Por Caio Mesquita

CEO da Empiricus

Uma crise política normalmente afeta os mercados, aumentando a volatilidade e a aversão ao risco.

Desta vez, porém, está sendo diferente.

A relação entre o governo Lula e o Congresso se deteriora a olhos vistos. O Planalto resolveu judicializar a revogação do aumento do IOF aprovado pelo Legislativo, e o que já era um impacto institucional se transformou em crise declarada.

A aposta no STF é arriscada e, no limite, contraproducente. Se perder, Lula sofre derrota política e jurídica. Se vencer, tensiona ainda mais o relacionamento com um Congresso cada vez menos disposto ao diálogo. Pior: tudo isso para sustentar um arcabouço fiscal já admitido como insustentável até pelos próprios autores.

A leitura no mercado ainda está contida. O fluxo externo segue sustentando os ativos locais. Mas a complacência tem prazo de validade.

A política fiscal virou um emaranhado de gambiarras. O governo perdeu a janela para um ajuste sério e agora tenta tapar o sol com a peneira. O desgaste é progressivo — e, como já vimos antes, pode ser politicamente terminal.

Caio Mesquita CEO da Empiricus

Lula repete os erros que Bolsonaro criticou: isolamento, improviso, confronto. A diferença é que, desta vez, o Congresso tem mais apetite para reagir. O clima azedou de vez.

Perdido, o Governo parece capturado pelos apoiadores mais extremos. Assim você resolveu radicalizar, resgatando o “nós contra eles” que conversa com sua base apenas, alienando os representantes de centro, fundamentais na vitória de 2022.

A vã tentativa de reverter o naufrágio nas pesquisas de opinião lembra um tempo de futebol desorganizado, promovendo chuveirinhos na área de uma defesa organizada, abrindo flancos para gols no contra-ataque.

Sentindo o barco afundar, partidos como União Brasil e PP já sinalizaram afastamento. Hugo Motta vira alvo da narrativa oficial, que o rótulo como mais um representante dos ricos. Assim, o Executivo vê desmoronando a frágil coalizão que construiu.

Enquanto isso, Tarcísio de Freitas observa. Em silêncio, ocupa o filtro deixado por um governo que perdeu o timing , o apoio e a narrativa.

Mais técnico que carismático, mais gestor que palanqueiro, Tarcísio se consolida como uma antítese da polarização. Não promete milagres. Previsibilidade de entrega. E, num país exausto de promessas, isso pode ser suficiente.

Para 2026, é o nome que ganha força. O mercado já entendeu e começa a acreditar. A direita, fragmentada em 2024, tenderá a se reagrupar em torno dele em 2025. Se Lula continuar nessa toada, entregará o Planalto de bandeja.

Seis de abril de 2026. Esse é o limite de dados para a consolidação do quadro, pois é o prazo para Tarcísio se descompatibilizar do governo paulista, lançando sua candidatura em Brasília.

Do outro lado, nada garante que Lula vá até o fim. Um cenário adverso, econômico, político e de isolamento pode levar o petista a desistir da reeleição.

Sem Lula na disputa, o país pode assistir à eleição presidencial mais serena desde 1998. E, diante desse novo ambiente, mais racional e menos emocional, Tarcísio parece cada vez mais preparado para ser o nome da transição.

Ao finalizar este boletim, recebo uma pesquisa do Instituto Gerp , publicada pela revista Exame, mostrando Lula atrás de todos os adversários na intenção de voto para o segundo turno da eleição.

Com a crise do atual governo, fica sugerida uma reversão desse quadro.

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