Por Augusto Dala Costa | Editado por Luciana Zaramela
Pesquisadores de diversas universidades americanas se juntaram para descobrir um efeito até então inédito do Alzheimer no cérebro — aparentemente, a doença elimina células imunes da massa branca do órgão, o que também acontece na demência vascular, relacionada à falta de fluxo sanguíneo cerebral.
De acordo com os cientistas, a novidade foi descoberta ao dar atenção à micróglia, as células imunes do cérebro, como elementos vulneráveis. Essa omissão, junto à que era dada aos danos na massa branca do cérebro, ajudaram a deixar alguns efeitos causados pelo mal de Alzheimer passar por baixo do radar da ciência.
Alzheimer, massa branca e reações em cadeia
Para chegar à descoberta, foram estudados os tecidos cerebrais de pessoas que tiveram demência após a sua morte. Notou-se uma reação em cadeia de eventos que danificam as pontes de matéria branca (ou massa branca) do cérebro, elementos que ligam diversas partes do cérebro. Tudo começa com a mielina, que forma bainhas de revestimento para manter os neurônios protegidos e ajudá-los a se comunicar com mais eficiência.
Quando as camadas de mielina se deterioram, em partes por conta da idade e de fatores como hipertensão, elas são limpas do cérebro por células imunes — a micróglia. Os cientistas perceberam que as células microgliais também são destruídas quando varrem a mielina para fora, aparentemente por conta de uma overdose de ferro, presente em altas quantidades na massa branca cerebral. Ao tentar manter o cérebro saudável, então, a mielina morre na linha de frente.
A ciência já sabia que a micróglia era ativada para mediar inflamações, mas não era sabido que essas células morriam em número tão alto no meio do processo. Segundo os pesquisadores, é “incrível” que tenhamos passado tanto tempo sem perceber isso. Esse efeito em cascata da morte microglial e degeneração da massa branca parece ter um papel importante no declínio cognitivo ligado ao Alzheimer e à demência vascular, mas isso terá de ser confirmado em pesquisas seguintes.
Com a descoberta, será possível desenvolver medicamentos e tratamentos que mirem nessa degeneração cerebral em particular, com o potencial de retardar ou bloquear o declínio cognitivo associado ao Alzheimer e doenças relacionadas. Resta saber o que pode ajudar a manter a micróglia — e a massa branca do cérebro — funcionando.
Fonte: Annals of Neurology