
Dando continuidade à campanha de conscientização sobre o câncer de mama, o Outubro Rosa Pet reforça que a prevenção e o diagnóstico precoce também são fundamentais para os animais de estimação. A iniciativa busca orientar tutores quanto aos principais sinais da doença, às formas de prevenção e aos cuidados necessários para garantir saúde e qualidade de vida aos pets.
O movimento evidencia que o câncer de mama não é uma preocupação restrita aos humanos, mas uma realidade igualmente presente entre cães e gatos.
Para aprofundar a discussão, a médica-veterinária, doutora em Clínica Médica com ênfase em Oncologia Veterinária, responsável pela implantação do Serviço de Clínica e Cirurgia Oncológica no Hospital Veterinário da UFU e docente da Universidade do Agro, Thaisa Reis dos Santos, compartilhou informações sobre diagnóstico e estratégias de prevenção do câncer de mama em pets.
O que é o Outubro Rosa Pet e por que essa campanha é importante para a saúde de cães e gatos?
Thaisa Reis: O Outubro Rosa Pet é uma campanha de prevenção ao câncer de mama em cadelas e gatas. A iniciativa é fundamental, já que essa é a neoplasia mais frequente em cadelas e pode levar ao óbito se não for tratada.
O câncer de mama em cadelas e gatas é comum? Quais são os principais fatores de risco?
Thaisa Reis: Sim. Os tumores de mama são bastante frequentes em cadelas e gatas. Nas cadelas, mais de 50% dos nódulos mamários são malignos, ou seja, câncer. Já nas gatas, esse índice ultrapassa 80%, o que reforça a importância da detecção precoce.
Os principais fatores de risco são: idade avançada, ausência de castração, uso de anticoncepcionais (“vacina para não criar”), obesidade e histórico familiar. Assim como ocorre em mulheres, se a mãe ou a avó tiveram câncer de mama, a chance de a descendente desenvolver a doença também aumenta.
Como os tutores podem identificar sinais ou alterações nas mamas dos animais?
Thaisa Reis: A recomendação é que os tutores realizem a palpação das mamas de seus pets. Durante o carinho na barriguinha, é possível perceber a presença de pequenos nódulos, muitas vezes localizados entre as mamas. Também devem ser investigados sinais como vermelhidão, secreção, feridas ou qualquer alteração no local. Nenhum desses achados é normal e precisa de avaliação veterinária.
A castração precoce realmente ajuda a prevenir o câncer de mama?
Thaisa Reis: Sim. A castração até antes do terceiro cio, ou seja, até 1 ano e meio de idade, reduz significativamente o risco de câncer de mama. Quando feita antes do primeiro cio, a chance cai para apenas 2%. Se realizada após o primeiro cio, ainda reduz em até 88%. Além de prevenir tumores mamários, a castração contribui para o controle populacional e evita doenças uterinas frequentes, como a piometra (infecção uterina).
Quais exames e acompanhamentos são recomendados para a detecção precoce?
Thaisa Reis: Assim como nas mulheres, a palpação mensal é uma prática essencial. Além disso, exames laboratoriais com marcadores sanguíneos já estão disponíveis no Brasil. O ideal é manter as consultas veterinárias anuais em dia, mesmo que o animal pareça saudável.
O ultrassom e a radiografia são suficientes para avaliar a doença?
Thaisa Reis: Sim, mas não são os únicos exames. O raio-X de tórax e o ultrassom abdominal são obrigatórios assim que os tumores são detectados, pois ajudam a identificar se a doença está localizada ou se já houve metástase. Em alguns casos, a tomografia também pode ser indicada, sendo ainda mais sensível para detectar nódulos pequenos em órgãos como pulmão, fígado e baço.
Qual é o tratamento mais indicado? Sempre envolve cirurgia?
Thaisa Reis: O tratamento de escolha é a cirurgia (mastectomia). Caso a fêmea não seja castrada, a recomendação é realizar a castração no mesmo procedimento, já que o risco de recidiva é maior em animais não castrados. Todo material removido, incluindo linfonodos, deve ser encaminhado para análise histopatológica, conhecida como biópsia.
Em quais casos a quimioterapia é necessária?
Thaisa Reis: Nem todos os tumores exigem quimioterapia. Em alguns, a cirurgia pode ser suficiente. Essa definição só é possível a partir do resultado da biópsia, que confirma se o tumor é benigno ou maligno. Por isso, é fundamental nunca desprezar qualquer nódulo, mesmo que pareça pequeno ou inofensivo.
O câncer de mama em animais tem cura?
Thaisa Reis: Sim, pode ter. O prognóstico depende do tipo histológico do tumor, do tamanho da lesão e da presença ou não de metástases. Exames de imagem são indispensáveis para definir o estágio da doença e orientar o melhor tratamento.

“Os tumores de mama são bastante frequentes em cadelas e gatas. Nas cadelas, mais de 50% dos nódulos mamários são malignos, ou seja, câncer. Já nas gatas, esse índice ultrapassa 80%”, diz a especialista Thaisa Reis dos Santos