
Reprodução JP News
Imagine estar em uma cirurgia e, em poucos segundos, o médico saber exatamente onde está o câncer e onde termina o tecido saudável. Isso já não é mais sonho de ficção científica. É realidade – e tem sotaque brasileiro. A responsável pela descoberta é Lívia Schiavinato Eberlin, química nascida em Campinas (SP), filha de professores e apaixonada por ciência desde pequena. Curiosa e criativa, ela cresceu com o desejo de entender o que acontece dentro do corpo humano – e acabou criando uma ferramenta que promete mudar a forma como o câncer é diagnosticado e tratado no mundo todo.
Da Unicamp ao Texas: o caminho da cientista
Lívia se formou em Química pela Unicamp e logo chamou atenção pelo talento e pela paixão por pesquisa. Ainda jovem, decidiu seguir carreira fora do país e foi aceita em um doutorado na Purdue University, nos Estados Unidos. Lá, mergulhou no universo da espectrometria de massa, uma técnica que analisa a composição química de substâncias, e começou a pensar em como usar isso para ajudar pessoas.
Durante o doutorado e o pós-doutorado em Stanford, ela percebeu um desafio comum em cirurgias oncológicas: os médicos precisam retirar todo o tecido cancerígeno, mas identificar os limites exatos do tumor durante a operação é algo complexo. Normalmente, o material é enviado ao laboratório e o resultado demora horas ou até dias. Isso faz com que, muitas vezes, o paciente precise voltar para uma segunda cirurgia.
“Eu queria criar algo que facilitasse a vida dos cirurgiões e, principalmente, poupasse sofrimento aos pacientes”, contou a cientista em uma entrevista. Foi dessa vontade que nasceu a MasSpec Pen, apelidada carinhosamente de “caneta que detecta câncer”.
Como funciona a ‘caneta do câncer’
A MasSpec Pen é um pequeno dispositivo conectado a um computador. Quando o médico encosta a ponta da caneta em um tecido, uma microgotícula de água é liberada. Essa gota absorve moléculas do tecido e as envia, por um tubo, para um equipamento que faz a leitura química instantaneamente.
Com base nesse “perfil químico”, o sistema consegue identificar se o tecido é saudável ou cancerígeno — tudo isso em menos de 10 segundos e com mais de 95% de precisão.
O grande diferencial da caneta é a velocidade e a precisão. Em uma cirurgia, cada segundo conta. Enquanto exames convencionais exigem o envio de amostras ao laboratório, a MasSpec Pen dá a resposta na hora, ajudando o médico a decidir até onde deve operar. Isso significa menos tempo de anestesia, menor risco de reoperações e mais segurança para o paciente.
Reconhecimento internacional
Desde que foi apresentada, a invenção virou sensação no meio científico. A brasileira já recebeu o prêmio MacArthur Fellowship, conhecido como “bolsa dos gênios”, além de outros reconhecimentos internacionais por inovação. Em 2024, Lívia também foi premiada pela Welch Foundation, uma das mais respeitadas entidades de pesquisa dos Estados Unidos.
Ela foi listada entre as cientistas mais promissoras do mundo e seu nome passou a figurar em congressos e revistas especializadas. O feito é ainda mais impressionante porque Lívia, uma mulher latina em um campo dominado por homens, alcançou destaque global sem abrir mão de suas origens brasileiras. “Eu levo comigo a curiosidade e a criatividade que aprendi no Brasil. Esse olhar diferente foi essencial para criar algo inovador”, disse em uma palestra recente.
Pesquisas no Brasil e impacto futuro
Com o sucesso internacional, a cientista agora trabalha para expandir os testes da caneta no Brasil. Universidades e hospitais brasileiros já iniciaram parcerias para validar a tecnologia em cirurgias locais, especialmente em hospitais públicos que lidam com grandes volumes de pacientes e têm menos acesso a exames rápidos.
A ideia é que, no futuro, a MasSpec Pen possa ser produzida em larga escala e chegar ao sistema público de saúde, tornando o diagnóstico de câncer mais rápido e acessível.
A tecnologia vem sendo testada em diversos tipos de câncer — incluindo mama, pulmão, tireoide, pâncreas e ovário — e mostra resultados promissores em todos eles. Em alguns estudos, a caneta foi capaz de identificar margens tumorais invisíveis ao olho humano, aumentando as chances de cura e reduzindo complicações.
Uma revolução com toque brasileiro
O sucesso da MasSpec Pen vai muito além dos laboratórios. A descoberta representa uma nova forma de enxergar o futuro da medicina — uma fusão entre ciência, tecnologia e humanidade.
Com a caneta, os médicos podem tomar decisões em tempo real, e os pacientes ganham esperança de diagnósticos mais rápidos e tratamentos mais eficazes. Em um mundo onde o câncer ainda é uma das principais causas de morte, uma invenção como essa pode salvar milhões de vidas.
“Cada avanço na detecção é uma chance a mais de vencer o câncer”, costuma dizer Lívia.
Hoje, ela é professora na Universidade de Baylor, nos Estados Unidos, e lidera um grupo de jovens cientistas que seguem seus passos. Mesmo longe, mantém o vínculo com o Brasil e faz questão de incentivar meninas e mulheres a entrarem na ciência.
Com informações do JP News
Fonte: Diário Do Brasil
