No último dia 29, um artigo publicado no periódico The Journal of Heart and Lung Transplantation trouxe à tona um relato de caso inédito, cuja decisão foi tomada para contornar situações em que transplantes de órgãos passam por rejeição. Na ocasião, um paciente recebeu dois órgãos: um coração (que realmente precisava ser transplantado) e um fígado, que seria o responsável por conferir a chamada imunoproteção.
Conforme os médicos relatam no artigo, a probabilidade do corpo rejeitar o coração sozinho era “extremamente alta”, e o procedimento duplo provou que um fígado doado pode proteger o organismo e ajudar para que a rejeição não aconteça.
A paciente, Adriana Rodriguez (31), sofreu uma ruptura espontânea em sua artéria coronária em 2022. É uma condição rara, mas que pode acontecer entre as mulheres na época da gravidez. Os especialistas envolvidos acreditam que haja mudanças hormonais e estresse na gravidez que podem tornar as artérias coronárias vulneráveis a essas rupturas.
Os médicos fizeram várias tentativas para tratar a condição, como uma bomba de balão aórtico para ajudar o coração a circular o sangue, por exemplo, ou um sistema de oxigenação por membrana extracorpórea, máquina capaz de bombear e oxigenar o sangue, aliviando temporariamente o coração. No fim das contas, o transplante se fez necessário.
Transplante de fígado impede rejeição do organismo
Os transplantes de coração e fígado simultâneos são bem raros, e na literatura médica, os pacientes precisavam dos dois órgãos. Não foi o caso, tanto é que o fígado saudável da paciente foi doado a outra pessoa (que tinha doença hepática avançada e precisava de um fígado novo).
Isso foi feito porque os pesquisadores viram que a taxa de anticorpos de Adriana estava muito alta, então ela precisaria que o doador fosse seu gêmeo imunológico, para que o corpo não rejeitasse o coração.
Os cientistas comemoram o sucesso da operação, mas com uma ressalva: “Acho que não entendemos completamente a ciência da imunologia do transplante. Podemos aprender muito com pacientes assim. Precisamos entender para que possamos, algum dia, repeti-la com medicamentos em vez de um órgão”.
Avanços no transplante de coração
Em 2022, o primeiro transplante de coração artificial completou 40 anos. A ciência não tem descansado no que diz respeito a possíveis melhorias em relação a transplantes.
As pesquisas com corações de porco têm sido verdadeiras aliadas na luta contra a escassez de órgãos nos bancos. Tanto que existe uma estimativa para que os transplantes com órgãos de porco comecem no Brasil em 2025.
Enquanto isso, corações “reanimados” podem ajudar a reduzir fila de transplantes. A proposta dos médicos é obter os corações de pacientes que sofreram uma morte circulatória e, imediatamente, colocá-los em uma máquina capaz de reanimar o órgão. Durante todo o processo, o órgão é mantido aquecido.
O transplante de fígado também passa por novidades. No ano passado, cientistas conseguiram tratar o fígado fora do corpo por 3 dias e o transplantar em um paciente.
Fonte: The Journal of Heart and Lung Transplantation, UW Medicine