Por Fidel Forato | Editado por Luciana Zaramela
A poluição do ar é normalmente associada a fatores externos, como os gases poluentes liberados por automóveis e indústrias. No entanto, a poluição interna, desencadeada por atividades domésticas, pode ser igualmente perigosa à saúde, já que é capaz também de danificar o DNA. Entre as tarefas nocivas, está o uso de velas, de produtos de limpeza, do fogão e do forno na cozinha.
Em estudo publicado na revista científica Particle and Fibre Toxicology, pesquisadores da Dinamarca e da Suécia demonstram quais são os riscos dos poluentes produzidos dentro de casa. Para isso, mediram os seus efeitos em pessoas com asma leve — quem não precisa recorrer a muita medicação no tratamento.
Segundo os autores, os poluentes de origem interna, como poeira, produtos químicos e material particulado (PM), impactam a saúde dos indivíduos. No entanto, são pouco estudados e compreendidos, o que só agora começa a mudar.
Riscos da poluição interna
Liderado pela cientista dinamarquesa Karin Rosenkilde Laursen, o estudo avaliou o impacto da poluição interna em 36 pessoas com asma leve, que não fumam. Parte dos voluntários ficou cinco horas em uma câmara fechada, respirando ar limpo e filtrado, como controle. Enquanto isso, os outros recrutados permaneceram esse mesmo tempo inalando o ar retirado de uma cozinha, com forno ligado e velas queimando.
As análises indicam que as atividades da cozinha liberam material particulado, incluindo as partículas finas — um tipo de poluente bastante comum —, e produtos químicos. Ambos aumentam o nível de proteínas associadas à inflamação das vias respiratórias.
Além disso, Laursen afirma que é possível observar danos ao DNA nas pessoas expostas aos poluentes liberados pela cozinha. No entanto, ela faz uma observação importante, para a BBC, “não é que tenhamos observado casos de câncer ou mesmo pré-estágios do câncer” nesses indivíduos.
Na verdade, “observamos danos ao DNA, que podem em algum momento, no longo prazo, levar a mutações que desencadeiam o câncer”, explica Laursen. Então, inalar esses poluentes se enquadraria em uma atividade potencialmente de risco.
O fogão a gás
Neste estudo, os pesquisadores não analisaram o risco das partículas liberadas pelo fogão a gás. No entanto, pesquisas anteriores já observaram que elas impactam negativamente a saúde de um indivíduo. Entre os produtos químicos mais tóxicos liberados, está o benzeno — reconhecidamente conhecido como cancerígeno. Por isso, sempre que possível, o ideal é optar por fogões elétricos.
Como reduzir os riscos?
Para evitar os poluentes internos, especialmente na hora de cozinhar, é importante manter a circulação de ar dentro do ambiente. Por exemplo, vale manter as janelas abertas ou usar exaustores, que “sugam” as partículas nocivas e impedem a inalação por parte de quem cozinha.
No caso de velas e também de incensos, além de moderar o uso, vale acendê-los apenas com as janelas abertas. Agora, em relação aos produtos de limpeza mais fortes, como a água sanitária, o ideal é usar com janelas abertas e, dependendo do caso, com máscaras. Aliás, vale respeitar a recomendação dos fabricantes de água sanitária para não misturar o produto em outros químicos, uma vez que a reação pode liberar gases tóxicos à saúde.
Vale lembrar que, quando se analisa a poluição externa, a Agência Europeia do Ambiente (AEA) estima que pelo menos 10% dos casos de câncer no continente europeu estão relacionados com os poluentes. Estas porcentagem pode ser ainda maior, se analisados os poluentes liberados dentro de casa, em atividades rotineiras.
Fonte: Particle and Fibre Toxicology e BBC