*Frederico Cursino, da Agência Einstein
As pneumonias causadas pela Covid-19 têm um comportamento diferente das inflamações dos pulmões mais comuns, causadas principalmente por bactérias ou outros vírus, como a Influenza. Enquanto estas últimas podem se espalhar rapidamente por grandes regiões do pulmão, as inflamações resultantes do novo coronavírus acontecem em áreas menores, porém, em maior número. Elas ainda permanecem no órgão por muito mais tempo, o que seria a principal razão para a sua gravidade.
A descoberta foi publicada em novo artigo da revista Nature. Nela, os pesquisadores da Universidade Northwestern, nos Estados Unidos, constataram que o Sars-CoV-2, ao se instalar nos pulmões, sequestra as próprias células imunológicas do órgão, e depois as usa para se espalhar durante muitos dias, ou até semanas.
Os autores do estudo afirmam que esta seria uma verdadeira “ida à Lua” em relação às pesquisas relacionadas ao novo coronavírus. Com essas informações em mãos, a equipe norte-americana irá testar agora medicamentos que possam amenizar a resposta inflamatória das células do sistema imunológico, permitindo, assim, o início do processo de reparo no pulmão lesado. “Nosso objetivo é tornar a Covid-19 algo comparável a um forte resfriado”, afirma o chefe de medicina pulmonar da Universidade Northwestern, Scott Budinger, que assina o artigo.
Budinger e sua equipe partem de um princípio pessimista de que o novo coronavírus encontrará meios de “escapar” da imunização das vacinas, e permanecerá por um longo tempo entre nós, graças às mutações. “Este estudo nos ajudará a desenvolver tratamentos para reduzir a gravidade da doença que o vírus desenvolve”, explica Ben Singer, professor assistente de medicina pulmonar Northwestern.
No mesmo estudo, os pesquisadores norte-americanos revelam também por que a mortalidade entre os pacientes da Covid-19 com uso de ventilação foi menor do que entre aqueles que usaram o aparelho devido a uma pneumonia regular. Segundo os autores, pessoas com pneumonia causada pelo novo coronavírus possuem uma inflamação menos grave, apesar de durar um tempo maior.
“Se os pacientes com Covid-19 forem administrados com cuidado e os sistemas de saúde não estiverem sobrecarregados, você pode fazer com que eles superem isso. Esses pacientes estão muito doentes, leva muito tempo para eles melhorarem, mas, se você tiver leitos e profissionais de saúde suficientes, pode manter a mortalidade em 20%. Já quando os sistemas de saúde estão sobrecarregados, as taxas de mortalidade dobram para 40%”, salienta Budinger.
A pesquisa da Universidade Northwestern foi realizada por meio de análise de alta resolução do fluido pulmonar de 86 pacientes da Covid-19 que usavam ventilação. Em seguida, os dados foram comparados com os de outros 256 pacientes também com respiradores mecânicos, mas com outros tipos de pneumonia. O estudo foi o primeiro a comparar as células imunológicas de pulmões infectados pelo novo coronavírus e por outros agentes.