Depois de meses, desde o início a pandemia, quando o mundo foi obrigado a enfrentar uma quarentena sem precedentes na história humana, a sociedade se depara hoje com os efeitos negativos do isolamento social.
O impacto na saúde mental já é alarmante em todo o mundo e ainda precisamos muito falar sobre isso.

“Em primeiro lugar, precisamos entender que o ser humano é um ser gregário, que precisa estar em sociedade. Desde os primórdios da humanidade, para o homem sobreviver em um ambiente hostil, ele precisou se organizar em pequenos grupos e comunidades, levando ao nascimento das primeiras cidades. A conexão entre as pessoas é própria da natureza humana”, explica a neuropsiquiatra Gesika Amorim
Com o isolamento social surgiram novos problemas relacionados ao emocional, ocorrendo uma piora do quadro da saúde mental, com os atendimentos reduzidos ou interrompidos em 93% dos países do mundo. Segundo a pesquisa da OMS; nos países das Américas, houve uma interrupção de 100% em pelo menos algum serviço de atendimento à saúde mental.

Entre os problemas mentais mais específicos, a ansiedade e a depressão aumentaram consideravelmente, inclusive em pessoas que nunca apresentaram nenhum sintoma; Além da insônia e do aumento do consumo de álcool e drogas.

A ansiedade e a depressão tiveram seu aumento em boa parte causado pelo medo gerado através das mídias ao apresentar um panorama apocalíptico 24h por dia e também pela quebra de rotina e o afastamento do afeto presencial dos familiares, principalmente entre os idosos, considerados grupos de risco, e entre outros grupos sensíveis, como os autistas.

“Os idosos tornaram-se inativos, longe das atividades anteriormente prazerosas. Ficaram enclausurados, sem família, longe do afeto de filhos e netos e amedrontados frente a real possibilidade da morte bater em sua porta a qualquer instante. Imagine quase 10 meses nesse ritmo?”
Os autistas também sofreram as consequências, uma vez q perdeu-se completamente um dos fatores primários para o equilíbrio emocional desse grupo: a rotina. Sem a escola, as terapias, o convívio dos colegas, as visitas aos avós, os passeios de bicicleta, caminhadas e o clube por exemplo. tudo por um tempo muito prolongado, gerando uma nova realidade, cada vez mais difícil de ser aceita e uma multiplicação dos casos de ansiedade, pânico, depressão, fobias, entre outros transtornos”, explica Gesika Amorim que é também especialista em Tratamento Integral do Autismo e Neurodesenvolvimento.

“A saúde mental de grande parte da opulação em geral está sendo afetada de forma nociva; seja pelo medo da contaminação, pela quebra na economia e aumento do desemprego, ou mesmo pela falta de perspectiva no futuro” – completa a neuropsiquiatra.

O excesso de telas também prejudica os alunos, principalmente crianças e adolescentes, por causa das aulas on-line

Os níveis de casos de suicídio também aumentaram. Os dados quantitativos sobre as vítimas ainda são incertos, porém, mais de 35% dos países apresentaram interrupções nas intervenções de emergências, além daquelas pessoas que tiveram convulsões prolongadas ou síndromes de abstinência por uso de substâncias. Na Itália houve 71 casos de suicídio e 46 tentativas relacionadas aos efeitos da quarentena e do isolamento, e os serviços de saúde mental antes oferecidos nas redes de ensino, com o fechamento integral das escolas na maioria dos países; foram os mais afetados.

