Um novo estudo publicado na revista Nature Medicine na última quinta (31) aponta que a névoa mental desencadeada pela covid longa pode apresentar relação com coágulos sanguíneos. Os pesquisadores sugerem que esses coágulos sanguíneos podem despertar os sintomas neurológicos, atrapalhando a capacidade de concentração.
A nova pesquisa utilizou dados de quase 1.840 adultos que foram hospitalizados com covid-19 no Reino Unido em 2020 e 2021. O s participantes coletaram amostras de sangue no momento da hospitalização e, seis meses e 12 meses depois, realizaram testes cognitivos e preencheram questionários.
Através desses estudos, os pesquisadores detectaram duas proteínas envolvidas na coagulação do sangue, chamadas fibrinogênio e dímero D, como causadoras dos problemas cognitivos. Conforme contam os cientistas, os pacientes hospitalizados com covid-19 que apresentaram os níveis mais elevados de fibrinogênio tiveram piores resultados nos testes de memória e atenção.
Além disso, as pessoas com níveis elevados de dímero D avaliaram posteriormente a sua cognição de forma pior do que as pessoas com níveis baixos. O grupo com alto dímero D também foi mais propenso a relatar problemas com sua capacidade de trabalhar seis e 12 meses após a hospitalização.
Proteínas de coagulação associadas a covid-19 grave
Conforme relembra o artigo, as duas proteínas de coagulação sanguínea foram anteriormente associadas à covid-19 grave e, separadamente, o fibrinogênio sozinho foi associado a problemas cognitivos.
Ainda assim, não se sabe como as proteínas podem estar gerando a névoa mental na covid longa. É uma conclusão que ainda deve render alguns estudos para surgir.
De qualquer forma, a teoria é que os coágulos sanguíneos relacionados ao fibrinogênio podem prejudicar o fluxo sanguíneo para o cérebro ou talvez interagir diretamente com as células nervosas. Enquanto isso, o dímero D pode estar mais ligado a coágulos nos pulmões e problemas respiratórios.
O que é covid longa?
No que diz respeito à definição de covid longa, a Organização Mundial da Saúde (OMS) define o seguinte: “A condição pós-covid ocorre em indivíduos com histórico de infecção por SARS CoV-2 provável ou confirmada, geralmente 3 meses após o início da covid-19 sintomática, e que duram pelo menos 2 meses”.

Segundo a Organização, os sintomas da covid longa podem surgir após um episódio grave de infecção pela covid-19 ou podem persistir desde o início da doença. Além disso, “os sintomas também podem flutuar ou recair ao longo do tempo”.
Em janeiro deste ano, um estudo conduzido por cientistas norte-americanos apontou sete sintomas da covid longa:
- Palpitações cardíacas;
- Perda de cabelo;
- Fadiga;
- Dor torácica;
- Dispneia (falta de ar);
- Dor nas articulações;
- Obesidade.
No entanto, anteriormente, a Fiocruz chegou a apontar mais de 20 sintomas relacionados à covid longa. Na época, o estudo da Fiocruz acompanhou, por 14 meses, 646 pacientes diagnosticados com a covid-19. Confira tudo o que você precisa saber sobre a condição.
O que é névoa mental?
Desde o início da pandemia, um misterioso sintoma despertou curiosidade: névoa mental — experiências de dificuldades cognitivas, e associado a casos de covid longa.
Os sintomas da névoa mental vêm de relatos dos próprios pacientes, e consistem basicamente em falhas na memória, dificuldade para se concentrar, distração, exaustão mental, dificuldade em fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo e dor de cabeça.
Para se livrar da névoa mental, os especialistas recomendam aderir a determinados comportamentos que possam ajudar a se organizar e a se lembrar das coisas, como utilizar agendas e evitar a multitarefa: concentrar-se apenas em um objetivo por vez.
Fonte: Nature Medicine, Science, OMS
Por Nathan Vieira | Editado por Luciana Zaramela