O oftalmologista Dagoberto Teixeira fala sobre evolução nas cirurgias
de catarata e a importância de hábitos de vida para sua saúde ocular
Os olhos são importantes órgãos do corpo humano que, assim como todos os outros, podem sofrer impactos a depender de nossa condição de saúde. Para abordar esse assunto, convidamos um dos mais renomados especialistas do estado de São Paulo, o cirurgião oftalmologista Dagoberto Teixeira Filho, que comenta nessa entrevista, originalmente concedida para a TV Revista D Marília, sobre alterações de hábitos de higiene nessa época de pandemia, hábitos que colaboram para a saúde visual e também sobre atualizações nas cirurgias oftalmológicas. Confira a seguir.
D Marília: Com a chegada da pandemia, percebeu-se uma mudança de hábito das pessoas em relação à hábitos de higiene? Isso se refletiu na prevenção de outras doenças, como a conjuntivite, por exemplo?
Dagoberto Teixeira: Na intenção de reduzir as transmissões do coronavírus, acredito que a Medicina, de uma maneira geral, se beneficiou, pois as doenças contagiosas com transmissão pela saliva, doenças que tínhamos com muita frequência devido ao clima de determinadas épocas do ano, foram reduzidas. Ao menos percebemos na Oftalmologia que as conjuntivites virais reduziram, tanto pelo uso de álcool gel e pelo fato de que as pessoas estão lavando mais as mãos, mas também pelo uso de máscaras e distanciamento social. Esses cuidados se tornaram um hábito e todos nós vamos ser favorecidos por eles de certa forma. Isso favorece a redução da transmissão de outras doenças.
DM: Até mesmo as encomendas dos mercados passam pela higienização, as pessoas recebem e já higienizam as frutas, os saquinhos de supermercado. Isso é necessário?
DT: Veja, pelo conhecimento desse micro-organismo, sabemos que ele não suporta altas temperaturas, ele não sobrevive. Nós não precisamos exagerar, no final de tudo isso teremos a formação de um conceito de higiene razoável, é isso que é interessante. Todos vão introduzir isso na prática de vida. Agora, nós precisamos sempre analisar se o ambiente que você adquiriu o produto fez o dever de casa, e a partir daí temos que relaxar um pouco o exagero. O medo desencadeia hormônios indesejáveis, o medo tem uma razão para acontecer em determinado momento da vida, com uma noção de realidade e de razão. Passado esse momento, você não está mais se beneficiando desse sentimento.
DM: Esse medo pode afetar na oftalmologia, com a ansiedade, esse descontrole até hormonal, provocando, por exemplo, uma alteração de pressão ocular? Há alguma relação?
DT: Não há uma relação direta, mas sabemos que fatores que nos envelhecem e que provocam o aparecimento de nossas doenças de origem circulatória, vascular, cardiológica, neurológica, se relacionam em certo ponto com o estresse. Então essa fase que estamos vivemos, de muito estresse com o Covid-19, não favorece nossa saúde. Se a doença é ruim, o estresse causado por ela também não é bom. É preciso sempre buscar um equilíbrio. O que você pode fazer para não pegar a doença? Cumprir as medidas de higiene e se precaver com o distanciamento social, por exemplo.
DM: Voltando à sua especialidade, percebemos que aqui no consultório não houve uma alteração de rotina. Vocês possuem também um centro cirúrgico para implantes de lentes na cirurgia de catarata e isso continua normalmente, não é mesmo?
DT: Sim, o ambiente cirúrgico de qualquer local, independente de qual seja, é muito sagrado. Sabemos comprovadamente quais são as medidas para desfavorecer as contaminações. E nessa fase, todos os setores, de todas as especialidades, cuidaram ainda mais disso. No ambiente cirúrgico as esterilizações sempre são feitas com óxido de etileno, autoclave, e essa situação que vivemos torna mais acirrada a observação de prováveis contaminantes. Agrega-se ainda o distanciamento, espaçamento durante a consulta, na sala de espera. Assim, nós não reduzimos o número de tratamentos eletivos, ou seja, aqueles que podem ser protelados. Mas há de se concordar que, se você não estiver enxergando bem e precisar de uma cirurgia de catarata, basta tomar as medidas necessárias. O médico se responsabiliza pelas medidas adicionais de segurança e, com isso, não há necessidade de redução do volume de cirurgias.
DM: Na questão da catarata, há novidades? Quando a pessoa tem uma dificuldade de adaptação ao uso dos óculos, por exemplo, temos alguma mudança? Como isso evoluiu em termos de técnica e equipamentos?