78% dos países relataram o impacto no atendimento a crianças e adolescentes, sendo que 7 em cada 10 países interromperam totalmente os serviços de saúde mental antes realizados nas escolas.
Para minimizar os impactos negativos do isolamento social, o atendimento remoto surgiu como alternativa para os países e regiões mais desenvolvidos. Se dentre os 80% dos países de renda alta foi oferecido a alternativa da telemedicina e da terapia online para atender a população, apenas 50% dos países de baixa renda implantaram essa alternativa.
No entanto, as alternativas on-line, como trabalho home-off, vem apresentando quadros preocupantes no que tange a saúde mental. A queixa dos pacientes por causa do excesso de reuniões por videoconferência vem aumentando. Psiquiatras vem percebendo e acompanhando essas queixas, no que passou a se chamar de “Fadiga do Zoom”, devido ao uso desse aplicativo, um dos mais usados para encontros on-line. Pacientes tem apresentado sintomas de ansiedade e fadiga, e isso tem adoecido as pessoas. A prescrição de medicamentos controlados aumentou 62%. As próprias empresas têm registrado um crescimento nos casos de doenças psiquiátricas entre seus funcionários.

O excesso de telas também está prejudicando profundamente os alunos, principalmente crianças e adolescentes, por causa das aulas on-line, e essa sobrecarga está afetando de forma nociva a saúde mental desses alunos.
Segundo Gésika, “esse problema se complica ainda mais quando se trata de alunos autistas que precisam ser disciplinados para não passarem muito tempo em frente as telas”.

Enquanto isso o Brasil segue entre os países com maior índice de pessoas que sofrem de ansiedade, cerca de 18,6 milhões de vítimas, além dos transtornos depressivos, que perdemos apenas para os EUA.

No Brasil a discrepância no acesso as classes, tornou ainda maior o abismo que existe entre os alunos. Obviamente o aluno que mora no grande centro conseguirá um rendimento e aprendizado muito mais eficiente que o nativo do interior do Amazonas. “No sertão nordestino como se dará esse acesso? Famílias que moram em comunidades com 4 ou 5 alunos e apenas um telefone? Quem assistira aula e quando? Todos esses fatores nos levam a questionar: Realmente existiu um “ano letivo”? Quem aprendeu e quanto? Como isso será avaliado?”.

O descaso com tratamento de saúde mental tornou-se ainda mais gritante, ao ser considerado também o pífio financiamento administrado por esses países: apenas 2% das verbas de saúde destinados à prevenção ou ao tratamento de distúrbios mentais, e menos de 1% de ajuda internacional.
Estudos apontam que 1 dólar gasto em tratamento de ansiedade e depressão, produz ao final um ganho de 5 dólares ao evitar ou amenizar as perdas de produtividade ou evitando os problemas mais graves, segundo a OMS. Porém, não parece ser essa a preocupação dos principais gestores.
“Neste momento, a maioria das pessoas estão saindo desta quarentena desesperançadas, machucadas, muitos desempregados, desestruturados, enlutados, enfim…a verdade é que nunca uma sociedade inteira esteve com a saúde mental tão abalada como estamos neste momento e por isso, agora, mais do que nunca, é importante que a qualquer sinal de esgotamento, tristeza persistente, ansiedade, sentimento de que você está só e que não vai dar conta, sensação de que vai explodir- Peça ajuda! Procure uma unidade de CAPS mais próxima a você ou o seu médico e ele saberá o que fazer. No mais, dentro do possível e não só neste momento, mas por toda sua vida: Exercite seu corpo, procure fazer uma atividade que lhe de prazer, faça meditação, preces, yoga ou algo que eleve seu espírito, que possa lhe dar paz, evite álcool e outras drogas, durma bem, treine sua mente, esteja próximo a pessoas queridas e vamos juntos aguardar e unidos, juntar nossos cacos para tratar essa sociedade adoecida”, finaliza a profissional.

Gesika Amorim é pediatra com ênfase em saúde mental e neurodesenvolvimento infantil. Neuropsiquiatra, pós graduada em psiquiatria, e neurologia clínica. É também referência no Tratamento de TEA- Transtorno do Espectro Autista com utilização de HDT – Homeopatia Detox – Tratamento Integral do Autismo e Medicina Integrativa. www.dragesikaamorim.com.br.

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Os efeitos colaterais da quarentena para a saúde mental