Aos 21 anos, após um evento traumático, a norte-americana April Burrell foi diagnosticada com uma forma grave de esquizofrenia e passou a viver em um estado catatônico — sem conseguir responder ou fazer qualquer coisa por conta própria. Depois de 20 anos, ela finalmente despertou, e seu caso tem potencial para mudar a forma como os especialistas enxergam essa condição.

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Antes desse episódio, April fazia faculdade, e foi descrita pela família como uma jovem comunicativa e extrovertida. Após sofrer o trauma, a paciente desenvolveu de repente a psicose, e acabou se perdendo em um estado constante de alucinações visuais e auditivas.

A família de April tentava de tudo para conseguir reaproximação e contato com a filha, que teve de ser internada em um hospital psiquiátrico em Long Island, a quatro horas de carro de Maryland, cidade onde morava. Enquanto isso, April permanecia presa em seu próprio mundo — tanto que, vez por outra, simulava desenhar com os dedos o que pareciam ser cálculos matemáticos. Em outros momentos, ela era flagrada conversando consigo mesma sobre transações financeiras. Paralelo a isso, a jovem não conseguia mais se relacionar com pessoas, muito menos as da família. Também não suportava ser tocada, abraçada ou beijada.

A paciente passou por muitos tratamentos à base de antipsicóticos, estabilizadores de humor e terapia eletroconvulsiva — todos sem sucesso. Anos depois, os médicos descobriram que, além do diagnóstico de esquizofrenia, a paciente também tinha lúpus, um distúrbio autoimune que pode atacar o cérebro.

Terapia que pode revolucionar o tratamento de esquizofrenia

Passados 20 anos, depois que o lúpus foi descoberto, a paciente passou por tratamentos direcionados, e apenas alguns meses depois, acordou. Esse despertar, juntamente com o tratamento bem-sucedido de outras pessoas com condições semelhantes, motivou os cientistas a começarem estudos voltados a entender a relação entre a esquizofrenia e as doenças autoimunes.

Pesquisadores dos EUA identificaram cerca de 200 pacientes com doenças autoimunes, alguns internados há anos, que podem ser ajudados pela descoberta. Em outras partes do mundo, como Alemanha e Reino Unido, cientistas conduzem pesquisas semelhantes, descobrindo que processos autoimunes e inflamatórios subjacentes podem ser mais comuns do que se acreditava antes.

O que é esquizofrenia

Segundo a definição da American Psychiatric Association, esquizofrenia é uma doença mental grave que afeta a forma como uma pessoa pensa, sente e se comporta. Os pacientes podem sentir que perderam o contato com a realidade.

É importante reconhecer os sintomas da esquizofrenia e procurar ajuda o quanto antes. O diagnóstico costuma surgir entre 16 e 30 anos, após o primeiro episódio de psicose.

A psicose se refere a um conjunto de sintomas caracterizados por uma perda de contato com a realidade devido a uma interrupção na maneira como o cérebro processa as informações. Quando alguém experimenta um episódio psicótico, os pensamentos e as percepções são perturbados e o indivíduo pode ter dificuldade em entender o que é real e o que não é.

Esquizofrenia pode levar a alucinações e delírios (Imagem: Anna Shvets/Envato)

Para algumas pessoas, esses sintomas vêm e vão. Para outros, torna-se estáveis ​​ao longo do tempo. Os sintomas psicóticos incluem:

• Alucinações (quando uma pessoa vê, ouve, sente o cheiro, o gosto ou o toque de coisas que não existem)

• Delírios (quando uma pessoa tem crenças fortes que não são verdadeiras e podem parecer irracionais para os outros)

• Distúrbios do pensamento (maneiras de pensar que são incomuns ou ilógicas)

• Distúrbio do movimento (quando uma pessoa exibe movimentos corporais anormais, repetindo certos movimentos indefinidamente)

As opções de tratamentos para esquizofrenia incluem medicamentos ou terapia cognitivo-comportamental. Diversos estudos também buscam entender como a esquizofrenia atinge o cérebro.

Fonte: The Washington Post, NHS, American Psychiatric Association

Por Nathan Vieira, Canaltech 

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Mulher com esquizofrenia “desperta” após 20 anos de alucinações. Nova terapia  pode revolucionar o tratamento