Frederico Cursino
da Agência Einstein
Hábitos saudáveis na gravidez podem fazer com que as crianças tenham menor tendência à obesidade e ao diabetes. Um estudo da Universidade de Lund, na Suécia, mostrou que a prática de atividades físicas e a alimentação controlada durante a gestação teriam impacto direto na regulação do metabolismo dos embriões. As intervenções no estilo de vida podem inclusive influenciar no desenvolvimento da massa muscular dos filhos no futuro.
O estudo, publicado pela revista científica Diabetes, investigou se os genes das crianças eram programados de forma diferente se uma mulher grávida com IMC (Índice de Massa Corporal) acima de 30 – que é definido como obesidade – fosse submetida a hábitos mais saudáveis. Foram avaliadas 425 gestantes com esse perfil, que foram divididas aleatoriamente em três grupos.
O primeiro grupo teve uma intervenção no estilo de vida que incluiu atividades físicas e alimentação controlada. Essas participantes foram incentivadas a caminhar 11 mil passos por dia e mantiveram uma dieta mediterrânea de 1.200-1675 calorias diárias. No segundo, a intervenção envolveu apenas a parte física. O último – grupo de controle – manteve os seus hábitos normais.
Na segunda etapa, os pesquisadores examinaram o sangue do cordão umbilical de 208 bebês recém-nascidos. O objetivo foi ver se eles tiveram alterações epigenéticas [mudanças na atividade de gene que não envolvem alteração no DNA]. Essas alterações ocorrem, entre outras formas, por meio da “metilação”, em que as atividades dos genes próximos são alteradas por moléculas que se ligam ao DNA.
De acordo com as análises, essas alterações ocorreram em todas as crianças cujas mães faziam parte dos grupos de intervenção saudável. E boa parte dos genes alterados eram responsáveis por regular o metabolismo, o desenvolvimento do tecido adiposo e a liberação de insulina. Muito deles estão ligados ao diabetes tipo 2.
“Vimos que os bebês de mães em ambos os grupos de intervenção no estilo de vida, seja apenas com atividade física ou com adição de uma dieta saudável, apresentaram aumento da massa muscular ao nascer, em comparação com o grupo controle”, afirma a coordenadora do estudo Charlotte Ling, professora da Universidade de Lund.
Os pesquisadores também queriam saber se as mudanças afetavam o crescimento dos bebês. Por isso, as crianças envolvidas no estudo foram acompanhadas aos 9, 18 e 36 meses. Observaram-se várias alterações associadas ao IMC das crianças ao longo do tempo.
“Em nosso estudo, não podemos demonstrar uma causalidade direta, mas os resultados sugerem que a atividade física e uma dieta saudável durante a gravidez em mulheres com obesidade afetam a epigenética em bebês recém-nascidos e, provavelmente, também afetam a composição corporal e o crescimento das crianças mais tarde na vida”, acrescenta Charlotte.
A obstetra Kristina Renault, uma das colaboradoras do estudo, menciona uma outra análise realizada anteriormente, que mostrou que a atividade física – acompanhada ou não de uma dieta saudável – ajuda a reduzir significativamente o peso em gestantes com IMC acima de 30.
“A redução de peso neutraliza alguns dos riscos relacionados ao IMC elevado. O aparente aumento da massa muscular das crianças, assim como as alterações epigenéticas, sugere um efeito de programação potencialmente benéfico de um estilo de vida saudável”, afirma a especialista.