Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein
Apesar das campanhas e das informações dadas por pediatras, quase metade dos pais ainda deixa de adotar as práticas recomendadas para o sono seguro dos bebês. O dado é de uma pesquisa recém-concluída que avaliou o nível de conhecimento dos cuidadores sobre as diretrizes em relação à prevenção da síndrome da morte súbita infantil, feita na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS).
Os autores colheram informações de 642 questionários enviados para pais de crianças com até um ano de idade de todas as regiões do país. As respostas mostram que quase 60% receberam orientações do pediatra sobre a melhor postura para dormir (de barriga para cima) e que 50,6% dos pais acham que essa é a posição mais segura. No entanto, pouco mais de 44% dos pais ainda deitavam os bebês de lado ao adormecer, o que é mais arriscado.
O levantamento mostra ainda que 54,2% colocavam o bercinho ao lado da cama dos pais e apenas metade dos entrevistados sabia das medidas preventivas sobre morte súbita. Menos da metade (47,3%) conhecia a campanha “Dormir de Barriga para Cima”, lançada em 2009, pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
Segundo os autores, embora a amostra tenha sido formada majoritariamente por mães com alto nível educacional, de classe média e que frequentam clínicas privadas, ainda falta informação sobre prevenção da morte súbita infantil. Um estudo anterior dos mesmos pesquisadores, feito após o lançamento da campanha da SBP, mostrou um aumento da adesão às medidas entre os pediatras.
“Os estudos mostram que, na realidade, ainda existem pediatras que não aderiram a estas recomendações e também pais que, apesar de alertados sobre ‘sono seguro’, optam por não seguir essas práticas”, diz Magda Lahorgue Nunes, presidente do Departamento Científico de Neurologia da SBP, neurologista infantil com certificado de atuação em Medicina do Sono e coordenadora do estudo.
Diretrizes atualizadas
Apesar de uma forte redução das mortes súbitas a partir das campanhas feitas nos anos 2000 em vários países, em 2019 houve cerca de 3.400 casos nos Estados Unidos. Ainda não há dados atualizados sobre a prevalência no Brasil.
As recomendações da Sociedade Brasileira de Pediatria estão alinhadas com as da Academia Americana de Pediatria. Em julho de 2022, o órgão atualizou suas diretrizes com orientações para o primeiro ano de vida do bebê e, entre as recomendações está dormir nos primeiros meses de vida no mesmo quarto dos pais, mas em uma cama separada.
O hábito de compartilhar a cama com outra pessoa tem sido reportado como um fator de risco para morte súbita há vários anos, segundo a especialista. “Essa prática aumenta o risco de morte pois a criança pode escorregar para baixo das cobertas ou pode ser sufocada pelo adulto”, esclarece Lahorgue Nunes.
Nos casos de usuários de álcool, drogas ou medicações o risco é ainda maior. Por outro lado, compartilhar o quarto, mas não a cama, é um fator de proteção pois, além de deixar a mãe mais próxima do bebê, também facilita e estimula o aleitamento materno.
Confira aqui algumas das principais diretrizes para um sono seguro, de acordo com a Academia Americana de Pediatria (2022)
• Sempre colocar a criança para dormir de barriga para cima – mesmo que seja para uma simples soneca.
• O bebê deve dormir no berço, em uma superfície firme e não inclinada. Não colocar sobre almofadas, colchões fofos, sofás etc.
• O berço deve estar livre de objetos macios como travesseiros, brinquedos, pelúcias, almofadas, edredons, colchas e lençóis soltos.
• Alimentar o bebê com leite materno.
• Pelo menos nos seis primeiros meses, o ideal é o bebê dormir no mesmo quarto dos pais, mas não na mesma cama
• Evitar sobreaquecer ou cobrir a cabeça da criança durante o sono.
• Evitar a exposição a fumaça e nicotina durante gravidez e puerpério, bem como ao álcool e outras drogas.
• Colocar o bebê de barriga para baixo em alguns períodos do dia, quando estiver acordado, e sempre sob supervisão. Essa postura é importante para o neurodesenvolvimento e amadurecimento do sistema motor, pois estimula o controle cervical e da cabeça, evitando o risco de plagiocefalia – alterações no formato do crânio por ficar excessivamente de costas. Isso deve ser feito desde o nascimento, aumentando o tempo gradativamente até chegar a um total de 15 a 30 minutos diários.
• Os bebês que usam chupeta têm menos risco de morte súbita. Mesmo sendo um objeto polêmico, ela é um fator protetor pois estimula um movimento da fase do sono REM e pode proteger contra as apneias. No entanto, o uso é indicado apenas após as práticas de aleitamento estarem bem estabelecidas.