Mais de 40 anos após a descoberta do retrovírus, o governo federal coloca o HTLV na lista nacional de notificação compulsória de doenças

Em 2024, os serviços de saúde público e privado passaram a notificar, de forma compulsória, a incidência de um vírus em gestante e crianças no país. Embora descoberto na década de 80, o HTLV, que apresenta sintomas semelhantes ao HIV, passou a ser incluído na lista de notificações do governo para maior controle e medidas.
Por outro lado, o retrovírus ainda é desconhecido por uma boa parte da população. Muitos não fazem ideia do que a infecção pode causar, nem como ela é transmitida. Por conta disso, reunimos aqui as principais informações sobre a doença que afeta cerca entre 800 mil e 2,5 milhões de pessoas no Brasil, segundo o Ministério da Saúde. Confira!
O que é o HTLV e qual sua relação com o HIV?
O primo do HIV
No início da década de 1980, foi descoberto o primeiro retrovírus causador de infecções e de câncer descrito, o HTLV (ou Vírus T-Linfotrópico Humano). Ele pertence à mesma família do vírus da imunodeficiência humana (HIV) e atua de maneira semelhante, infectando as células T do organismo humano. Isso significa que possui a capacidade de imortalizar essas células do sistema imunológico, fazendo com elas percam a sua função de defender o organismo.
Por conta disso, a infecção acarreta várias síndromes. Esse vírus possui quatro subtipos o HTLV-1, o HTLV-2, o HTLV-3 e o HTLV-4. Contudo, é o HTLV-1, o subtipo que mais causa doenças associadas, portanto é considerado clinicamente mais relevante.

Como o HTLV é transmitido?
O HTLV-1 e o HTLV-2 são transmitidos principalmente por meio de três vias: de mãe para filho durante a amamentação, e, ocasionalmente, durante a gestação (forma vertical), relações sexuais desprotegidas com uma pessoa infectada, compartilhamento de seringas e agulhas e transfusões sanguíneas.
Uma característica distintiva da transmissão desse vírus é a necessidade de contato direto entre células, ocorrendo através de um processo denominado sinapse virológica. Nesse mecanismo, o vírus altera a fisiologia normal das células T para facilitar a infecção. A eficácia da infecção depende do tempo de exposição e da quantidade de células infectadas com as quais a pessoa teve contato.
HTVL: sintomas, diagnóstico e tratamento
Antes de mais nada, é preciso saber que, assim como o HIV, o vírus HTLV pode permanecer latente por muitos anos sem apresentar sinais. Dessa forma, os sintomas do HTLV podem ser imperceptíveis em muitas pessoas, que não apresentam manifestações visíveis ou problemas de saúde associados ao vírus. Por outro lado, em algumas situações, a infecção pode resultar no aparecimento de condições específicas.
Segundo o Ministério da Saúde, essas podem incluir: polilinfonodomegalia, hepatoesplenomegalia, envolvimento cutâneo, hipercalcemia, presença de células leucêmicas no sangue periférico e infecções oportunistas. Consequentemente, alguns pacientes podem apresentar: gânglios inchados, alterações na visão, fraqueza, dormência e formigamento nos membros e dor no corpo.

O diagnóstico da infecção é feito pela identificação de anticorpos específicos utilizando testes imunoenzimáticos (EIA), quimioluminescência e aglutinação de micropartículas de látex que foram sensibilizadas, focando nos componentes antigênicos das áreas do núcleo e do envelope do vírus.
O tratamento da infecção pelo HTLV, por sua vez, é orientado conforme a condição clínica relacionada ao vírus. Os pacientes com HTLV devem ser acompanhados nos serviços de saúde do SUS e, se necessário, encaminhados para serviços especializados para diagnóstico e tratamento precoce de doenças relacionadas.
O Ministério da Saúde também orienta que é importante que esses pacientes recebam suporte de uma equipe multidisciplinar, que inclui neurologistas, infectologistas, urologistas, dermatologistas, oftalmologistas, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, nutricionistas e psicólogos.
Quais os problemas de saúde que o HTLV pode causar?
Um fator muito importante sobre o HTLV é que, embora seja um retrovírus que infecta as células T do sistema imunológico assim como o HIV, o HTLV não leva à AIDS.
Por outro lado, pode causar a leucemia de células T humana do adulto (um tipo de câncer sanguíneo com conexão com o retrovírus), dermatites, paraparesia espástica tropical (afeta a medula espinhal), síndromes oftalmológicas e urológicas e HAM (doença neuroinflamatória crônica). Essa última se caracteriza por trazer aos pacientes: paraparesia espástica, incontinência urinária e distúrbios sensitivos.HTLV é transmissível?
Sim, o HTLV é transmissível. Sua transmissão pode acontecer através de: relações sexuais, compartilhamento de agulhas e aleitamento materno.HTLV pode matar?
O HTLV pode causar doenças graves como: leucemia/linfoma de células T do adulto (ATLL) e a mielopatia associada ao HTLV-1 (HAM). Tais condições podem ser fatais, contudo, apenas uma pequena proporção dos infectados desenvolve essas doenças
Prevenção ao HTLV
Segundo orientações do governo federal, é recomendado o uso de preservativos masculinos ou femininos, que estão disponíveis gratuitamente na rede pública de saúde, em todas as relações sexuais.
Além disso, é essencial evitar o compartilhamento de seringas, agulhas ou qualquer outro objeto cortante. Em relação à amamentação, esta está contraindicada; recomenda-se o uso de inibidores de lactação e fórmulas lácteas infantis. Especialistas também aconselham que exames laboratoriais de HTLV estejam inclusos na lista do pré-natal das gestantes.
As informações presentes neste texto têm caráter informativo e não substituem a orientação de profissionais de saúde. Consulte um médico ou especialista para avaliar o seu caso.
Fonte Olhar Digital