O sedentarismo e as mudanças de hábitos alimentares durante a pandemia contribuíram para o aumento de casos de doenças metabólicas, como sobrepeso, obesidade, diabetes e alterações na tireoide – glândula que produz os hormônios T3 e T4 e regula funções importantes, como coração, cérebro, fígado e rins. O isolamento social somado ao medo da contaminação pelo coronavírus fez com que as pessoas deixassem de fazer exames preventivos e procurar auxílio para outras doenças.
Disfunções tireoidianas, em especial o hipotireoidismo, registraram crescimento, principalmente em mulheres que não apresentavam a doença antes da contaminação pelo coronavírus, chamando a atenção dos especialistas. De acordo com o endocrinologista Bernard Barreto Barroso, membro titular da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e médico da Clinipae, centro médico localizado em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, foi registrado um aumento de 30% de novos casos de hipotireoidismo em mulheres que tiveram covid, somente no consultório da clínica.
“A pandemia trouxe sintomas que se confundem com disfunções tireoidianas, como cansaço e fadiga, queda de cabelo e fragilidade nas unhas. Somente após a retomada dos exames de rotina pela maioria das pessoas, a partir de 2021, foi possível diagnosticar que eram casos de hipotireoidismo, em especial nas mulheres que não tinham a doença antes da pandemia”, explica Barroso. Ele salienta que o aumento de peso não tem nenhuma associação direta com o hipotireoidismo, comprovada cientificamente, mas é o principal alerta para as mulheres que procuram por exames de tireoide.
Vários estudos científicos apontam que o diabetes é mais uma complicação decorrente da covid-19. Um deles, denominado “Risk of new-onset type 2 diabetes in 600.055 people after COVID_19: a cohort stydy”, publicado em fevereiro desse ano na revista Diabetes, Obesity and Metabolism, revela que o coronavírus pode aumentar o risco de diabetes tipo 2 (DM2) em pessoas sem antecedentes da doença ao infectar as células das ilhotas pancreáticas. Os dados estimam um aumento de 3 a 12 vezes na taxa de DM2 após a COVID-19 leve ou moderada/severa, respectivamente.
O estudo corrobora com os números de casos de diabetes pós-covid registrados no consultório, que foram ainda mais reveladores, segundo o médico. “Houve um aumento de 25% a 30% de novos casos de diabetes em pacientes que não apresentavam nenhum sintoma antes da covid, incluindo homens e mulheres”.
Segundo o relato, muitos pacientes com suspeita de diabetes tipo 1 chegaram ao setor de emergência, sendo a maioria fora da faixa etária – crianças, adolescentes e jovens adultos.
“Alguns pacientes apresentaram sintomas importantes, juntos ou isolados, como dormência na palma da mão ou planta dos pés, perda de peso repentina, vista embaçada, urina com mais frequência durante o dia e à noite (poliúria), fome acentuada (polifagia), sede excessiva (polidipsia) ou as 3 “polis” de uma vez. No exame, a glicose no sangue (glicemia) em jejum, acima ou igual a 126, já pede uma investigação mais detalhada, mas uma glicemia a partir de 200, com ou sem jejum, e em associação com um ou mais sintomas mencionados, já pode ser classificada como diabetes”, elucida Barroso.
Ainda de acordo com a observação dos pacientes no consultório, os casos de obesidade cresceram mais de 35% em mulheres que já estavam no grupo de risco, não estando associados à covid. “Durante o isolamento, muitos pacientes descontinuaram os tratamentos e, quando retornaram às consultas e exames de rotina, apresentaram um agravamento do quadro”, diz Barroso. A obesidade é um fator de risco para infecções por covid e, geralmente, outras doenças metabólicas estão associadas. A descontinuidade ao tratamento pode agravar a doença e, se houver contaminação pelo coronavírus, as chances de complicação são ainda maiores.
O especialista dá algumas dicas para pessoas que tiveram Covid e apresentam sintomas de diabetes, para auxiliar na investigação:
Praticar exercícios regularmente, prestando atenção no quadro – a caminhada de 30 a 40 minutos por dia, de 3 a 4 vezes na semana, auxilia no controle da glicose. Exercícios de alto impacto devem ser avaliados pelo médico para não agravarem a doença.
Procurar uma nutricionista para auxiliar no troca de alimentos – é importante fazer algumas substituições, como a de carboidratos comuns por carboidratos de fontes integrais e do açúcar refinado por adoçantes naturais. Os sucos, dependendo da fruta, podem ser substituídos pelo consumo da própria fruta, pois o suco concentra toda a glicose em um só copo, aumentando a quantidade de açúcar no sangue. As proteínas de alto valor biológico, como peito de frango e peixe, grelhado ou assado, estão liberadas, assim como verduras e legumes.
Pedir ao médico o exame de hemoglobina glicada, caso o exame de glicemia de jejum apresente alterações. “Esse exame serve para o acompanhamento e controle de diabetes já existente, principalmente de pacientes já em tratamento, bem como para auxílio no diagnóstico do pré-diabetes e diabetes de pacientes que ainda não sabem que têm a doença. Ele aponta a taxa da glicemia dos últimos 3 meses, um parâmetro importante na condução do tratamento. Se o paciente estiver muito descompensado, pode ser que o medicamento oral não seja suficiente para equilibrar o quadro, então a insulina deve ser introduzida para depois ser feita a transição para a medicação oral”, esclarece o médico.
É importante ressaltar que esses relatos são decorrentes da rotina em consultório e essas estatísticas apontam que as mulheres apresentaram mais incidência, possivelmente, por serem mais ativas na procura por médicos do que os homens. “Geralmente, as mulheres vão ao médico assim que notam algo diferente no metabolismo, assim como fazem check-ups com mais frequência que os homens. É possível que esse aumento de casos de diabetes também esteja entre os homens, mas os registros são menores tanto nas consultas quanto nos exames realizados na clinica”, finaliza o especialista.
Sobre a Clinipae
A Clinipae – Centro Médico e Odontológico – está localizada em São João de Meriti (RJ), Baixada Fluminense, e faz parte do grupo Riopae, empresa de assistência familiar e plano funeral com 21 anos de atuação. Com serviços médicos de qualidade e preço acessível a todos, a Clinipae conta com mais de 16especialidades, além de realizar exames laboratoriais e de imagem. Atualmente, a clínica realiza, em média, 1700 atendimentos por mês para a população da Baixada Fluminense e Grande Rio.