries A e B, cria um ambiente onde os vice-presidentes exercem influência significativa. Esse sistema, descrito pela Piauí como “feudal”, dificulta a entrada de novos nomes na gestão. Um ex-jogador que tentou se candidatar à presidência da CBF em 2025 desistiu após encontrar resistência de 23 federações, que se mostraram satisfeitas com a gestão atual e seus benefícios. A reeleição unânime de Ednaldo Rodrigues em março de 2025, com apoio total das federações e clubes, reflete a força desse sistema, onde altos salários e vantagens incentivam a lealdade dos dirigentes.
Críticas e Questionamentos
Apesar de ser uma entidade privada, sem uso de dinheiro público, a CBF enfrenta críticas pela falta de transparência e pelos gastos elevados com seus dirigentes. A suspensão de treinamentos presenciais para árbitros da Série A, sob a alegação de restrições orçamentárias, contrasta com os benefícios oferecidos aos vice-presidentes. Árbitros protestaram, apontando que, enquanto milhões são gastos com viagens e salários, investimentos em capacitação foram cortados. Uma CPI no Senado, com assinaturas suficientes para avançar, investiga suspeitas de irregularidades na gestão da CBF, incluindo os altos salários e possíveis interferências judiciais para manter a atual diretoria no poder.
Um Cargo dos Sonhos?
Ser vice-presidente da CBF é um privilégio financeiro e social. Com salários que podem chegar a R$ 400 mil mensais, benefícios como viagens de luxo e despesas pagas, além de influência no esporte mais amado do Brasil, o cargo é um dos mais vantajosos do cenário esportivo nacional. No entanto, as cifras astronômicas e os privilégios, como apontado pela revista Piauí, levantam questionamentos sobre a gestão dos recursos da entidade e sua prioridade em investir no desenvolvimento do futebol brasileiro. Enquanto os vice-presidentes desfrutam de um padrão de vida elevado, o contraste com os desafios enfrentados por jogadores, árbitros e clubes menores alimenta o debate: os recursos da CBF estão sendo usados para fortalecer o futebol ou para perpetuar um sistema que beneficia poucos? Por enquanto, a resposta parece estar nas mãos dos próprios cartolas.
Fonte Diário Brasil