Por Alexandre Raith, da Agência Einstein
O corpo sabe lidar com o estresse do dia a dia, mas isso não significa que ele passe ileso. Dependendo da intensidade da situação que gera a tensão e da demora para voltar ao normal, a pessoa pode desenvolver problemas a curto e a longo prazo.
A morte de um familiar, uma traição ou divórcio são situações destacadas pela Associação Americana do Coração (AHA, na sigla em inglês) devido ao risco de desenvolver a síndrome do coração partido. Chamada também de cardiomiopatia induzida pelo estresse, ou de Takotsubo, a condição gera um aumento no tamanho do coração, prejudicando seu funcionamento. Os sintomas se assemelham a um ataque cardíaco e o tratamento mistura medicamentos com acompanhamento psicológico.
Mesmo fatores estressores de menor intensidade causam problemas, embora com efeitos no futuro. Se o organismo não for capaz de voltar ao estado de normalidade e passar a conviver com níveis alterados dos hormônios cortisol e adrenalina, pode favorecer algumas condições, segundo Carla Rosana Guilherme Silva, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica – Regional São Paulo. Dentre elas:
• Aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial;
• Alterações hormonais que podem piorar o desempenho cognitivo e imunológico, causando maior risco para infecções, descontrole glicêmico e obesidade;
• Alteração da memória e da psicomotricidade;
• Síndromes funcionais do sistema gastrointestinal, alteração da microbiota intestinal e motilidade visceral;
• Ansiedade
Como o corpo reage?
Diante de uma situação em que o organismo se sente atacado, a resposta do corpo pode ser “ficar e lutar” ou “fugir”. Seja qual for a decisão, as glândulas suprarrenais produzem os hormônios adrenalina, noradrenalina e cortisol, que vão alertar todos os sistemas.
A adrenalina, por exemplo, aumenta o ritmo cardíaco e a pressão sanguínea para garantir que o sangue chegue aos músculos, caso seja preciso correr.
Se a pessoa convive com muitas situações que geram estresse, mas que não exigem uma “luta ou fuga” real, esses hormônios vão ser produzidos de forma desnecessária e se manter na corrente sanguínea. Para controlá-los, algumas medidas podem ser adotadas, de acordo com dados da AHA:
• Fazer exercícios físicos de forma regular;
• Manter amizades e conversar sobre preocupações e sentimentos;
• Ter momentos de descanso, com atividades que tragam felicidade, como hobbies;
• Limitar o consumo de notícias;
• Dormir bem;
• Procurar ajuda médica e psicológica.
Saúde emocional
Pesquisa realizada em 2019 com 1 mil profissionais das áreas de educação, finanças e saúde de São Paulo e Porto Alegre constatou que o estresse havia causado a ansiedade em 89% dos entrevistados, além de angústia (85%) e culpa (74%).
“Quando apresentamos sintomas físicos e emocionais, automaticamente temos alguma reação comportamental. Pela pesquisa, 59% usavam medicamento, seja devidamente prescrito ou não; 56% consumiam bebida alcóolica ou droga, devido ao nível de desconforto; e 38% reagiam comendo petiscos condimentados”, explica Ana Maria Rossi, doutora em Psicologia Clínica e presidente da unidade brasileira da International Stress Management Association (Isma-BR), que conduziu o estudo. Os resultados ainda não foram publicados em periódicos científicos.