Foto: Reprodução/YouTube

A Justiça de São Paulo aceitou a denúncia do Ministério Público Estadual e tornou réu Pablo Marçal (PRTB-SP) por ter colocado em risco a vida de ao menos 32 pessoas durante uma expedição ao Pico dos Marins, em Piquete (SP), em janeiro de 2022.

A decisão, assinada pela juíza Rafaela D’Assumpção Cardoso Glioche nesta terça-feira, 20, afirma que a investigação policial apresenta indícios suficientes para a instauração do processo criminal. A apuração é do portal g1.

Marçal foi denunciado 32 vezes com base no artigo 132 do Código Penal, que trata de expor a vida ou saúde de outros a perigo direto e iminente. Entre os fatores apontados estão:

Condições climáticas adversas (chuva, neblina e ventos de até 100 km/h);
Época inadequada para a subida no Pico dos Marins;
Ausência de guias experientes;
Roupas inapropriadas.
O MP chegou a propor um acordo de transação penal, com o pagamento de 180 salários-mínimos, equivalente a R$ 272 mil, que seriam destinados a uma entidade pública ou privada com destinação social. Como a defesa não se manifestou, a Justiça aceitou a denúncia.

Agora, Marçal deverá ser intimado e tem dez dias para apresentar sua defesa, com a indicação de provas e testemunhas.

Segundo o MP, o influenciador “desprezou a contraindicação dos guias e promoveu a subida ao Pico dos Marins mesmo com as advertências para recuar”. Ele incentivou a subida mesmo sob condições perigosas, com o argumento de que correr riscos era essencial para vencer e prosperar na vida.

“Entretanto, na medida em que subiam a trilha rumo ao cume, a chuva aumentou, exsurgindo significativa neblina e vento forte, com pouca visibilidade, o que tornava o trajeto inóspito, permeado de lama e pedras escorregadias, afora o risco de hipotermia (algumas pessoas estavam com as vestimentas encharcadas sem peças de troca)”, escreveu a promotoria.

Os advogados Paulo Herschander e Paulo Hamilton Siqueira Júnior disseram ao g1 que Marçal recebeu com “serenidade” a notícia de que virou réu. O coach já esperava isso, por ter recusado o acordo do MP, afirmam.

Marçal recusou a proposta por ter “plena convicção de sua inocência”, diz a defesa. Ele “reitera o seu compromisso com a verdade e com a justiça e confia firmemente que, no decorrer do processo, sua inocência será comprovada de forma inequívoca”.

Integrantes da expedição precisaram de resgate
A expedição aconteceu entre 4 e 5 de janeiro de 2022. Segundo o MP, cerca de 60 pessoas participaram e foram divididas em grupos. Durante o trajeto, o tempo piorou, e os participantes enfrentaram neblina, ventos fortes e pouca visibilidade.

Um guia contratado por Marçal alertou para os riscos e disse que não era seguro continuar. No entanto, foi chamado de “covarde” pelo influenciador, que incentivou os demais a seguirem com ele — e foi acompanhado por 32 pessoas.

Na madrugada do dia 5, por volta das 4h, um dos participantes pediu socorro via rádio e conseguiu contato com o guia que havia sido chamado de “covarde” por Marçal.

O Corpo de Bombeiros foi acionado às 6h e encontrou o primeiro grupo, de 14 pessoas, por volta das 8h, em condições precárias e emocionalmente abaladas, distantes a 1,5 km do cume do Pico dos Marins. O restante foi localizado uma hora depois.

Segundo o MP, eles estavam “sem nenhum guia, com roupas inapropriadas para a travessia e encharcadas, parcialmente acampados fora da trilha do Pico dos Marins, os quais foram localizados pelos gritos, todos psicologicamente abalados”.

Os vídeos publicados por Marçal nas redes sociais mostram que o tempo já era desfavorável desde o início. Em um dos registros, ele faz uma oração pedindo a Deus para “desviar o vento” e incentiva os participantes a enfrentarem a jornada como forma de superação pessoal.

“Eu sei no meu coração que dá pra subir. Vai ser a pior experiência de todas. Nós sabemos que, do jeito que está aqui, não dá para subir”, disse o influenciador nos vídeos. “Mas uns pararam o sol, outros voltaram o tempo. A gente não tá pedindo nada disso. Só estamos pedindo para o Senhor desviar o vento.”

Bombeiros criticam atitude de Marçal
A conduta de Marçal foi duramente criticada pelos bombeiros que participaram do resgate. Segundo o capitão Paulo Roberto Reis, chefe da operação, “ele foi totalmente irresponsável” por levar as pessoas a uma subida arriscada. “Subir com um grupo de pessoas despreparadas e sem equipamento é colocá-las sob risco de morte. Essa foi a pior ação que a gente viu no Pico dos Marins.”

O Pico dos Marins, com 2,42 mil metros de altitude, é o quarto maior de São Paulo e muito procurado para a prática de montanhismo. A trilha até o cume tem dificuldade média a alta, e a recomendação é que seja feita apenas entre abril e agosto, período de estiagem, com guia profissional e equipamentos adequados.

Os bombeiros orientam que as pessoas não entrem no local sem supervisão de guia profissional, porque a trilha é complexa, com histórico de pessoas perdidas e até mortes.

Os bombeiros orientam que ninguém entre no local sem supervisão de guia profissional. A região tem histórico de acidentes e desaparecimentos, sendo o caso mais emblemático o do escoteiro Marco Aurélio Simon, desaparecido em 1985, com 15 anos, durante uma excursão ao Pico. Ele nunca foi encontrado, mesmo depois de 28 dias de buscas.

Fonte: Revista Oeste

Fonte: Diário Do Brasil

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Pablo Marçal vira réu por colocar em risco a vida de dezenas em trilha