Como o estresse e a tensão se relacionam com o aumento de fraturas dentárias?

Durante os últimos meses, nos quais enfrentamos a pandemia da Covid-19, constatou-se em consultórios odontológicos um aumento significativo de casos de fraturas dentárias, tanto de dentes naturais como também de restaurações e próteses, tanto sobre dentes como sobre implantes. O assunto foi inclusive tema de matéria publicada em 08 de setembro no jornal norte-americano “The New York Times”, onde se relata que cirurgiões dentistas norte-americanos também perceberam esse aumento no período de pandemia.
Mas por que isso acontece? A hipótese é que os casos estejam relacionados ao estresse gerado pelo momento atual e pela incerteza que vivemos.
Muitas pessoas perderam seus empregos ou enfrentam problemas financeiros, têm medo de contrair a doença ou temem por seus familiares. Isso gera uma grande tensão, que muitas vezes é direcionada para a dentição através da ação de ranger ou apertar os dentes, chamada de bruxismo (o termo vem de uma expressão grega “brýkhmós”, que significa ranger os dentes).
Segundo o cirurgião dentista Wilson Spínola Muniz, o contato considerado normal entre os dentes é o que promovemos durante a mastigação do alimento e, ainda assim, são toques intermitentes com o alimento interposto entre os dentes. Já no bruxismo, o que ocorre é a pessoa encostar e apertar seus dentes, fazendo ou não movimentos laterais com a mandíbula, gerando uma carga extremamente superior do que a da mastigação e por um período muito mais prolongado.

TIPOS DE BRUXISMO
O bruxismo pode ser tanto noturno (durante o sono) como em vigília, sendo que neste caso a pessoa aperta os dentes durante o dia, mas de forma inconsciente. Tanto o apertamento, que é o ato de manter os dentes encostados e apertados, e o ranger dos dentes, que é quando são realizados movimentos laterais ou frontais com a mandíbula, fazendo com que os dentes se raspem, são responsáveis por fraturas e grandes desgastes dentários.
E isso pode ser ocasionado devido a fatores emocionais surgidos ou agravados com a pandemia. Além disso, fatores locais e fatores sistêmicos, como o consumo de bebida alcóolica em excesso, pessoas que fazem uso de medicamentos como inibidores de apetite, ou que tenham problemas neurológicos, como epilepsia, fatores ocupacionais como profissões estressantes, estudantes sob pressão do vestibular ou dos pais e professores, entre outros, são fatores que levam ao bruxismo e consequentemente à sobrecarrega na dentição.

CONSEQUÊNCIAS
De acordo com o cirurgião buco-maxilo-facial Cláudio Maldonado Pastori, além das fraturas dentárias, outra consequência relacionada ao bruxismo e apertamento dental são as dores musculares desencadeadas, bem como dores de cabeça. Além disso, com o passar do tempo, o bruxismo sem tratamento pode resultar em perda óssea e consequente mobilidade dentária, causando alterações na estabilidade e no posicionamento dos dentes.
Os pacientes com bruxismo de forma crônica geralmente têm ainda hipertrofia da musculatura da face, com uma musculatura mais desenvolvida e até mesmo dolorida devido à força muscular anormal exercida durante o ato. Cláudio afirma que muitas vezes quando o paciente chega ao consultório refere incômodo durante o exame clínico na palpação dos músculos da face. Essa forte atividade muscular exercida de forma contínua por períodos que não estejam relacionados à mastigação, também pode gerar dor na região da articulação temporomandibular (ATM), a qual está interligada a esta musculatura. Neste caso, se a pessoa já possui algum problema articular em andamento, com o bruxismo a tendência é ocorrer o agravamento dessa situação.

TRATAMENTO
Se ao acordar a pessoa percebe a musculatura da face tensa e/ou dores de cabeça, ou até mesmo ao longo do dia surgem dores de cabeça de maneira recorrente, ou dentes/restaurações estão quebrando ou se soltando com frequência, é importante procurar um profissional capacitado para verificar qual a melhor conduta a ser tomada antes que problemas mais graves aconteçam.
Uma vez que sabemos ser uma condição principalmente psicológica, o tratamento pode ter várias frentes e dependerá de cada caso em particular. O profissional será capaz de avaliar cada caso, verificar se há bruxismo de fato, se ele é em vigília ou noturno e qual o grau de comprometimento dos dentes, musculatura, articulações e ósseo, sendo que somente o profissional poderá prescrever uma terapêutica adequada para ajudar a pessoa a proteger sua dentição, oferecer alívio para a musculatura e alívio articular.
Wilson cita que existem várias modalidades de tratamento, tais como: uso de placas, tratamento fisioterápico, acompanhamento psicológico, acupuntura, entre outros. Uma placa de uso noturno, planejada de forma personalizada de acordo com a anatomia dos dentes de cada indivíduo, pode proteger os dentes e evitar problemas futuros que são de mais difícil resolução e também mais onerosos ao paciente. Seja qual for o caso, fundamental é sempre procurar um profissional capacitado para traçar a melhor resolução para o problema.

O cirurgião dentista Wilson Spinola Muniz (CRO-SP 67855) é especialista em Prótese Dentária, pós-graduado em Prótese Sobre Implantes, Periodontia e Cirurgia Plástica Periodontal. Formado em Odontologia pela Universidade de Marília (UNIMAR) – 1999.
O cirurgião buco-maxilo-facial Cláudio Maldonado Pastori (CRO-SP 36750) é membro titular do Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial, membro do Conselho Mexicano Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial e membro do corpo clínico da Santa Casa de Misericórdia de Marília e Hospital Universitário Unimar, com mais de 80 trabalhos publicados em revistas especializadas nacionais e internacionais (Lattes completo: goo.gl/r2Aswn).
O IROM – Instituto de Reabilitação Oral e Maxilofacial – fica na Rua 15 de Novembro, 1058. Os telefones para contato são (14) 3422-5944 e (14) 99778-8288 (WhatsApp). Acesse: www.clinicairom.com

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Pandemia e saúde bucal