O estado de Santa Catarina é o recordista em casos da febre maculosa neste ano, segundo informações do Ministério da Saúde. Por lá, 17 casos da doença do carrapato foram registrados desde de janeiro, mas o que chama a atenção é o fato de nenhuma morte ter sido oficialmente confirmada. Embora pouco conhecida, existe uma explicação natural para a baixíssima taxa de letalidade da doença na região.
A explicação para Santa Catarina não ter nenhum caso de morte relacionado com a infecção transmitida pelo carrapato-estrela, mesmo sendo recordista de casos, é o tipo de bactéria que circula na região, a Rickettsia parkeri. Segundo as autoridades locais, o agente infeccioso da febre maculosa é menos agressivo que o que está atualmente em circulação no Sudeste, onde a cidade de Campinas enfrenta um surto com quatro mortes oficialmente confirmadas.
Febre maculosa em Santa Catarina e São Paulo
Nos últimos 17 anos — de janeiro de 2007 até o começo de junho de 2023 —, o estado de Santa Catarina confirmou oficialmente 579 casos de febre maculosa, o que dá uma média de 34 diagnósticos por ano. Apesar da alta incidência, a letalidade foi zero no período mencionado. Isso mesmo: nenhum óbito foi confirmado.
Olhando para os dados preliminares deste ano, já são 17 casos de doença do carrapato. Este é o maior número de confirmações vindo de um único estado brasiliero. Só que, novamente, nenhum caso evoluiu para o óbito.
Por outro lado, é preciso comparar com a realidade do estado de São Paulo. No mesmo período de 17 anos, foram registrados 1.064 casos, equivalente a uma média de 62 por ano. No total, foram 574 mortes (ou 33,7 por ano). Neste ano, foram apenas 7 casos, mas já são 4 mortes.
Por que a doença do carrapato não é letal em Santa Catarina?
Para entender a distância tão grande entre os dados, vale explicar que a febre maculosa é causada por uma bactéria da família Rickettsia, transmitida pelo carrapato-estrela contaminado. Só que, no Brasil, existem dois tipos dessa bactéria em circulação, com distribuições geográficas diferentes:
• Rickettsia rickettsii: esta é conhecida como a verdadeira responsável pelo quadro de Febre Maculosa Brasileira (FMB). Quando infectada, a pessoa tende a ter a doença de forma bastante grave e até letal, implicando até em sintomas neurológicos. A sua circulação é mais comum no norte do Paraná e nos estados da Região Sudeste, como São paulo e Minas Gerais;
• Rickettsia parkeri: é encontrada em alguns ambientes de Mata Atlântica, como regiões do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Bahia e Ceará. Normalmente, produz quadros clínicos menos graves da doença do carrapato.
Em nota, a Diretoria de Vigilância Epidemiológica de Santa Catarina (DIVE/SC) destacou o fato dos casos de febre maculosa serem causados pelo tipo menos agressivo da bactéria. “É importante destacar que Santa Catarina não tem registro de óbitos por febre maculosa, justamente porque a bactéria encontrada no estado é a que produz quadros menos graves”, afirma Ivânia Folster, gerente de zoonoses da DIVE.
Medidas de proteção contra a doença do carrapato
Mesmo assim, a doença do carrapato pode causar complicações e os moradores da região devem adotar medidas de proteção, além de estarem atentos aos sintomas e aos possíveis casos de picada do carrapato-estrela. Entre as medidas, a entidade recomenda usar roupas claras em ambientes propícios, como campos. Além disso, é importante vestir calças, botas e blusas com mangas compridas ao caminhar em áreas arborizadas e gramadas.
Após qualquer expedição pelas áreas de risco, é fundamental que a pessoa faça o autoexame para verificar (ou não) a existência de algum carrapato escondido no corpo. O mesmo deve ser feito com animais domésticos, como cachorros. Em caso de identificação, o carrapato nunca deve ser esmagado, mas removido com uma pinça. Em seguida, é preciso lavar a área da mordida com álcool ou sabão e água. Sempre que necessário, é preciso buscar ajuda médica.
Fonte: Governo de Santa Catarina e Ministério da Saúde (1) e (2)
Por Fidel Forato Canaltech