DT: O que muda se busca evoluir na Oftalmologia é a base para calcularmos o grau correto. O grau é um fator para a sua visão. Então mensurar esse grau dentro dos olhos e colocar uma lente que vai compensar essa intenção de tirar os óculos para longe ou para perto, sempre se buscam meios de refinar isso. Hoje usamos o laser na avaliação do consultório, que faz um cálculo biométrico dessa lente. O ultrassom também é usado, mas é uma tecnologia mais antiga. E hoje temos também o mais avançado, que são as medidas por frente de onda, que são cálculos que funcionam como se estivéssemos examinando a pessoa na sala de consulta, mas a examina no ambiente cirúrgico e isso surge para refinar um pouco mais a cirurgia. Essa tecnologia consegue fazer exames como se estivesse na sala fazendo o exame de grau, mas em 5 segundos permite fazer cerca de 40 exames. Esses cálculos entram no equipamento, que envia essas informações para uma base de dados denominada como inteligência artificial, onde diversos cirurgiões no mundo depositam informações, que passam por uma análise computadorizada, filtrada e devolvida para o cirurgião sugerindo um ajuste, por exemplo de mudança de eixo, ou de correção de 0,25 grau. E isso refina o resultado final.
DM: Como funciona isso nos olhos?
DT: O olho mede cerca de 2,5 centímetros. Então temos que calcular qual é o grau do cristalino, que é a lente do olho, com o tamanho de uma lentilha, e será substituído por uma lente artificial. O cristalino amarela com o passar dos anos e forma a catarata, podendo ser retirada após as avaliações necessárias com o especialista. O cálculo desta lente é que sempre foi o ponto difícil para a Oftalmologia. No início da técnica cirúrgica, quando surgiram as lentes, esse cálculo era feito de modo empírico, era um “chute”. Depois isso foi se aprimorando devido às fórmulas matemáticas, o ultrassom, o laser o a frente de onda. Então hoje, quando obtemos a medida do grau ideal, fazemos uma programação cirúrgica e precisamos abrir o olho para fazer essa substituição O corte hoje é extremamente pequeno, com cerca de 2 milímetros para introduzir a lente tem 6 milímetros, mas é dobrável. Ao comparar com técnicas mais antigas, antes era preciso abrir o olho de fora a fora e isso era um risco, expondo o conteúdo intraocular.
Então, temos uma evolução na técnica, mas também nesse cálculo que define qual lente irá substituir seu cristalino. Encontrando isso com mais precisão, você conquista uma relativa independência dos óculos, a depender da sua atividade profissional. Se você tem um hobby, como consertar relógios, precisa ler letras muito pequenas ou então é um piloto comercial de aviões, por exemplo, é provável que você continue precisando de óculos em determinadas situações, pois o foco não é para atividades como essas, e sim para a vida cotidiana. Então você pode ir à praia ou à uma festa sem óculos, faz 80 a 90% sem óculos e talvez até 100%, a depender de suas atividades. Mas é preciso ressaltar outra coisa: é importante ter saúde. É preciso ter saúde em todo o olho, nós trocamos apenas uma lente.
DM: A saúde do corpo pode afetar os resultados de uma cirurgia oftalmológica?
DT: Vamos usar o covid para exemplificar. Você pode se contaminar com a doença e passar por ela ileso, como é em 80% dos casos. Agora imagine que você teve uma complicação respiratória e agora tem baixa oxigenação do seu organismo, teve uma pneumonia agressiva. É plausível entender que todo o sistema sofre. Seu sistema cerebral, circulatório, não é apenas o pulmão, que funciona como captador de oxigênio, um transmissor. Ele é a barreira que joga o oxigênio para dentro das hemácias (células sanguíneas) e a hemácia joga depois o CO2 (gás carbônico) para fora. O pulmão é essa membrana de troca do oxigênio. E é preciso entender que o organismo inteiro pode sofrer com o covid. E não só com o covid. Todas as outras doenças, suas doenças metabólicas, por exemplo, como o diabetes, entre muitas outras. Para ter um órgão funcionando corretamente, seja ele o pulmão, os ouvidos ou os olhos, é preciso cuidar da saúde como um todo.
SAIBA MAIS
O Centro de Microcirurgia de Olhos Dr. Dagoberto Teixeira fica na Avenida Rio Branco, 642, Alto Cafezal, telefone (14) 3422-5306. Mais informações em www.drdagoberto.com.br e redes sociais @drdagoberto.