
Por José Augusto
Nasser MD PHD,
Neurocientist,
Physician, speaker
Um estudo da Universidade de Kyoto mostrou que ondas sonoras audíveis, cuidadosamente controladas, podem modular a expressão gênica e reduzir a diferenciação de pré-adipócitos em células de gordura. Usando um transdutor vibracional que entrega ~100 Pa de pressão sonora diretamente ao meio de cultura, os autores identificaram dezenas a centenas de genes responsivos ao som e observaram queda robusta de marcadores de adipogênese (Cebpa, Pparg). O efeito envolve vias mecanossensíveis como FAK → COX-2 (PTGS2) → PGE₂, aumento de 15–20% na área de adesão celular e depende de estimulação contínua ou periódica. É pesquisa in vitro — promissora para terapias não invasivas, mas ainda não é protocolo clínico. https://www.nature.com/articles/s42003-025-07969-1?utm_source=substack&utm_medium=email
Por que isso importa
A mecanobiologia já nos ensinou que forças físicas moldam o destino celular. O que faltava era uma demonstração rigorosa de que som audível — uma forma de energia mecânica onipresente — também poderia reprogramar células comuns do corpo. O grupo de Masahiro Kumeta, em Kyoto, entregou exatamente isso: som como sinal biológico, com potencial para aplicações em metabolismo, engenharia de tecidos e regeneração,sem drogas nem bisturi. Veja mais em
https://www.kyoto-u.ac.jp/en/research-news/2025-04-17?utm_source=chatgpt.com&utm_medium=email
O que os cientistas fizeram (e por que o método é o diferencial)
• Construíram um sistema direto de emissão sonora: um transdutor vibracional acoplado a uma placa de PEEK que gera ondas no próprio meio de cultura, evitando calor e vibrações parasitas comuns em alto-falantes convencionais. (Nature)
• Aplicaram sons audíveis (440 Hz, 14 kHz e white noise) a ~100 Pa de intensidade — magnitude compatível com pressões que atravessam tecidos moles in vivo. (Nature)
• Fizeram RNA-seq após 2 h e 24 h e mapeamentos funcionais, além de microscopia em tempo real para dinâmica de borda celular e adesão. (Nature)
Resultado
42 genes alterados em 2 h e 145 em 24 h (≈ 190 no total ao longo das condições), revelando um painel de genes sensíveis ao som — um “transcriptoma acústico”.
Os achados-chave
1) Um circuito mecanossensível específico é ativado
O gene Ptgs2 (COX-2) respondeu de forma rápida e intensa; sua ativação depende de FAK (focal adhesion kinase) e promove síntese de PGE₂, que por sua vez modula a adipogênese. Ou seja: som → adesão/FAK → COX-2 → PGE₂ → mudança de destino celular. (Nature)
2) O som muda a “pegada” da célula no ambiente
Sob estimulação acústica, as células expandiram bordas lamelipodiais e aumentaram a área de adesão em ~15–20% em 1 h, alinhando-se aos caminhos de migração/adesão detectados por análise gênica. (Nature)
3) Menos células de gordura se formam
Em culturas 3T3-L1, estimulação contínua (0–72 h) ou periódica (2 h/dia por 3 dias) durante a indução reduziu fortemente os marcadores Cebpa e Pparg (para ~0,18 e ~0,26 do controle) e diminuiu o acúmulo de lipídios — evidência funcional de supressão da diferenciação adipocitária. O efeito exigiu persistência do estímulo; janelas curtas isoladas não bastaram. (Nature)
O que isso pode significar para a medicina
• Metabolismo e obesidade: se respostas similares ocorrerem in vivo, a estimulação acústica poderia modular depósitos de gordura ou sensibilizar tecidos a terapias. É uma hipótese plausível — ainda não testada clinicamente. (Nature)
• Engenharia de tecidos & reabilitação: som como botão de volume para adesão, migração e diferenciação abre caminhos para cicatrização,
músculo e tecidos adiposos
bioengenheirados. (Nature)
• Plataforma não invasiva: por ser imaterial, ajustável e imediata, a acústica pode se somar a ultrassom terapêutico e sonogenética como modalidade de bioestimulação precisa. (Kyoto University)
Calma lá: o que o estudo não diz
• Não é uma “dieta por música”: os dados são de células de camundongo em cultura. Falta demonstrar parâmetros, segurança e eficácia em organismos vivos — e, mais adiante, em humanos. (Nature)
• Parâmetros importam: frequência (440 Hz/14 kHz), intensidade (~100 Pa) e tempo foram críticos. Tocar sons quaisquer no ambiente não replica o experimento. (Nature)
• História em construção: essa linha começou em 2018, quando o mesmo grupo já sugeria que sons audíveismodulam genes mecanossensíveis; a nova plataforma elimina artefatos e mostra efeitos funcionais (menos adipogênese). (PLOS, Nature)
Perguntas rápidas
As células “ouvem” som como nossos ouvidos?
Não. Elas sentem pressão mecânica oscilante transmitida pelos tecidos (onda acústica) e respondem via mecanotransdução. (Nature)
Isso funciona com qualquer música?
O estudo usou sinais definidos (seno 440 Hz, 14 kHz e white noise) sob controle fino da pressão no meio. Música ambiente não é equivalente. (Nature)
Quando chega à clínica?
O próximo passo é reproduzir efeitos em modelos animais e entender janelas terapêuticas e segurança. (Nature). Para saber mais acesse o link abaixo e veja o quanto este campo tem crescido nos últimos anos.
Minha leitura
Este trabalho inaugura uma “acusto-biologia” mais madura: a partir de um hardware adequado e de medições rigorosas, o som entra no repertório de sinais biológicos manipuláveis. O achado na adipogênese é especialmente empolgante por conectar adesão/FAK → COX-2/PGE₂ a destino celular sob ondas audíveis. É cedo para prometer emagrecimento por som — mas é hora de levar o som a sério como terapêutica física de baixa barreira e alto controle. (Nature)
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